Folha de S. Paulo


A questão central da saúde é obter recurso para expansão

O governo federal aposta suas fichas na ampliação do número de médicos atuantes no país e na abertura de novas vagas nos cursos de medicina, mas há ainda muitas lacunas, especialmente na formação dos médicos, que comprometem a qualidade do atendimento.

Na abertura do 2º Fórum a Saúde no Brasil, promovido pela Folha, o ministro da Saúde, Arthur Chioro, disse que o governo está atento à expansão do ensino médico.

"Estamos inaugurando uma nova metodologia com o MEC para analisar quais municípios têm condições de receber novos cursos de medicina", afirmou ele.

Em dois dias de fórum, segunda (11) e terça-feira (12), especialistas debateram esse e outros assuntos ligados ao setor de saúde.

Eles foram unânimes em citar a falta de recursos do setor como um dos principais entraves –ainda mais em um cenário de crise econômica e de aumento nos casos de dengue, o que sobrecarrega o SUS e onera os cofres públicos.

Também falaram de problemas de gestão e do desperdício, que, segundo estimativas, chegam a drenar 20% dos recursos do setor.

FINANCIAMENTO

Os custos da saúde no Brasil e o desafio de levantar recursos também foram temas amplamente discutidos ao longo do evento. Do debate, surgiram ideias como taxar as grandes fortunas para aumentar os recursos para a saúde, proposta levantada por Áquilas Mendes, professor de saúde pública da USP.

No entanto, só aumentar o bolo de investimentos na área não resolve o problema, segundo Marcos Bosi Ferraz, professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). "É preciso atacar a ineficiência do sistema e combater o mau uso do dinheiro."

Na saúde privada, a escalada dos custos podem comprometer a sustentabilidade do setor, segundo dirigentes de planos de saúde e hospitais. A Anahp (Associação dos Hospitais Privados) discute modelo de compras coletivas como forma de economizar, afirma Francisco Balestrin, presidente da entidade.

"É preciso repensar o que significa resultado em saúde no Brasil; ele não é medido pela quantidade de procedimentos realizados", disse Martha Regina de Oliveira, diretora-presidente substituta da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar).

PESQUISA E REGULAÇÃO

Desburocratizar a regulação da pesquisa clínica e de novos produtos em saúde também é uma necessidade.

A lentidão para aprovar um novo medicamento no Brasil tem feito com que muitas indústrias farmacêuticas deixem de investir em ensaios clínicos no país, segundo Ana Paula Ruenis, diretora-presidente da Abracro, associação que representa as organizações de pesquisas clínicas.

Segundo ela, o prazo médio para o primeiro parecer da agência reguladora tem sido de 267 dias, mas já houve casos de um medicamento esperar mais de 480 dias para ser aprovado.

Ivo Bucaresky, diretor-presidente substituto da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), disse que o número alto de processos e a limitação de servidores estão por trás da demora.

Todos os 25 debatedores do fórum, que reuniu 280 participantes no MIS, em São Paulo, são unânimes em uma conclusão: quando se trata da crise da saúde, não existem soluções simples. Mas o enfrentamento das questões exige um diagnóstico preciso.


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