Folha de S. Paulo


Não há incentivo ao movimento, diz ultramaratonista sobre sedentarismo

Pequenas atitudes cotidianas, como estacionar o carro longe da entrada do shopping, utilizar escadas em vez do elevador ou caminhar até a máquina de café do escritório -dispensando a cadeira de rodinhas–, repetidas diariamente, podem contribuir com o combate ao sedentarismo.

A opinião foi exposta pelos membros da terceira mesa do segundo dia do 4º Fórum Saúde no Brasil, promovido pela Folha e patrocinado por Amil, Fenasaúde e Abimed.

O fisiologista e médico do esporte Paulo Zogaib lembra que o ser humano, por essência, tende a fazer menor esforço possível.

"À medida que faço um esforço, o corpo cria adaptações para que isso demande menos energia da próxima vez. Cada vez fico mais eficiente, poupo energia. Isso dá uma sensação de estabilidade ao corpo e leva ao sedentarismo", afirma.

O advento da tecnologia torna ainda mais fácil que o ser humano gaste cada vez menos energia, uma característica já inerente à espécie, diz.

"Nos últimos 50 anos, o meio ambiente mudou muito. Hoje há muito mais conforto, muito mais alimentos disponíveis. Isso leva as pessoas a ser sedentárias", afirma o consultor de fitness Marcio Atalla.

"A gente vai ao shopping e estaciona perto da entrada. Se não conseguimos essa vaga, ficamos frustrados", completa.

Rodolfo Lucena, ultramaratonista e jornalista, chama a atenção para como as obrigações do dia a dia também agravam a situação.

"O pessoal fica em escritório praticamente o dia inteiro sentado em frente ao computador. O incentivo ao movimento não existe, pelas próprias exigências da sociedade, dos compromissos que cada um tem de cumprir", avalia.

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POLÍTICAS PÚBLICAS

Os palestrantes também cobraram políticas públicas para incentivar o combate ao sedentarismo nas escolas, como tentar fazer com que os alunos não vejam a educação física apenas como "jogar bola" e chamaram a atenção para o fato de um grande número de colégios não dispor nem sequer de uma quadra.

Atalla defende a premiação de instituições de ensino que promovam práticas saudáveis aos alunos. Ele lembra de um projeto que desenvolveu nesses moldes na cidade de Jaguariúna, que teve resultados positivos.

"A gente foi nas escolas, fez reuniões pra saber quais medidas podíamos tomar. A chamada passou a ser em pé, estimulamos atividades físicas", relembra.

Lucena concorda com o foco nas crianças e defende também um incentivo aos adultos e idosos.

"Vale a pena incentivar. Sempre vale a pena mudar, com 60, 70 ou 80 anos. Em poucos meses o corpo responde diferente", diz ele, que começou a correr aos 40 anos e, neste ano, aos 60, pretende percorrer uma distância equivalente a 60 maratonas -2.532 quilômetros.

Os especialistas também lembraram que o exercício físico deve ser prazeroso, ou em pouco tempo se tornará um fardo.

"Toda vez que a gente faz algo como um sacrifício, isso não se sustenta por muito tempo, porque não é algo que dê prazer", afirma Zogaib


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