Folha de S. Paulo


Partilha de dados pode evitar outras máfias da prótese, diz especialista

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A última mesa do primeiro dia do 4º Fórum Saúde do Brasil: Transparência e Prevenção, realizado nesta segunda (27), foi pautada por discussões sobre modelos alternativos de remuneração aos profissionais da saúde.

Hoje, o modelo vigente na maior parte do segmento é o de remuneração por quantidade, ou seja, remunera-se o médico pelo número de procedimentos -exames e prescrições, por exemplo— realizados.

Para José Augusto Ferreira, diretor da Unimed BH, o arranjo é obsoleto porque estamos diante de uma realidade na qual médico e paciente mudaram.

"Antes, o médico era um profissional autônomo e liberal, e vem daí o motivo da adesão à remuneração por procedimentos, o que também era interessante para o comprador de serviços [empregador do médico], porque não era um vínculo, no máximo um contrato", diz, ressaltando que o médico atual quer uma perspectiva de carreira, mais segurança no emprego e aderir a uma entidade que lhe dê suporte.

Na avaliação de Ferreira, o paciente, por sua vez, está cada vez mais velho, devido ao envelhecimento populacional, e demanda cada vez mais atendimentos multidisciplinares e personalizados.

O braço mineiro da Unimed começou a implementar o modelo de remuneração por qualidade do serviço prestado. No sistema, os profissionais têm um salário fixo e um variável -que muda de acordo com o desempenho do médico, medido por meio de indicadores como a satisfação dos pacientes.

"Mudar o modelo de remuneração é apenas uma etapa para mudar o modelo de assistência como um todo", avalia Ferreira.

'QUERO MAIS'

Ana Maria Malik, médica e professora da Fundação Getulio Vargas (FGV), atenta para o fato de que há também entre os pacientes um sentimento de necessidade de realizar vários procedimentos.

"Os profissionais da saúde criaram na população uma expectativa: o 'quero mais'. Consultas, exames, prescrições. Se não tiver, vamos nos sentir mal".

A especialista também criticou rusgas que ocorrem entre os diferentes âmbitos do setor.

"Não deveríamos torcer para nenhum lado. Não dá para torcer para o SUS, para a operadora, para o fabricante. Temos que torcer por nós enquanto cidadãos"

Já Bruno Haddad, sócio-diretor de healthcare na consultoria KPMG, ressaltou que uma remuneração por performance não precisaria de uma regulação específica, podendo ser avaliada e ajustada de acordo com as necessidades específicas de cada situação.

Além disso, Haddad lembrou que há cada vez mais uma demanda por profissionais de saúde que entregam um serviço diferenciado.

"Não dá errado para quem entrega algo diferenciado. Nenhuma operadora deixará de trabalhar com ele e ele também se beneficiará", afirma. "Os melhores profissionais que conheço pensam 'não importa quanto vai custar, preciso resolver o problema do paciente'", completa.

Os especialistas também abordaram a questão da assimetria de informações, o que significa que o paciente não tem acesso a dados como taxa de cirurgias bem sucedidas ou de mortalidade de um hospital.

"Precisamos tornar esse mercado menos imperfeito. Na medida que tiver informações mais compartilhadas, mais às claras, deixaremos de ter fenômenos como o da mesa passada [mafia das próteses]", avaliou Carlos Alberto Pereira Goulart, presidente-executivo da Abimed (Associação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Produtos para Saúde).

Promovido pela Folha e patrocinado por FenaSaúde (Federação Nacional de Saúde Suplementar), Amil e Abimed (Associação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Produtos para Saúde), o evento continua nesta terça (28) no MIS (Museu da Imagem e do Som), em São Paulo.


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