Folha de S. Paulo


Uso do celular ao dirigir é causa mais comum de desatenção no trânsito

Danilo Verpa/Folhapress
Mulher usa celular ao volante na região central de São Paulo
Mulher usa celular ao volante na região central de São Paulo

O que custa responder uma mensagem no celular no meio do trânsito? Custa R$ 293,47 e sete pontos na carteira de habilitação.

Isso vale desde novembro de 2016, quando foram realizadas mudanças nas punições do Código Brasileiro de Trânsito, as primeiras desde 2000. Antes, o celular não era tão onipresente, e seu uso ao volante era considerado apenas uma infração média.

"A lei ficou mais severa para chamar a atenção das pessoas, mas a principal mensagem que queremos passar é a de que o motorista é quem tem de se conscientizar", explica Maxwell Vieira, diretor-presidente do Detran-SP.

O custo no bolso do infrator vem dando resultados. Desde que a nova legislação entrou em vigor, em novembro, até fevereiro deste ano, o total de multas aplicadas pela CET na cidade de São Paulo caiu 13% em relação ao mesmo período do biênio 2015-2016. Passou de 152.005 casos para 132.541.

No total, a CET aplicou 491.174 multas relacionadas ao uso do celular ao volante na capital em 2016. O Detran, por sua vez, multou outros 101.388 motoristas.

"O uso do celular ao volante é uma das causas mais recorrentes de desatenção no trânsito, além de ser um grande causador de acidentes", afirma Vieira. Segundo levantamento do Infosiga-SP, um banco de dados do Movimento Paulista de Segurança no Trânsito, 94% dos acidentes nas vias com mortes são causados por falhas humanas, como imprudência e distração.

De acordo com Dirceu Rodrigues, diretor da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego), estima-se que o uso de tecnologias ao volante seja a quarta maior causa de acidentes do mundo, atrás apenas de excesso de velocidade, consumo de álcool ou drogas e fadiga.

Para o médico, fiscalização e legislação mais rigorosa não são capazes de resolver sozinhos o problema. "A fiscalização é muito difícil, simplesmente não possuímos recursos humanos para isso", diz. Esse tipo de multa é aplicada manualmente, a infração não é identificada por radares, o que dificulta seu flagrante.

"O ambiente tecnológico, de maneira geral, não é compatível com a direção segura", diz Rodrigues. "Mesmo quando o motorista utiliza o viva voz, sua atenção está voltada ao que ele vai atender. Ele perde a visão periférica e fica suscetível ao acidente."

APLICATIVO ALIADO
De acordo com pesquisas feitas pelas montadoras, os motoristas querem cada vez mais conectividade. Diante disso, a solução é tentar desenvolver tecnologias que reduzam a desatenção.

Sistemas que funcionam por comandos de voz integrados aos celulares, como o Android Auto e o Apple Carplay, já estão presentes em automóveis populares.

Em abril deste ano, a Samsung anunciou o lançamento do aplicativo In-Traffic Reply, ainda em testes.

O app é ligado automaticamente toda vez que o dono do celular dirige um veículo. Ele deixa o telefone em modo silencioso e manda respostas automáticas para todas as notificações recebidas pelo aparelho, de modo que o motorista não se sinta tentado a dar aquela olhada na tela.

Olhadinha que custou caro ao gerente comercial Bernardo Fonseca, multado enquanto aguardava a abertura de um semáforo vermelho.

"Nem sabia que dava pra ser multado com o carro parado", lamenta Fonseca.


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