Folha de S. Paulo


Recuperação na mata atlântica pode evitar colapso nas cidades, diz SOS

A recuperação da mata atlântica pode ser uma arma importante para combater a crise hídrica que atinge o Sudeste do Brasil. Estudo da organização não governamental SOS Mata Atlântica aponta que a recomposição de áreas estratégicas, como as margens de rios, podem evitar o colapso nas cidades.

Cerca de 72% da população brasileira vive no bioma mata atlântica.

No estudo sobre a situação da bacia do sistema Cantareira, antes responsável pelo abastecimento de água para 9 milhões de pessoas na região metropolitana de São Paulo, a ONG constatou que só 21,5% (488 km²) da bacia ainda contam com cobertura vegetal. Apenas 23,5% do curso dos rios estudados têm matas nativas em seu entorno com área superior a um hectare (10 mil m²).

Segundo a SOS, manter a floresta em pé pode minimizar os períodos de seca, já que a vegetação ajuda a reabastecer os lençóis freáticos. Ela funciona como uma esponja e evita que a água da chuva escorra pela terra antes de se infiltrar. Por isso a mata também impede a erosão do solo e o assoreamento dos rios.

"A destruição da floresta causa problemas sérios às cidades, que vêm sofrendo períodos críticos de seca e de chuvas fora de época. Essas situações são um reflexo", afirma Márcia Hirota, diretora-executiva da ONG SOS Mata Atlântica.

RECUPERAÇÃO FLORESTAL

Enquanto na Amazônia as atenções governamentais estão voltadas a alcançar o desmatamento ilegal zero, na mata atlântica, a realidade é outra. Com apenas 12,5% de seu território original, a prioridade na floresta que acompanha o litoral brasileiro são medidas para a recuperação.

"Ações como o Pacto de Restauração Florestal, do qual fazemos parte e que tem como objetivo restaurar 1,5 milhão de km² de mata atlântica até 2050, são muito importantes para o país", afirma Hirota.

Se a meta for atingida, a atual cobertura florestal do bioma subirá de 12,5% para 30%, quando comparada à extensão original. O pacto foi firmado em 2009.

Em junho deste ano, secretários de meio ambiente de 15 dos 17 Estados de abrangência da mata atlântica assinaram a carta "Nova História para a Mata Atlântica". Eles se comprometem nela a ampliar a cobertura florestal nativa e a perseguir a meta de zerar o desmatamento ilegal no bioma até 2018.

"Precisamos proteger o que ainda temos e avançar para recuperar áreas que não temos mais. Onde mais se desmata, hoje, é nas áreas de transição da mata atlântica para o cerrado no Piauí –campeão em desmatamento no levantamento mais recente, referente a 2014–, em Minas Gerais e na Bahia", diz Hirota.

"Garantir a biodiversidade em uma floresta que sofre forte pressão de urbanização, ou de atividades agropecuárias, e que está muito fragmentada, é um desafio", afirma.

Com o apoio da Clua (Climate and Land Use Alliance), a Folha realiza entre os dias 21 e 22 de setembro o Fórum Desmatamento Zero, que discutirá propostas e estratégias para eliminar o desmatamento no Brasil e a emissão de gases do efeito estufa causados por ele.


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