Folha de S. Paulo


Risco de violação sexual de vulneráveis cresce em eventos esportivos e festas

Em grandes eventos esportivos e culturais, como Copa do Mundo e Carnaval, aumenta o perigo de exploração de crianças e adolescentes.

Os números são imprecisos, mas não impedem a análise dos fatores de risco e a elaboração de estratégias para enfrentar o problema.

Essas são conclusões de uma pesquisa da Universidade Brunel, de Londres, sobre a relação entre o Mundial e a exploração sexual de crianças e adolescentes.

A pesquisa foi usada pela Childhood Brasil para criar um programa de prevenção e proteção nas cidades-sede da Copa 2014, realizado em conjunto com órgãos e gestores públicos, organizadores do evento e sociedade civil.

"É preciso colocar todos os envolvidos em grandes eventos trabalhando junto e de forma preventiva", diz Heloisa Ribeiro, diretora-executiva da Childhood Brasil.

No ano da Copa no Brasil, o Disque 100 recebeu 15,6% mais denúncias de violações contra crianças e adolescentes do que no ano anterior, segundo Ribeiro. Só em São Paulo, foram 799 denúncias de exploração sexual infantil, contra 271 em 2011.

"Verificamos aumento de casos em cidades que não são destino de turismo sexual, mas que eram sedes de jogos. Nas que já eram destino, houve recuo de denúncias específicas de turismo sexual, talvez porque as ações estavam mais visíveis e a rede atuou de forma mais silenciosa", diz Irina Bacci, ouvidora do Ministério de Direitos Humanos.

"Além da suposta invisibilidade da exploração, há também a questão da flutuação dos casos: recebemos a denúncia, mas, quando é feita a verificação, o caso não se encontra mais no local", diz Paula Caldas, da Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos do Rio.

Durante a Copa, pelo menos uma denúncia importante deu resultado. Investigações da Delegacia da Criança e do Adolescente feitas no bar Balcony, na praia de Copacabana, flagraram menores de idade, entre elas uma menina de 13 anos, negociando programas sexuais.

"A denúncia culminou no fechamento do bar e em uma ação de sensibilização em hotéis, bares e restaurantes da zona sul", conta Caldas.

RISCOS PREVISÍVEIS

O maior fluxo de turistas é a primeira preocupação em relação aos megaeventos.

"O Brasil está na rota da exploração sexual, as redes com vínculos no exterior atuam aqui o ano todo. Festas e eventos potencializam a ação dessas redes", diz Bacci.

O estudo da Universidade Brunel mostra que o problema já começa nos preparativos para o evento. O ritmo das construções, com a chegada de trabalhadores separados de suas famílias, e o deslocamento de crianças para locais desconhecidos são situações que criam um ambiente propício a esse tipo de violência.

Quando o estádio do Corinthians estava sendo construído para a Copa foram registradas ocorrências de exploração de meninas nas áreas vizinhas ao canteiro de obras.

O caso do Mundial é emblemático porque um programa de prevenção e ação foi estruturado. "Foi a primeira vez na história do campeonato que a questão da proteção da criança entrou na organização dos jogos", afirma Ribeiro, da Childhood.

Foi o legado da Copa, segundo Cláudia Vidigal, secretária nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente.

"A mobilização foi um alerta e criou uma metodologia de ativação da rede de proteção à criança e ao adolescente para ser replicada em todos os grandes eventos."


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