Folha de S. Paulo


É tolice pensar que escola deve esgotar o conhecimento, diz especialista

Promover a integração entre a escola e a comunidade, inspirar os alunos a buscar o conhecimento fora da sala de aula e se adaptar às tecnologias digitais são os principais desafios do professor do século 21, na opinião de especialistas que participaram do Seminário Inovação Educativa, na manhã desta quarta-feira (23), em São Paulo.

A segunda mesa de debates encerrou o evento, promovido pela Folha em parceria com a Fundação Telefônica Vivo.

Thuane Nogueira, vice-diretora da Emef Campos Salles, comentou o modelo da escola, em Heliópolis, na zona sul de São Paulo, em que não há salas de aulas tradicionais, mas salões com grupos de alunos liderados por professores. Segundo ela, os jovens opinam sobre os temas que querem estudar e, em cima disso, os professores preparam o conteúdo. "É uma uma inversão da lógica da escola, que dá um poder maior de decisão ao estudante", disse.

De acordo com ela, esse modelo "colaborativo" faz com que os professores tenham contato com a comunidade e entendam a realidade social dos jovens. "Isso nos proporciona uma criação muito rica de modelos de estudos", afirmou.

Para Mozart Ramos, do Instituto Ayrton Senna, o professor precisa ter a capacidade de inspirar. Para ele, a internet não é apenas uma poderosa fonte de conhecimento, mas deve ser dominada pelo docente também para se aproximar dos estudantes. "A tecnologia precisa ser um grande aliado do professor, mas ele só vai poder desenvolver isso em sua plenitude se tiver os alunos com ele."

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Segundo Ramos, a inovação não está necessariamente na rede, mas em iniciativas que extrapolem as quatro paredes, como visitas a locais relacionados com o conteúdo ensinado na classe. "O conhecimento da sala de aula tem que mover os alunos para um outro lugar", afirma. "O importante é instigar, durante os 50 minutos de aula, que os alunos não parem de pensar em coisas que interessem a eles", diz.

"Não tem nada que um engajamento não produza", complementa Miguel Thompson, do Instituto Singularidades. "Não é a obrigação da escola esgotar o conhecimento, isso é uma tolice", ele diz. "A escola tem que ser rigorosa, exigir um mínimo do estudante. E esse mínimo são aqueles conceitos que estruturam as disciplinas", afirma ele.

Já para Helena Singer, do Centro de Referência em Educação Integral, um dos problemas quando se discute o papel do professor são as duas funções, tão distintas quanto importantes, atribuídas a ele: a formação intelectual e pessoal do estudante. "É difícil ou até impossível que esse profissional dê conta das duas coisas", afirma. "O problema é que se faz um concurso para um professor de geografia e se espera que ele, durante uma aula de 50 minutos, seja capaz de orientar sobre projetos de vida."

Segundo ela, também é preciso refletir sobre o papel da escola. "Para dar conta de formar os jovens, a escola precisa se articular com a família, com a comunidade", afirma. "Criam-se expectativas e, no fim, tudo fica confuso, porque o único critério para avaliar a qualidade da educação é o desempenho em provas de avaliação", conclui.


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