Folha de S. Paulo


Combate a violência sexual requer discussão sobre masculinidade

Mesa 5

Redefinir conceitos de masculinidade e desenvolver a educação sexual para jovens foram os caminhos discutidos no painel "Como Superar a Cultura do Abuso", que encerrou a programação do Fórum Exploração Sexual Infantil, organizado nesta quinta (18) pela Folha, em parceria com o instituto Liberta e a incorporadora Cyrela.

"Quando falamos em situações de violência ou que levam a abusos e estupros, nem sempre conversamos com os meninos, que muitas vezes são os agentes, embora também sejam vítimas", afirmou Fernanda Lopes, representante auxiliar do Fundo de População da ONU no Brasil, disse que é preciso discutir conceitos como a paternidade precoce e a desconstrução das masculinidades.

A mesa também contou com a presença de Assis da Costa Oliveira, professor de direitos humanos da UFPA, Tatiana Landini, professora de sociologia da Unifesp, e Rosely Sayão, psicóloga e colunista da Folha. Os participantes concordaram que desenvolver a educação sexual nas escolas contribuirá para combater abusos e alcançar a equidade de gênero.

Segundo Rosely Sayão, os professores não têm preparação adequada para abordar valores sociais e princípios que regem a sociedade quando discutem a sexualidade em sala de aula. "Quase todas as escolas que conheço tratam mais da orientação sexual, do aparato biológico, dos comportamentos sexuais e da sexualidade genital".

Sayão diz que "é preciso relacionar a educação sexual com a educação como um todo" _e a responsabilidade também é das famílias. "Muitas conversam a respeito da gravidez e da prevenção de doenças, mas poucas falam sobre o comportamento que diz respeito à mulher e ao homem".

MERCADO SEXUAL

Para Fernanda Lopes, a exploração sexual de jovens só será resolvida com o combate às desigualdades sociais do país. "São os grupos de maior vulnerabilidade social que vivenciam essa violência, que é estrutural, institucional e perpetrada pela recessão de oportunidades."

Keiny Andrade/Folhapress
SAO PAULO - SP - 18.05.2017 - Forum Folha - EXPLORACAO SEXUAL INFANTIL - MESA 5: COMO SUPERAR A CULTURA DO ABUSO - PARTICIPANTES: Rosely Sayão, psicóloga e colunista da Folha; Tatiana Landini, professora de sociologia da Unifesp; Assis da Costa Oliveira, professor de direitos humanos da UFPA; Fernanda Lopes, representante-auxiliar do Fundo de População das Nações Unidas
Fernanda Lopes, representante-auxiliar do Fundo de População das Nações Unidas, e Assis da Costa Oliveira, professor de direitos humanos da UFPA

Para ela, o machismo estrutural é um dos fatores que explicam a presença majoritária de homens como exploradores de crianças. "Eles foram educados a acreditar que aquilo era legítimo da forma que fosse, ainda violenta".

Assis Oliveira, que realiza pesquisas sobre abuso sexual na região de Altamira (Pará), afirmou que também é necessário transformar a forma como os agentes desses abusos são tratados. O tratamento humanizado, segundo ele, ajudaria a coibir redes de exploração.

"Precisamos pensar em um atendimento humanizado a esses agressores e autores. A lógica do encarceramento por si só não resolverá o problema", disse.


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