Folha de S. Paulo


Para especialistas, Brasil não investe o suficiente em acordos comerciais

Marcelo Justo/Folhapress
SAO PAULO, SP, BRASIL, 14.set/2017, 13h00: Marcos Jank (presidente da Aliança Agro Asia-Brasil e colunista da Folha, fala durante a terceira mesa de debate no
Marcos Jank, presidente da Aliança Agro Asia-Brasil e colunista da Folha

O Brasil precisa avançar muito na diplomacia comercial, concordaram os palestrantes da mesa "Exportação de Alimentos", do Fórum sobre Agronegócio Sustentável promovido pela Folha.

"O Mercosul foi a última grande novidade em acordos internacionais", afirmou Ibiapaba Netto, diretor da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos.

Com o acordo que o Mercosul negocia com a Europa, o bloco pode se tornar mais competitivo e ameaçar a liderança comercial dos Estados Unidos. O acordo bilateral de comércio abrange a associação entre os blocos nas áreas de bens, serviços, investimentos e compras governamentais.

As negociações começaram em 1999, foram interrompidas em 2004 e relançadas em 2010. Desde o fim de 2015, quando Maurício Macri assumiu a presidência da Argentina, as negociações avançaram. O bloco latino-americano é líder em produção e exportação de vários setores como soja, carnes, açúcar, café e suco.

Para especialistas, Brasil não investe o suficiente em acordos comerciais

Mauro Zafalon, jornalista especializado em agronegócio e colunista da Folha, avalia que o mercado brasileiro se fecha demais. Ao não permitir a importação de café verde (que não foi torrado e moído), por exemplo, o país perde a oportunidade de utilizar o produto estrangeiro para aprimorar o café nacional, criando blendings com maior valor agregado. "O Brasil, maior produtor mundial, está perdendo o mercado sofisticado", disse.

Amanda Cosenza, representante da processadora de grãos e cereais Archer Daniels Midland (ADM), também criticou a ausência de estratégias internacionais de comércio. "Faltam parcerias e acordos internacionais que demandem uma soja sustentável e nós temos como produzir isso no Brasil", assinalou.

Cosenza citou o acordo deste ano entre a Associação Brasileira de Indústria de Óleos Vegetais (Abiove) e a Federação Europeia dos Fabricantes de Rações (Fefac) como exemplo para impulsionar o comércio de grãos sustentáveis. Trata-se de um memorando assinado em janeiro, que visa incentivar a produção de soja sustentável no Brasil e sua promoção no mercado europeu, algo inédito para o setor.

Mesmo assim, para Marcos Jank, presidente da Aliança Agro Ásia-Brasil e colunista da Folha, novos acordos são necessários. "Qualquer coisa que for feita será boa, porque a gente não faz nada há 15 anos", disse. Para ele, as antigas negociações da Alca (Área de Livre Comércio das Américas) e da OMC (Organização Mundial do Comércio) foram o auge da política comercial.

Sobre o estado atual do agronegócio, Jank foi enfático: "Toda essa revolução exportadora aconteceu a despeito de não termos feito nada em termos de política comercial".


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