Folha de S. Paulo


Fundo Amazônia buscará novos financiadores em Londres

A Noruega anunciou o pagamento da última parcela ao Fundo Amazônia, que, sem seu principal financiador, precisará buscar novos doadores.

Em 2008, o país nórdico se comprometeu a pagar US$ 1 bilhão para o organismo gerido pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) com o objetivo de financiar iniciativas que colaborem para o combate ao desmatamento ou que promovam o uso sustentável da floresta.

O Fundo Amazônia será um dos temas do Fórum Desmatamento Zero, que a Folha realiza segunda e terça-feira (21 e 22), com o patrocínio da Clua (Climate and Land Use Alliance).

No final de outubro, o fundo pretende apresentar em Londres os resultados dos últimos anos e, assim, captar novas verbas.

"É o fim de uma de nossas parcerias, mas os nossos governos estão em diálogo para futuras colaborações", disse à Folha a ministra norueguesa do meio ambiente, Tine Sundtoft.

O recebimento do dinheiro era condicionado à redução do desmatamento da floresta amazônica, meta que o Brasil conseguiu cumprir nos últimos anos.

"O potencial de captação é de US$ 16 bilhões pelo desmatamento evitado", afirma a coordenadora do fundo, Juliana Santiago.

O fundo ainda deve receber o aporte de 100 milhões de euros, investimento anunciado pela chanceler alemã Angela Merkel em agosto, quando esteve no Brasil.

PROJETOS

Os projetos financiados pelo Fundo Amazônia obedecem a diretrizes para aplicação dos recursos e giram em torno de quatro eixos: ordenamento territorial e uso da terra, estímulo à produção sustentável, iniciativas científico-tecnológicas e recursos para monitoramento.

Um exemplo é o projeto para o manejo e produção agroflorestal da comunidade indígena do Alto Juruá (AC), proposto pelos próprios índios e ligado ao eixo de estímulo à produção sustentável.

Já na área de monitoramento, essencial para poder entender os estragos provocados pelo desmatamento, há o projeto para criação de uma estrutura em parceria com outros países que também possuem áreas de floresta tropical, como Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Suriname, Venezuela e Guiana.

Leia abaixo a entrevista completa com a ministra Tine Sundtoft, , e Per Fredrik Pharo, diretor do Programa de Internacional de Clima e Floresta da Noruega:

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Folha - A Noruega anunciou que pagará a última parcela para o Fundo Amazônia, que totaliza US$ 1 bilhão. Qual o próximo passo na parceria com o Brasil?
Tine Sundtoft - É o fim de uma de nossas parcerias, mas os nossos governos estão em diálogo para futuras colaborações.

Quais colaborações?
Temos boas discussões com o Brasil. Tive encontros com [a ministra do meio ambiente] Izabella Teixeira e temos interesses comuns na Conferência de Paris [COP 21].

Os últimos dados do sistema Imazon mostram que a taxa de desflorestamento pode estar subindo novamente. Se os dados oficiais confirmarem essa tendência, isso pode colocar em perigo o relacionamento com o Brasil no futuro?
Nossa parceria depende da performance do Brasil, e nós estamos muito impressionados com o que o país conseguiu entregar nos últimos dez anos. Temos que esperar para ver o dado oficial.

A Amazônia tem recebido muita atenção internacional nos últimos anos, enquanto o cerrado ficou um pouco esquecido. É possível que no futuro seja criado um Fundo Cerrado?
Per Fredrik Pharo - O fundo prevê usar 20% da verba para projetos em outros biomas, e o escopo do governo brasileiro parece estar se expandido, incluindo o cerrado, mas é isso é uma decisão brasileira. As reduções na Amazônia foram acompanhadas pela estabilização nos outros biomas no resto do país, mas a Amazônia é crucialmente importante.

China e Índia esperam que os países ricos paguem pela poluição, e os países ricos esperam que China e Índia poluam menos. As duas visões podem ser conciliadas na Conferência de Paris?
Tine Sundtoft - Eu acredito em um acordo em Paris. É importante que todos os países do mundo façam parte, mas também é importante que alguns países ricos façam mais e financiem projetos. É por isso que a Noruega tem financiado projetos sobre clima e florestas.

A Noruega está com comprometida com a chamada tecnologia verde, mas a economia depende pesadamente do petróleo. Não é um risco para o país?
Estamos discutindo na Noruega a mudança da nossa economia para uma de nível mais baixo de emissões de carbono. Temos de reduzir o uso de combustíveis fósseis e a poluição no setor de transportes, além de usar mais energias renováveis.


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