Folha de S. Paulo


Integração de terapias contra o câncer pode evitar sofrimento, diz oncologista

Mesa "Atendimento interdisciplinar em câncer"

A combinação de tratamentos que vão da imunoterapia ao acompanhamento psicológico na oncologia foi o tema central da mesa "Atendimento Interdisciplinar em Câncer" no segundo e último dia do Fórum o Futuro do Combate ao Câncer, realizado pela Folha com patrocínio dos laboratórios Bristol-Myers Squibb e MSD.

Para o cirurgião oncológico Ademar Lopes, vice-presidente do A.C. Camargo Cancer Center, a multidisciplinaridade aplicada no tratamento do paciente com câncer é acompanhada de uma evolução do conhecimento que se tem da doença hoje.

"Houve uma quebra de paradigma ao longo do tempo. Até pouco tempo atrás, uma mulher com câncer de mama, por exemplo, tinha a remoção completa da mama e a taxa de retorno da doença ainda era alto. Hoje, é possível fazer o diagnóstico com perfil biológico e molecular e oferecer uma associação de armas terapêuticas com maior eficiência: hormonoterapia, imunoterapia, radioterapia, quimioterapia e cirurgia oncológica", afirmou.

Segundo Lopes, a integração de terapias pode evitar cenários onde o paciente passa por tratamento sofríveis e desnecessários. "Um exemplo disso está na aplicação da cirurgia oncológica. Uma pesquisa da revista médica de 'The Lancet' mostrava que 65% dos pacientes passaram por esse tipo de cirurgia de maneira errada, seja por falta de treinamento adequado do médico ou estrutura hospitalar multidisciplinar", disse.

Para Antônio Carlos Buzaid, chefe do Centro de Oncologia Antonio Ermírio de Moraes, ligado à Beneficência Portuguesa, o tratamento interdisciplinar é uma necessidade perante as limitações dos tratamentos disponíveis atualmente.

"De fato, a multidisciplinaridade é também uma testemunha da nossa incapacidade para tratamento sistêmicos mais eficazes. Não tem nada mais triste no consultório do que ver um paciente amputado por causa de câncer, o que poderia ser evitado com mais conhecimento. Mas as armas disponíveis hoje são estas, e integrar tratamentos é uma arte", disse.

Fernanda Capareli, oncologista do Hospital Sírio-Libanês e também do Instituto do Câncer de São Paulo Octavio Frias de Oliveira (Icesp), relatou que tratamentos em ambientes de multidisciplinaridade, combinados ao diagnóstico precoce da doença, estão entre os principais fatores para a cura.

"Não tem como fazer boa oncologia sem conversar com os pares. Ver cada etapa do tratamento auxilia na formação de um olhar holístico sobre o paciente e a família. Mesmo quando houver uma droga mágica, a conversa entre as equipes médicas será essencial, pois o câncer, como já foi colocado, é um conjunto de dezenas de doenças", disse ela.

Editoria de Arte/Folhapress
Veja o especial multimídia sobre os caminhos do combate à doença
Veja o especial multimídia sobre os caminhos do combate à doença

CARGA EMOCIONAL

A coordenadora do serviço de psico-oncologia do Instituto Paulista de Cancerologia, Vera Anita Bifulco, disse que a participação de outros profissionais da área médica pode ser importante para tirar dos oncologistas a pesada carga emocional que pode existir na relação entre médico e paciente.

"Eu faço parte de uma equipe multiprofissional e não vejo isso no tratamento de outros lugares. O tratamento ainda é marcado por desigualdade e o encargo emocional do câncer todos os dias pode ser pesado demais para um único profissional".

Segundo ela, o acompanhamento psicológico também pode ser essencial para amparar o paciente após o diagnóstico, muitas vezes aceito com dificuldade.

"O momento do diagnóstico ainda é o mais sensível e, quando a cura não é mais possível em alguns casos, oferecer cuidados paliativos da mais alta qualidade é uma necessidade, pois para muitos pacientes o que pesa mais é o social, o emocional ou o espiritual", afirmou ela.


Endereço da página:

Links no texto: