Folha de S. Paulo


Revitalização do centro só será possível com novos moradores

Vídeo Mesa 1

Local de passagem para milhões de trabalhadores que se distribuem entre todas as outras partes da cidade, o centro de São Paulo conta com boa rede de transporte público, espaços culturais e um comércio diversificado.

Problemas com segurança e zeladoria, porém, necessitam de uma renovação desejada pela população há pelo menos cinco décadas.

As tentativas de revitalização esbarram na falta de articulação entre os diferentes setores necessários para solucionar tais problemas e, principalmente, no baixo potencial de atrair novos moradores, capazes de injetar vitalidade na região.

"Sem moradores não teremos uma área central razoavelmente organizada. Esse tem sido um pensamento presente em todas as gestões municipais desde a década de 1980", afirmou Regina Meyer, arquiteta e professora da FAU-USP (Faculdade de Arquitetura da USP), durante o fórum Revitalização do Centro, promovido pela Folha.

O evento, que acontece nesta terça (19) e quarta (20) no Sesc 24 de Maio, é patrocinado pela Porto Seguro e tem o apoio do Sesc, do governo do Estado de São Paulo e da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano).

Um dos entraves, diz a arquiteta, é a oferta do mercado imobiliário, que classifica como insuficiente.

Mas essa oferta pode ser ampliada com a renovação de prédios que hoje estão em más condições, afirma Nelson Saule, diretor do Instituto Pólis e professor de direito da PUC-SP. "Existem instrumentos para a revitalização de construções que não são utilizados, como reformas feitas em parceria com instituições privadas."

Segundo Saule, há ainda um preconceito que afasta a classe média que poderia repovoar o centro, um sentimento que nasceria da existência histórica de cortiços na região. "Deveria haver uma política pública de sensibilização que mostre por que o centro é um espaço interessante para se viver."

O perfil residencial ainda é desconhecido e precisa ser desenhado, afirma Regina Meyer. "O centro não é como qualquer outro bairro. Vai haver a acomodação de moradores, mas com características próprias."

De acordo com Nabil Bonduki, ex-secretário municipal de Cultura da administração Haddad e colunista da Folha, a oferta de moradia deve ir além das residências populares. "Temos condições de abrigar muito mais gente do que tem hoje. O perfil do centro tende a atrair uma população jovem que quer morar em uma região com tolerância, diversidade e acesso à cultura", afirmou.

Saule ressaltou que o surgimento de equipamentos culturais, como a Pinacoteca e a Sala São Paulo, foi importante, mas eles foram insuficientes para revitalizar a área aonde estão. Para ele, mais espaços públicos de lazer, como praças, e um resgate da história dos monumentos e construções podem atrair mais pessoas. "O centro foi onde nasceu a cidade e diversos pontos históricos não são aproveitados."

SEGURANÇA

A cracolândia, um dos fatores que mais afastam a população da região, é um problema de saúde pública e a busca de solução requer melhor articulação entre os diferentes setores públicos, como segurança e saúde, concordaram os debatedores.

"Hoje, esses setores já trabalham juntos, mas não têm um pacto sobre como fazer uma atuação mais adequada, cada um tem sua visão", disse Saule.

Bonduki lembrou que a cracolândia não é um caso único na cidade e que há outros pontos de consumo de drogas em outras regiões. "Se tirarmos do centro, vai migrar para outra área fragilizada.".

Segundo ele, porém, existe um processo urbano em andamento no centro que deve mudar a região da cracolândia dentro de um período de cerca de dez anos.


Endereço da página:

Links no texto: