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Brasil tem de avaliar qualidade da formação de médicos, diz especialista

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Aumentar o número de vagas nos cursos de medicina não é suficiente para resolver as deficiências do sistema de saúde brasileiro: é preciso criar mecanismos para avaliar a qualidade da formação dos médicos que saem das faculdades e investir também na formação dos docentes.

Essa foi a conclusão do debate sobre formação médica no Brasil, realizado nesta terça (12), durante o segundo dia do 2º Fórum a Saúde do Brasil, promovido pela Folha.

"O governo acha que para descentralizar a medicina é preciso formar mais médicos. Mas não necessariamente esses novos médicos vão querer atuar nas regiões isoladas ou nas periferias das grandes cidades", disse Bráulio Luna Filho, presidente do Conselho Regional de Medicina de São Paulo.

Segundo Luna, os cursos de medicina no país refletem a grande disparidade social que existe na sociedade brasileira: no Estado de São Paulo, por exemplo, 70% dos estudantes de medicina vem de famílias com renda mensal acima de 15 salários mínimos e 85% são brancos. Os negros compõem menos de 1% das vagas. "Exercer a medicina em áreas remotas e com salários pouco atrativos não será a primeira opção profissional desses médicos recém-formados", disse Luna.

Jorge Araujo/Folhapress
Sigisfredo Brenelli, diretor-presidente da Abem (esq.), e Braulio Luna Filho, presidente do Cremesp durante o fórum
Sigisfredo Luis Brenelli, da Abem (esq.), e Bráulio Luna Filho, presidente do Cremesp, durante o fórum

A abertura de mais vagas e cursos de medicina é um dos pilares do programa Mais Médicos, do governo federal –ontem, o ministro da Saúde Arthur Chioro anunciou, durante o fórum, a criação pelo governo federal de 4.680 novas vagas em cursos de medicina em instituições públicas e privadas. Além disso, 39 cidades receberam autorização para criar novos cursos.

Na avaliação de Sigisfredo Brenelli, presidente da Abem (Associação Brasileira de Educação Médica), a criação de novos cursos está ocorrendo sem que seja feito um debate mais amplo com a sociedade. "O agravante é que, com esse boom de novos cursos, não se investe na formação do professor", afirmou.

Segundo os especialistas, o número elevado de cursos dá margem a discrepâncias em todo o país, como cursos de medicina sendo coordenados por profissionais de outras especialidades, como fisioterapeutas, e escolas que cobram caro pelas mensalidades sem oferecer uma formação de qualidade.

"Antes, era preciso ser um bom médico para ser um bom professor de medicina. Hoje, já não precisa ser nada", diz Brenelli. Para Luna, do Conselho Regional de Medicina de São Paulo, a elaboração de um ranking dos melhores cursos poderia ser uma das saídas para obrigar as faculdades a investirem na formação de qualidade.


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