Folha de S. Paulo


Pacientes com psoríase enfrentam olhares e conselhos de estranhos

A maioria dos pacientes com psoríase sente vergonha de expor as marcas de sua enfermidade, mas o fotógrafo Niels Andreas, 69, de São Paulo, é um ponto fora da curva.

"Tenho há décadas e não escondo. O problema não é meu, é de quem olha, porque não coça e não é contagioso. Ninguém morre disso, mas vai morrer com isso", afirma.

Ele só se incomoda com os conselhos que não pede, mas que vive recebendo. "Já fui abordado na rua por um senhor que me sugeriu usar gordura de cobra. Até me mandou um pote pelo correio, mas tinha um cheiro insuportável, nem experimentei."

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O que ele experimentou e deu certo foi se expor ao sol. "Para mim, o que melhora é ir à praia. Tem uma teoria de que o estresse piora as feridas, mas eu não percebo uma relação direta -vai ver que é por eu estar sempre estressado", brinca o fotógrafo.

Já a bibliotecária paulista Raquel Gerulis, 57, é testemunha de uma ligação entre estado de espírito e a manifestação da doença. Ela afirma que sua psoríase surgiu quando levou uma surra do pai, aos 14, por ter tirado "apenas" 8,5 numa prova de matemática.

Na época, as lesões só surgiram no couro cabeludo, conta. Mas aos 34, logo após se separar do marido, a bibliotecária viu as lesões se espalharem pelo corpo todo. Passou a usar calças e saias compridas, blusas com mangas.

"Achava que olhavam e tinham nojo. Talvez fosse mais o meu preconceito, mas nem me aproximava dos outros para não ter que explicar."

Tentou várias receitas. "Nem sei quantas noites dormi com o corpo coberto de lama de Peruíbe, de supostas propriedades terapêuticas."

Como Andreas, Gerulis descobriu que a luz solar faz bem. Sempre que pode, toma sol cercada de cuidados: passa filtro, porque seu filho e seu pai já tiveram melanoma, e evita ser vista por estranhos. "Tomo sol na chácara, só meus cachorros me veem."


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