Folha de S. Paulo


Cresce número de empresas especializadas em compliance

Impulsionadas pela Lei Anticorrupção e pela Lava Jato, várias empresas brasileiras passaram a se especializar na criação e implantação de sistemas de compliance.

A demanda é crescente, segundo Jerri Ribeiro, líder da área de riscos da consultoria e auditoria PwC. "Apostamos em aumento para o futuro, já que o setor no Brasil ainda está começando", afirma.

O serviço é procurado por companhias que atuam em países da Europa ou nos EUA e que, por isso, são obrigadas por lei a ter estruturas de compliance.

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Cresce número de empresas especializadas em compliance
Cresce número de empresas especializadas em compliance

Mas também há aquelas que querem monitoramento mais eficaz de sua equipe ou buscam mostrar solidez ao mercado, diz Renato Capanema, diretor de Promoção e Integridade da CGU (Controladoria-Geral da União).

No caso de organizações de grande porte, o valor médio desse serviço varia entre R$ 50 mil e R$ 3 milhões, e pode incluir desde uma avaliação de riscos até o auxílio na implementação de canais de denúncia. "Mas não tomamos decisões pela empresa e não somos gestores, apenas apontamos caminhos adequados", afirma Camilla Araújo, que é sócia da área de riscos da consultoria e auditoria Deloitte.

Rogério Garcia, diretor técnico do Ibracon (Instituto dos Auditores Independentes do Brasil), afirma que outras estratégias eficazes são a fixação de códigos de conduta, os treinamentos e até o incentivo à rotação de cargos, "para que o colaborador entenda que, se faltar com a ética, pode ser denunciado por seu sucessor".

Lava Jato

CULTURA CORPORATIVA

Um dos principais problemas para estabelecer métodos de compliance é a resistência cultural dentro das empresas. Mudar depende da cúpula. "Se os principais executivos não estiverem alinhados, as outras áreas não se sentirão incentivadas a aderir ao programa", afirma Enéas Moreira, líder da área de investigação de fraudes da auditoria e consultoria EY.

A Totvs, do setor de tecnologia, criou códigos internos de conduta e uma rotina de treinamento para funcionários e colaboradores. Recentemente, contratou uma consultoria para implantar um canal de denúncia externo, no qual a empresa não tem acesso ao denunciante.

"É proibido fazer doações a partidos políticos, estipulamos limites para brindes de outras empresas e averiguamos se nossos fornecedores têm relações lisas com o poder público e o mercado", explica o diretor de compliance da empresa, Sílvio Menezes.

Mas não há como eliminar em definitivo o problema, na visão de Emílio Carazzai, presidente do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa). "Não existe sistema impermeável, o fraudador tem como objetivo burlar o setor e a empresa. Para cada ação de defesa por parte das organizações, há uma reação para dificultá-la."


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