Folha de S. Paulo


Perfil de moradia e leis engessadas dificultam revitalização do centro

Mesa 2

Na década de 1980, o centro de São Paulo tinha cerca de 500 mil moradores. No início dos anos 2000, caiu para cerca de 370 mil. Uma onda influenciada pelo aumento de preços em outras regiões atraiu gente nova e hoje esse número está próximo de 430 mil habitantes.

O perfil de moradia, porém, ainda é muito restrito, afirma Claudio Bernardes, presidente do conselho consultivo do Secovi-SP e colunista da Folha: dos 3.900 imóveis em estoque na região, 71% são de um dormitório e 68% têm até 45 m². Isso mostra que quem opta por se mudar para o centro é o jovem profissional sem filhos.

Mas, para que a região recupere a vitalidade que possuía até o anos 80, é preciso atrair uma gama mais variada de moradores, segundo especialistas que participaram do debate "Por que não morar no centro?".

"Temos que trazer também famílias de diversas classes sociais, construindo escolas, centros comerciais e culturais", declarou Bernardes. "Não existe ação mágica para revitalização, isso vem da percepção mais positiva das pessoas."

LEGISLAÇÃO

Um dos motivos que dificultam a atração de mais moradores e famílias é a legislação engessada, que afasta investidores por encarecer empreendimentos que buscam reformar prédios antigos ou abrir lojas e restaurantes.

Segundo Philip Yang, fundador do Urbem (Instituto de Urbanismo e Estudos para a Metrópole), a legislação atual é muito genérica e descasada da realidade que o empreendedor vivência.

"Entrevistei alguns empreendedores que criaram suas empresas no centro e quase todos fazem a mesma reclamação: se você abre um restaurante nos Jardins, demora até cinco anos para conseguir um alvará de funcionamento. Imagina no centro, onde há prédios tombados e mais documentos para serem aprovados."

Um exemplo citado por Bernardes foi a legislação de incêndio que especifica que as escadas de edifícios comerciais devem ter ao menos 1,20 metro de diâmetro.

"Os prédios foram construídos antes da lei e, se têm dez centímetros a menos, não é possível aprovar um projeto de reforma. Não há como expandir a escada sem derrubar o prédio inteiro. Isso inviabiliza."

Heloisa Proença, secretária municipal de Urbanismo e Licenciamento da gestão Doria, a legislação de zoneamento ainda carece de aderência à cidade real. "Os objetivos do plano diretor nem sempre se tornam aplicáveis, o que dificulta a aprovação de projetos que seriam benéficos a todos."


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