Folha de S. Paulo


Opinião: Conscientização ambiental avança, mas com poucos resultados

A conscientização da sociedade brasileira sobre o meio ambiente cresceu nas últimas décadas, mas nem sempre ela gerou avanços ou, pelo menos, mobilizações para a solução de problemas no equilíbrio ecológico, inclusive daqueles que afetam grande parte da população.

Um dos melhores exemplos desse descompasso é o atraso do país no saneamento. Historicamente conhecido como um dos fatores mais prejudiciais para a saúde pública, principalmente da infância, ele também tem sido associado ao baixo rendimento na educação básica. No entanto, em 2012, ainda eram 44,5 milhões os brasileiros não atendidos por redes de esgoto, segundo o Pnud (Programa da Nações Unidas para o Desenvolvimento).

Em 2013, a falta de investimentos públicos colocou o Brasil, que é a sétima economia mundial, na 112ª posição em saneamento no ranking da ONU. E também faz rios e córregos serem esgotos a céu aberto no campo em pequenas e grandes cidades. Mas essa omissão governamental conta com a cumplicidade da sociedade, seja por não pressionar o poder público, seja por suas práticas predatórias, entre elas a de construir casas com fundos e canos voltados para os cursos de água.

Além de não ter universalizado o saneamento, o Brasil também não impediu o crescimento para níveis excessivos do uso de agrotóxicos nem a devastação indiscriminada do Cerrado. E muito pouco se viu de mobilização da sociedade para sanar esses problemas.

Desse modo, em relação a muitos prejuízos para a natureza, o Brasil parece não ter desde 1988 o imperativo Constituição Federal: "Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações".

Houve também avanços em leis, como a de Crimes Ambientais, e em programas de governo, como o de mudança climática. Avanços muitas vezes "apesar de seus autores", como disse Sérgio Buarque de Holanda, em "Raízes do Brasil" (1936), ao apontar nos colonizadores do país a mesma falta de uma "vontade construtora e enérgica" que nos assombra nesta fase pré-Copa.

E é de racionalidade e eficiência que se precisa para enfrentar muitos desafios ambientais. Por exemplo, da recuperação da Mata Atlântica, que depende cada vez mais de promover empreendimentos de exploração florestal sustentáveis e economicamente viáveis.

Talvez seja um desafio da conscientização para a sustentabilidade ser eficiente na mobilização pela eficiência nos avanços ambientais.


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