Folha de S. Paulo


Especialistas em saúde defendem dar maior atenção à prevenção

É preciso mudar o modelo de saúde brasileiro, baseado em atendimento emergencial e fragmentado, em que os prestadores de serviço lucram com o aumento dos gastos.

Consenso entre os participantes do segundo dia do 3º Fórum A Saúde do Brasil, realizado pela Folha em parceria com Interfarma e Unimed, as mudanças para tornar o sistema economicamente sustentável e adequado à população passam por uma visão integrada da saúde, ações de prevenção, gestão inteligente e acesso à informação.

"No Brasil, a assistência tem alto custo e baixa eficiência", afirmou Martha Oliveira, da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar). O cuidado precisa ser centrado na pessoa, e não na doença, completou João Bastos Freire Neto, da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia -a maioria dos idosos sofre de mais de uma doença crônica, e o gerenciamento individual delas não resolve.

A forma como o modelo está estruturado faz com que os hospitais sejam a única porta de entrada, e o alto custo das internações pressiona ainda mais a "inflação médica" (quase o dobro da oficial).

"Os hospitais têm muito desperdício, utilizam recursos complexos em casos simples", afirmou Claudio Lottenberg, presidente do Hospital Albert Einstein. Segundo Walter Cintra Ferreira Junior, da FGV-SP, a incorporação de tecnologias faz essa conta crescer ainda mais.

A questão da remuneração de médicos, baseada na quantidade de procedimentos e não em resultados, também precisa ser revista, assim como as atribuições desses profissionais. "Há coisas que podem ser assumidas por enfermeiros", disse Gonzalo Vecina Neto, professor da USP.

Outro fator para o aumento do custo da saúde é a judicialização. Durante a palestra de abertura, David Uip, secretário estadual da Saúde de São Paulo, afirmou que as ações judiciais para obtenção de remédios e tratamentos devem custar R$ 1,2 bilhão ao Estado neste ano.

Isso também encarece os planos privados de saúde. "A judicialização é a indústria do direito individual se sobrepondo ao coletivo", disse Solange Mendes, presidente da Federação Nacional de Saúde Suplementar.


Endereço da página:

Links no texto: