Folha de S. Paulo


Favela do Moinho, única do centro, vive sob ameaça da prefeitura

Lalo de Almeida/Folhapress
Vista da favela do Moinho, a última favela do centro de São Paulo
Vista da favela do Moinho, a última favela do centro de São Paulo

Única favela ainda existente na região central de São Paulo, a comunidade do Moinho vive há anos sob constante ameaça de remoção por parte da prefeitura.

Apertada entre dois ramais da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), no bairro dos Campos Elíseos, a ocupação surgiu no início dos anos 1990.

Seu nome vem do antigo Moinho Fluminense, que ali funcionava.

Como outras gestões municipais, a atual pretende transferir as cerca de 500 famílias que vivem no local para três terrenos, também na região central da cidade.

CRACOLÂNDIA

No início de sua administração, após a polícia apontar a comunidade como a principal fornecedora de drogas para a Cracolândia, o prefeito João Doria (PSDB) anunciou que pretende remover a favela do local.

Procurada pela reportagem, a prefeitura respondeu, em nota conjunta da Sehab (Secretaria Municipal de Habitação) e da Cohab-SP, que desenvolve estudos para a solução dos problemas habitacionais da favela.

"Em fase ainda embrionária de projeto, os técnicos atuam na identificação das melhores alternativas para os moradores do local. Esse trabalho é feito em sintonia com os demais órgãos públicos envolvidos na questão e será apresentado à sociedade assim que existirem propostas concretas", afirma a nota.

Essa não é a primeira vez que uma administração municipal promete uma solução para a favela.

As gestões de Gilberto Kassab (2006-2012) e de Fernando Haddad (2013-2016) fizeram promessas de urbanizar o local, com energia elétrica e água encanada, e até de remover os moradores para conjuntos habitacionais. Mas nada saiu do papel.

DISPUTA JUDICIAL

Há, porém, um entrave. O terreno onde a comunidade está pertence a duas empresas, que compraram a área em um leilão após o antigo dono, a RFFSA (Rede Ferroviária Federal), não quitar dívidas de IPTU.

Em 2008, os moradores, com assessoria jurídica gratuita do Escritório Modelo, mantido pela PUC-SP, entraram com uma ação coletiva de usucapião e obtiveram uma decisão provisória favorável.

A Justiça Federal concedeu a posse do terreno para a comunidade até o julgamento final do processo, que ainda não tem data para ocorrer.

Jaquisson Soares Bispo, 28, o rapper Ducorre, morou 15 anos no Moinho, onde ainda estão seus dois filhos. "Hoje não vivo mais lá, mas vou todos os dias, por causa dos meninos, dos amigos e dos parentes que tenho", diz.

No período em que viveu na favela, a casa onde morou foi destruída duas vezes por incêndios que, segundo moradores, foram provocados como forma de forçar sua saída de lá.


Endereço da página:

Links no texto: