Folha de S. Paulo


Oncologista defende ampliação de acesso à genética para prever câncer

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A terceira mesa do seminário O Futuro do Combate ao Câncer, realizado pela Folha nesta terça (29) no Tucarena, em São Paulo, discutiu os novos meios de prevenção e detecção da doença. O evento tem patrocínio dos laboratórios Bristol-Myers Squibb e MSD.

Coube ao reitor da USP e professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Marco Antonio Zago, iniciar a conversa. Ele falou sobre os avanços em prevenção e detecção nas últimas décadas. Citou como exemplo a leucemia mieloide em crianças, que nos anos 70 levava à morte em questões de semana e hoje é curada em 90% dos casos.

Também participaram da mesa José Claudio Casali da Rocha, criador do primeiro serviço de aconselhamento genético para pacientes de câncer do Hospital A.C. Camargo e Nelson Hamerschlak, hematologista do Hospital Albert Einstein. O debate foi mediado pela jornalista Sabine Righetti.

Segundo Zago, a mudança ocorreu pelo progresso nos métodos de diagnóstico, pelo desenvolvimento de novas drogas e pelos testes controlados que permitem avaliar a eficácia dos tratamentos.

Na área de diagnóstico, citou o avanço nos exames laboratoriais e de imagem. E afirmou que o conhecimento biomolecular do câncer ainda vai progredir muito e melhorar as formas de diagnóstico e tratamento.

Em termos populacionais, a mortalidade por câncer ainda é muito alta. Enquanto as mortes por todas as causas caíram 20% no mundo todo, as por câncer só diminuíram 10%, segundo Zago.

No entanto, ele lembrou que formas previníveis de câncer, como as causadas por infecções (colo do útero por HPV) caíram um pouco mais (15%), mostrando a importância da prevenção.

Sobre os investimentos em prevenção no Brasil, Casali da Rocha afirmou que "ainda estamos apagando incêndios". Para ele, é preciso "democratizar a genética e tornar o câncer mais previsível".

Editoria de Arte/Folhapress
Veja o especial multimídia sobre os caminhos do combate à doença
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Ele discorreu, ainda, sobre o alcance e as limitações do mapeamento genético. Ele afirmou que não se deve oferecer mapeamento genético para doenças que atualmente não podem ser prevenidas, mas que é uma ferramenta útil para evitar ou tratar precocemente vários tipos de câncer.

A consulta oncogenética, disse Casali, começa com a avaliação de risco familiar. "Um dos maiores limites para a prevenção em termos governamentais é não ter programa que olhe para a história da família", disse Casali.

Hamerschlak falou sobre a distinção entre o que é genético e o que é hereditário e sobre a importância de uma medicina personalizada que, em vez de seguir exclusivamente as alterações genéticas, olhe cada indivíduo como um ser único.

Sobre a discussão de se tratar ou não uma doença que ainda não se manifestou, os participantes da mesa disseram ainda não ter uma resposta. "Talvez daqui a 30 anos saberemos", disse Hamerschlak.

Para Casali da Rocha, o conceito novo é que genética não é destino. É preciso estudar, segundo ele, além dos fatores de predisposição, o papel de fatores como estilo de vida e hábitos como a meditação, que podem causar alterações químicas no DNA.

Os métodos radicais de prevenção, como a mastectomia total em pessoas de família com alto risco de câncer de mama, foi considerado um procedimento válido por Zago. "É válido se o paciente está bem informado."

Hamerschlak afirmou que há ferramentas já disponíveis e de custo menor, como exames de rotina (mamografia, colonoscopia etc.) e vacinação e que o uso desses métodos deve ser estimulado e ampliado a toda a população.

Para Zago, houve avanços em várias áreas, mas é preciso investir mais em programas educacionais para prevenção.


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