Folha de S. Paulo


Falta de gestão do médico gera preços altos em hospitais, dizem palestrantes

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Os altos custos dos hospitais particulares se devem à falta de visão gestora do médico e à fragmentação do sistema de saúde. Essa é a conclusão a que chegaram os palestrantes da sexta mesa do 3º Fórum a Saúde do Brasil, que aconteceu na manhã desta quarta (15).

"O profissional não tem estímulo para fazer uma medicina que gerencia custos," disse Claudio Lottenberg, presidente do Hospital Albert Einstein, no seminário promovido pela Folha em parceria com Interfarma e Unimed. "O médico deixou de ser reconhecido como líder e não é remunerado por um serviço bem feito."

Para ele, é preciso formar médicos que tenham perfil de liderança e conhecimento de toda a cadeia produtiva da saúde. Ele rechaçou, porém, a ideia de que o médico é a causa de todos os problemas financeiros do sistema. "Ele é mais produto do sistema que criamos. É preciso reposicioná-lo."

Para Francisco Balestrin, presidente do Conselho de Administração da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), é necessário instituir um modelo de governança corporativa em hospitais, de modo semelhante a outras empresas públicas e privadas.

"Os médicos de faixa etária mais alta são menos afeitos a mudanças de procedimento para uma governança clínica," opinou ele. Balestrin defende que hospitais e demais instituições de saúde devem estar abertos a ter gestores profissionais formados em outras áreas.

José Luiz Setúbal, provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, disse acreditar que tanto profissionais quanto pacientes precisam compreender melhor os ônus das atividades médicas. "Os médicos precisam se conscientizar que existe um custo por trás de cada procedimento que ele faz."

Setúbal disse acreditar que parte da culpa está numa visão dual da medicina, considerada no limiar entre ciência e arte. "O médico é um cientista que vem usando mais estatística, medicina baseada em evidência, mas na hora de aplicar em casos individuais, vê o que está fazendo como uma arte." Essa visão, para ele, impede que se pese os custos de maneira adequada. Ele discordou da opinião de que o médico é mal remunerado. "Ele é menos remunerado do que gostaria de ser."

O presidente do Einstein apontou que as contas de hospitais não são caras, mas infladas pela admissão de casos que não deveriam ser tratados ali. "Os hospitais têm muito desperdício, utilizam recursos complexos em casos simples, em internações que não deveriam nem acontecer".

Ele destacou que é necessário também que a sociedade tenha uma visão mais ampla do sistema de saúde. "É preciso que o desenho do sistema como um todo prevaleça ao paciente, e não a existência do hospital de forma isolada."

Setúbal concordou e adicionou que o foco para redução de custos deve estar na prevenção e promoção da saúde, que é o mais barato e eficaz. E complementou: "cara é a medicina mal feita."


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