Folha de S. Paulo


Papel reciclado para impressão é substituído por versão certificada

Imprimir, ler e escrever em papel reciclado já foi moda sustentável no Brasil. Ele estava em tudo: na fatura do cartão, nas folhas de cheque, nas páginas de cadernos. Isso, no entanto, ficou para trás. A produção de papel reciclado caiu nos últimos anos, segundo especialistas.

A recicladora GTF Papéis, em São Paulo, recolhe 80 toneladas ao dia do resíduo descartado por empresas. Genaro Torres, sócio da companhia, diz que o material segue para a indústria e retorna, em geral, em forma de caixas ou produtos higiênicos.

Na editora Melhoramentos, especializada em literatura infantil, faz tempo que os livros não são impressos nesse tipo de papel, diz Breno Lerner, CEO da companhia. "Fizemos em reciclado para uma série do Greenpeace.
Mas foi uma demanda específica lá dos anos 2000", diz.

Os bancos, as seguradoras de saúde e a indústria de cosméticos foram os segmentos que mais utilizaram o papel como estratégia de marketing, na visão do economista Geraldo Ferreira, diretor da Iguaçu Celulose.

"Partiu de setores mal avaliados pelo consumidor, que precisavam mostrar que suas operações não visavam apenas o lucro, mas também tinham uma preocupação ambiental", explica.

O Banco Real, adquirido pelo Santander, foi o pioneiro. Fechou em 2004 uma parceria com a Suzano, fabricante de papel e celulose, para criar cheques, faturas e cartas em papel reciclado.

A novidade gerou uma demanda, diz Linda Murasawa, superintendente de sustentabilidade do Santander. "O banco não polui, não usa água de forma intensiva, mas consome muito papel. Esse é o maior impacto gerado por nossa atividade", diz ela.

O reciclado era fabricado a partir de uma mistura de sobras da produção da Suzano e complementado com o que era coletado pelas cooperativas. "Demorou para atingir a qualidade. Os contratos não davam leitura e ficavam borrados após a impressão."

Após cinco anos, o banco fez um estudo da iniciativa e o resultado surpreendeu. "Foram constatados impactos ambientais iguais no uso de água, químicos e energia, entre o papel reciclado e o papel certificado", afirma Murasawa. Foi o fim de um ciclo.

"É também uma questão econômica. A indústria papeleira se organizou e ofereceu um papel certificado mais barato", diz a executiva. O certificado é o papel virgem feito a partir da extração de celulose de eucaliptos com registro no FSC (Conselho de Administração de Florestas).

EDUCAÇÃO

Para Ana Maria Luz, presidente do Instituto GEA (Ética e Meio Ambiente), o papel reciclado para impressão não vingou porque a indústria também não desenvolveu a coleta seletiva para esse fim.

"O papel que circula não é 100% reciclado. Nele, ainda se adiciona celulose, e isso desestimula o aumento da coleta que está nas ruas", diz.

Segundo Geraldo Ferreira, as empresas que surfaram na modinha pecaram no passo seguinte. "Fizeram apenas o marketing do bonzinho, sem educar o consumidor, sem analisar o processo."

E daí veio a tecnologia, com a certificação digital, que garante validade aos documentos, e vem tornando o papel ainda mais dispensável.

"A nova onda é não usar papel porque a tecnologia já garante segurança em transações bancárias, na emissão de documentos", afirma Ismael Rocha, diretor do Centro de Desenvolvimento Socioambiental da ESPM.

Segundo a Ibá (Indústria Brasileira de Árvores), foram reciclados em 2015 61% de todos os papéis consumidos no país, que inclui embalagens e higiênicos, entre outros. A entidade não tem dados separados do papel para impressão.


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