A reciclagem e o pleno aproveitamento do vidro passam por um gargalo: embora 100% reciclável, o material ainda não atingiu índices de coleta significativos no país.
Os dados sobre a efetiva reciclagem no material estão sendo levantados pela Abividro, associação que representa os fabricantes, e devem ser conhecidos até o final de junho. Hoje, estimativas apontam para um índice de reciclagem entre 30% e 40%, bem inferior aos de outras embalagens, como o PET (58%) e as latas de alumínio (98%).
O principal motivo para a baixa taxa de reúso é a ineficiência da coleta, impedindo que grande parte do vidro pós-consumo chegue à fábrica para ser reintroduzido no processo produtivo.
Como os polos vidreiros estão concentrados em algumas capitais (São Paulo, Recife, Rio de Janeiro e Porto Alegre), o custo logístico para o transporte de cacos por longas distâncias inviabiliza a reciclagem. O preço do material, por si só, não paga os custos do frete e da coleta.
"A grande dificuldade é a falta de um sistema integrado, que una fabricantes e consumidores, para facilitar a coleta e incorporar as que viram caco para que se transformem em novas embalagens", afirma Stefan David, consultor de reciclagem da Abividro (Associação Técnica Brasileira das Indústrias Automáticas de Vidro).
A associação chegou a propor ao governo um modelo inspirado no sistema adotado na Europa, em que uma entidade sem fins lucrativos ficaria responsável por articular o recolhimento e incentivar o consumidor a levar as embalagens a pontos de coleta.
Só que a proposta previa que os grandes consumidores dessas embalagens, como indústrias de bebidas, arcassem com a entidade, e não teve muita adesão.
A associação estuda reavaliar a proposta ou aderir ao acordo que a indústria de embalagens firmou com o governo em 2015, para cumprir a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que prevê a ampliação da coleta e da reciclagem.
Além das vantagens ambientais, reciclar é vantajoso para o fabricante: cada quilo de caco substitui 1,2 quilo de matéria-prima virgem.
A Owen-Illinois, uma das maiores indústrias vidreiras do mundo, tem feito parcerias com clientes que utilizam as embalagens para aumentar o volume de cacos que retornam às fábricas. Hoje o percentual de vidro reciclado nos produtos que fabrica é de 24%, mas a empresa tem uma meta global de aumentar esse volume para 60%.
Mas, dadas as dificuldades de realizar a coleta em um país do tamanho do Brasil, a empresa não fixou um prazo para atingir a meta, afirma Flavio Castellan, diretor de compras da Owen-Illinois.
Mesmo cidades com coleta seletiva enfrentam problemas. Em São Paulo, por exemplo, as centrais de triagem mecanizadas das concessionária EcoUrbis e Loga, responsáveis pela coleta seletiva, não separam os cacos dos demais materiais recicláveis por causa do maquinário.
Para aumentar o volume de cacos que chegam às fábricas, a empresa mantém um programa com fabricantes de bebidas cujo objetivo é incentivar bares e restaurantes a separar o vidro e encaminhá-lo às cooperativas.
O programa opera em 135 estabelecimentos e, desde seu início, em 2010, reintroduziu no processo produtivo 8.000 toneladas de vidro, o equivalente a 16 milhões de garrafas de bebida de 1 litro.
Embalagens de vidro para bebidas foram soberanas durante décadas, até que outras alternativas, como PET e embalagens longa-vida, se tornassem competitivas.
A garrafa reutilizável ensaiou um retorno no mercado de refrigerantes, mas continua na ativa com outras bebidas: a Cia. Muller de Bebidas, fabricante da Cachaça 51, envasa 95% de suas garrafas com os retornáveis.