Folha de S. Paulo


Confira mitos e verdades sobre o vírus do HPV

O lançamento da vacina contra o HPV, no início dos anos 2000, suscitou medos e controvérsia entre pais e adolescentes. Um dos debates mais acalorados foi em torno da possibilidade da imunização estimular o sexo precoce e sem proteção. Foi duro também o questionamento em torno da relação entre os benefícios e os riscos da vacina contra o HPV.

Algumas pessoas, médicos, entre elas, relacionaram a imunização ao aparecimento de doenças graves, como falência ovariana, inflamação dos olhos, convulsões e até a síndrome de Guillain-Barré - afecção autoimune, em que as células de defesa do organismo atacam o sistema nervoso, comprometendo de forma severa o funcionamento muscular.

No Brasil, em 2014, quando a vacina passou a ser oferecida pelo Ministério da Saúde, onze meninas de Bertioga, no litoral paulista, passaram mal depois de imunizadas. Três delas chegaram a ser internadas com dores na cabeça e no corpo e falta de sensibilidade nas pernas. Não foi preciso muito para que, em pouco tempo, o caso ganhasse as ruas e as redes sociais. Foi criada ate uma página: "Sou contra a vacina do HPV" apesar de, logo, as meninas terem recebido alta, sem nenhuma sequela.

Até hoje, nenhum estudo associou a imunização a reações adversas graves. Tampouco as agências de vigilância dos países onde a imunização contra o HPV é adotada como medida de saúde pública reportaram a ocorrência de reações adversas graves. Em sua mais recente avaliação, em 2014, Comitê Global Consultivo sobre Segurança de Vacinas da Organização Mundial de Saúde (OMS) destacou que ao redor de 175 milhões de doses já haviam sido distribuídas no mundo, constatando, mais uma vez, a segurança dos produtos disponíveis. Entre os efeitos colaterais mais comuns estão dor, vermelhidão e inchaço no local da aplicação. Mais raramente, são relatadas dor de cabeça e febre.

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Ainda assim, depois dos avanços nos conhecimentos sobre o HPV e de uma década de imunização, o vírus e a vacina ainda seguem cercados por mitos e tabus. Leia, a seguir.

A vacina é mais eficaz se administrada aos 9 anos
VERDADE
Para a pediatra Rosana Richtmann, uma das grandes estudiosas de HPV do país, há dois argumentos irrefutáveis para justificar a vacinação de meninas aos 9 anos. Primeiro, quanto mais jovem a menina, maior a resposta imune à vacina. A produção de anticorpos contra o HPV é duas vezes maior entre os 9 e 15 anos do que entre os 16 e 26 anos. Além disso, há a comprovação científica de que quanto mais cedo o contato da garota com o HPV, maior a probabilidade de ela vir a desenvolver câncer cervical no futuro.

A vacina estimula o sexo precoce e arriscado
MITO
Um trabalho conduzido por pesquisadores da Universidade do Sul da Califórnia (EUA) e publicado na prestigiosa revista médica "Journal of American Medical Association" (JAMA) avaliou cerca de 190 mil meninas, de 12 a 18 anos, entre janeiro de 2005 e dezembro de 2010. As garotas foram divididas em dois grupos. No primeiro, ficaram 610 adolescentes, todas vacinadas. No segundo, o restante das jovens, nenhuma imunizada. Depois dos cinco anos de acompanhamento, os especialistas chegaram à conclusão de que a taxa de doenças sexualmente transmissíveis aumentou na mesma quantidade entre os dois grupos.
Outro estudo, também americano, conduzido entre 2007 e 2008, com 1.243 adolescentes sexualmente ativas mostrou que, entre as garotas vacinadas, o uso de preservativo era três vezes maior do que entre as meninas não imunizadas.

Três doses da vacina são protegem mais do que as duas doses preconizadas pelo Programa Nacional de Imunizações (PIN), do Ministério da Saúde
MENTIRA
Até o início do ano, os especialistas eram unânimes em preconizar três doses da vacina contra HPV. Depois da divulgação de uma série de estudos científicos metodologicamente impecáveis, essa diretriz passou por uma revisão. Os trabalhos mostraram que duas doses, com intervalo de seis meses entre a primeira e a segunda, é tão ou mais eficaz do que o esquema de três doses, tanto na prevenção das verrugas genitais quanto na das lesões precursoras de câncer.

A vacina protege 100% contra o HPV
MENTIRA
Ainda que a vacina quadrivalente proteja contra os tipos mais comuns de HPV, ela não evita a contaminação por todas as versões do vírus. São, pelo menos, 150 variedades do micro-organismo. "Homens e mulheres devem se proteger aliando imunização, visitas periódicas ao médico, uso de preservativo e, no caso das mulheres, exames de rotina para o rastreamento do câncer de colo de útero", lê-se no Guia do HPV, elaborado pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia das Doenças do Papilomavírus Humano.

O uso do preservativo impede o contágio pelo HPV
EM TERMOS
É sempre recomendável usar camisinha. Afinal, trata-se de um método eficaz contra uma série de doenças, como a infecção pelo HIV, alguns tipos de hepatite e sífilis. Contra o HPV, o preservativo ajuda em alguns casos, mas não em todos. Como o vírus é de fácil contágio e encontra-se em toda a região genital, a camisinha não ajuda quando a infecção está fora de sua área de proteção, como na parte baixa da virilha.

A infecção pelo HPV pode demorar 20 anos para causar uma doença
VERDADE
Na maioria dos casos, o sistema imunológico consegue debelar o vírus naturalmente. Quando isso não ocorre, demora de dois a oito meses depois do contágio para que o HPV se manifeste. Mas podem levar anos até que a lesão decorrente do contágio apareça.

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Todas as mulheres infectadas desenvolvem câncer cervical
MITO
O HPV pode levar ao desenvolvimento de lesões benignas ou precursoras de câncer de colo de útero. Se a mulher mantém o exame papanicolau em dia, a probabilidade dela flagrar um tumor em estágio inicial é bastante alta. Nesses casos, os tratamentos são menos agressivos e as chances de cura maiores.
Na década de 1990, 70% das brasileiras diagnosticadas com câncer de colo de útero encontravam-se em estágios avançados da doença. Hoje, 44% dos casos são descobertos precocemente. Desde a popularização do papanicolau, as mortes decorrentes do câncer cervical caíram cerca de 50%.

Em geral, a infecção pelo HPV é assintomática
VERDADE
As verrugas genitais aparecem na minoria das contaminações. Geralmente as mulheres descobrem ser portadoras do HPV por meio do exame papanicolau. Como os homens não têm um exame similar e grande parte das infecções é assintomática, é mais difícil detectar o HPV no sexo masculino.

Os homens não desenvolvem doenças relacionadas ao HPV
MENTIRA
Assim como os subtipos 16 e 18 estão associados a 70% dos casos de câncer de colo de útero nas mulheres, entre os homens, eles podem levar ao desenvolvimento de tumores na orofaringe, ânus e pênis.


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