Folha de S. Paulo


Precisamos de produtos melhores, diz especialista em reciclagem

Criar produtos melhores, cobrar comprometimento público com coleta seletiva e redução do consumo são as principais medidas para incentivar a reciclagem do lixo, segundo Carlos Henrique Oliveira.

Oliveira é arquiteto e consultor do Instituto Pólis e foi o palestrante do quinto painel do Fórum Sustentabilidade, na manhã desta teça-feira (3).

"Esse tema está na ordem do dia de toda a sociedade brasileira, de todos os segmentos. É um dos grandes indicadores que precisamos ter novo modelo de desenvolvimento e sociedade", argumentou.

Para o convidado, existe uma "involução" no processo de recursos naturais, produção, consumo e descarte de mercadorias: "É um sistema linear e devemos fugir disso".

Carlos Oliveira foi um dos consultores do Plano de Gestão Integrada dos Resíduos Sólidos da Cidade de São Paulo. Ele informou que, até a década passada, cada habitante do município produzia diariamente menos de 1kg de lixo, em média. "Hoje, a taxa é de 1,2 kg por dia. Em Pinheiros, são quase 2kg por dia. Em Cidade Tiradentes, 0,63 kg", afirmou.

O desafio é reverter a situação atual, caracterizada por elevados índices de aterramento e baixos índices de recuperação de resíduos, segundo o consultor.

Alcançar esses resultados depende de medidas de curto e longo prazo. "Precisamos de produtos melhores, que sejam amigáveis à reciclagem e permitam que esse ciclo se estabeleça. Hoje a nossa situação é de vida útil curta e vida inútil, longa", disse Oliveira.

Ele acredita que o setor privado deve ter responsabilidade sobre o ciclo de vida dos produtos. Já o setor público, fica responsável por implantar coleta seletiva e dar alternativas para o cidadão. Ao consumidor cabe separar devidamente os resíduos e diminuir o consumo.

POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS

Para o convidado, a Política Nacional de Resíduos Sólidos, aprovada em 2010, deve ser respeitada, mas ainda há desafios que impedem o seu cumprimento.

"A lei estabeleceu dois prazos. Nos primeiros dois, os municípios deveriam ter elaborado seus planos e pouco mais de 10% cumpriu. Houve tempo suficiente para isso. O segundo prazo, que vence agora em 2014, diz que não se pode mais descartar os lixos em lixões, e sim em aterros. Também não é mais permitido levar mais resíduos para aterros – isso sim é muito mais complicado e o Brasil dificilmente conseguirá cumprir esses prazos. O município de São Paulo recupera só 2% [dos resíduos], ainda temos muito que avançar", disse Carlos Oliveira.


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