Folha de S. Paulo


Eleição e cursos de especialização pode pôr maus gestores nas redes de ensino

O ensino genérico de gestão escolar em cursos de especialização e a predominância do sistema de eleição para a nomeação de diretores têm colocado maus gestores à frente das redes de ensino.

"Quando escolho diretores via eleição, não necessariamente elejo alguém que está apto a gerenciar", afirmou Guiomar Namo de Mello, membro do Conselho Estadual de Educação de São Paulo, frisando que poucos municípios brasileiros têm plano de carreira ou processo seletivo para diretores. "Tem que passar por um processo de avaliação."

A ausência dessas condições seria um dos fatores que reduzem a oferta de gestores com características desejáveis para a função. "No meu entender, um gestor tem que ir além do burocrático e não se ater a preencher papel.

Ele tem que criar um ambiente de aprendizagem para todos e apoiar de diferentes formas o trabalho pedagógico na escola. Não é o que vemos hoje", afirmou Bernadete Gatti.

Presidente do Conselho Estadual de Educação de São Paulo, Gatti defendeu a revisão da legislação de modo a institucionalizar uma política nacional de formação de gestores.

Nesse sentido, Silvia Donnini, diretora de formação e desenvolvimento dos profissionais da educação básica do MEC, chamou atenção para a alta rotatividade de gestores nos municípios. Segundo a Udime (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação), em 2017, houve uma mudança de 80% das equipes e secretarias onde novos prefeitos assumiram.

"As gestões de hoje também se modificam nas escolas. O necessário é que elas estejam acima dessas questões político-partidárias. A escola não para, as crianças estão lá todos os dias", afirmou.

Silvia Donnini apresentou cursos e aperfeiçoamento para gestores oferecidos pelo MEC, como Pradime, Pro-Conselho, Programa de Conselhos Escolares e Escola de Gestores, que entre 2014 e 2015 tiveram mais de 15 mil inscritos. Segundo dados que apresentou, 75% desses inscritos avaliaram os cursos como "ótimo" e 25% como "bom".

Bernadete Gatti, no entanto, desqualificou os programas oferecidos ministério. "São todos bem intencionados, mas não acho que gerem algum impacto nas gestões."

Ela atribui sua avaliação negativa ao fato desses cursos de especialização, tal como programas de mestrado oferecidos no país, trazerem abordagens generalistas e não se voltarem para demandar específicas de cada região de ensino.

"Essa formação em escala tem que respeitar o processo construtivo do diretor e do professor. Não raro a gente vê gestores falando que eles se sentem perdendo tempo com essas formações", concordou Guiomar Namo de Mello.


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