Folha de S. Paulo


Professor deve atuar mais como orientador da descoberta, diz educador

Professores devem ter uma formação mais específica para a área em que ensinam e precisam aprender a atuar como orientadores dos alunos no uso de tecnologias. A conclusão é de especialistas em educação que participaram da primeira mesa do segundo dia do Seminário Inovação Educativa, promovido pela Folha em parceria com a Fundação Telefônica Vivo, na manhã desta quarta-feira (23).

No início do debate, Priscila Cruz, da organização Todos Pela Educação, apresentou a pesquisa "Formação de professores no Brasil", que, entre outros resultados, mostra que a maior parte dos professores do país não é formada nas áreas em que leciona.

"Temos mais professores graduados em matemática do que em física dando aula de física", afirmou. Segundo ela, atualmente um aluno matriculado tem acesso à instituição escolar, mas não necessariamente à educação, já que a formação de grande parte dos professores é precária.

De acordo com Cesar Callegari, do CNE e da Faculdade Sesi-SP de Educação, os dados refletem uma ideia de improvisação da atividade docente no país. Ele também afirma que o processo de aprendizagem no século 21 deve ser autoral e ligado ao uso de tecnologia, que está intimamente conectada à vida dos jovens.

Para ele, até mesmo a formação de professores em temas mais amplos não deve implicar na precarização da educação. O ideal seria que todos os professores, independentemente da área em que são formados, pudessem ter uma visão melhor do conjunto de conhecimentos.

Ainda de acordo com Callegari, devido à disseminação de diferentes fontes de informação, os professores hoje deveriam atuar mais como orientadores de descoberta do que como simples transmissores de conhecimento.

Já José Moran, do Instituto Singularidades, afirmou que os professores precisam ser mais atuantes em seus campos de estudo e não somente pesquisadores.

"Nós não saímos do nosso pedestal para aprender com esse aluno de hoje como ensinar de forma inovadora", afirmou Moran, que também critica o modelo de ensino brasileiro, que seria "conteudista" e "pouco prático".

Segundo ele, escolas de formação de docentes deveriam ser espaços mais abertos e transparentes e permitir que professores tenham experiências para além da sala de aula.

Para o professor da Faculdade de Educação da USP Elie Ghanem, a visão convencional da educação deve ser colocada em questão. Porém, segundo ele, nem tudo que é inovador é necessariamente positivo. "Se não estivermos voltados para uma educação pelo diálogo, a ideia de inovação é jogada pela janela", afirmou.

"Primeiro devemos destacar a inovação do conceito de completa originalidade", disse Ghanem, acrescentando que, em educação, o nova não precisa ser revolucionário ou inédito. De acordo com ele, no Brasil as iniciativas se assemelham mais a diversas canoas que a um transatlântico, e precisariam ser mais conectadas entre si.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Para Moran, a educação a distância é vítima do mesmo modelo focado em conteúdo das aulas convencionais no Brasil.

"Não se discute se é a distância ou não, mas sim a forma", diz. "O que falta na educação a distância também é o acompanhamento de atividades práticas." Para ele, o modelo deveria ser revisto em todos os tipos de formação no país.

Callegari afirmou que a formação de professores a distância pode ser ainda mais problemática. Para ele, assim como os médicos, todo professor deveria fazer uma residência educacional durante a formação.

Segundo Priscila, a educação docente ainda precisa ser feita "olho no olho". Ela disse ainda que há um exagero na aplicação da educação a distância para a formação de professores.


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