Cortar despesas na saúde em tempos de recessão é um desastre tanto do ponto de vista humano quanto do financeiro, afirma David Stuckler, professor de política econômica e saúde pública na Universidade de Oxford, Reino Unido.
Autor de "A Economia Desumana - Por Que Mata a Austeridade" (ed. Bizâncio, Portugal, cerca de R$ 84), Stuckler esteve no Brasil para a 22ª Conferência Mundial de Promoção e Educação na Saúde UIPES, realizada em maio, em Curitiba (PR).
No livro, o economista e sociólogo britânico compara os efeitos da redução e do aumento de investimentos em saúde pública em diferente países, em períodos de crises econômicas.
No último dia 11 de junho, Stuckler deu uma entrevista, por telefone, à Folha. Leia abaixo os principais trechos da conversa.
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Folha - Por que o senhor afirma, em livros e palestras, que a redução de gastos em saúde é a pior catástrofe?
David Stuckler - Porque há um risco real e comprovado de mais mortes, surtos de infecções como por HIV, retorno de doenças erradicadas como malária, aumento dos índices de alcoolismo e suicídio epidêmico. É o que vimos acontecer recentemente na Grécia, por exemplo. Agora, para lidar com esses problemas, o governo grego vai ter de gastar mais do que teria gasto para prevenir doenças.
Austeridade em saúde é uma falsa economia, e não é nenhum exagero dizer que austeridade mata.
Quais seriam os argumentos econômicos para convencer as autoridades a não cortar o orçamento para a saúde durante uma crise?
Há um clichê econômico que diz: "Uma onça (28 gr) em prevenção vale uma libra (450 gr) em cura".
Algumas pessoas pensam que saúde é só um custo a mais a ser abatido, mas os governos fazem escolhas sobre onde gastar ou poupar em tempos difíceis. Frequentemente, este debate acaba sendo apenas ideológico, mas pode-se debater com evidências científicas.
No departamento de sociologia [de Oxford] estamos estudando um conceito chamado multiplicador fiscal. É um cálculo sobre quanto dinheiro você consegue de volta com diferentes tipos de gastos públicos.
Descobrimos que os melhores índices multiplicadores vêm dos gastos com saúde e educação. Entre os piores, estão os gastos com defesa: em alguns países europeus, esses índices chegam a ser negativos.
Portanto, mesmo quando é inevitável fazer cortes, é melhor proteger a área da saúde. É uma oportunidade de recuperar a economia e crescer mais rapidamente.
Divulgação/ Universidade de Oxford | ||
David Stuckler, professor de política econômica e saúde pública na Universidade de Oxford |
Além de evitar cortes, os governos deveriam investir ainda mais em saúde durante a crise?
Sim, e isso tem sido feito com sucesso na história. Para citar um exemplo clássico, o "New Deal", programa de recuperação econômica dos Estados Unidos após a Grande Depressão iniciada em 1929, investiu muito na construção de hospitais e escolas.
Investir em saúde e bem-estar é uma oportunidade de retomada do crescimento, e eu espero que o governo brasileiro aprenda com essas lições da história para enfrentar a crise pela qual o país passa.