Folha de S. Paulo


'Hospital é lugar de paciente grave', diz especialista do Sírio-Libanês

Na visão de dirigentes dos principais estabelecimentos de saúde de São Paulo, o Brasil precisa se preocupar mais com a gestão dos hospitais, que devem ser destinados a pacientes mais graves.

Esse foi um dos pontos de acordo em debate nesta quinta-feira no Fórum a Saúde do Brasil, promovido pela Folha.

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Participaram da discussão Claudio Lottenberg, presidente do Hospital Israelita Albert Einstein, Gonzalo Vecina Neto, superintendente do hospital Sírio-Libanês e Walter Cintra Jr., diretor-executivo do Instituto de Ortopedia do Hospital das Clínicas.

Ao abrir sua fala, Cintra Jr. destacou que a saúde é uma área de pouco consenso e soluções difíceis.

"A discussão sobre o sistema de saúde lembra-me a fábula dos seis homens sábios do Turquemenistão, que queriam ver um elefante, mas eram todos cegos. Cada um sentiu uma parte do elefante. Um sentiu a tromba, achou que era uma cobra, o que sentiu o tronco disse ser uma parede e assim por diante. De alguma forma, todos estavam certos, mas na verdade, estavam todos errados", afirmou.

No evento, porém, os três especialistas foram unânimes em afirmar que o hospital não deve ser o primeiro local de procura de atendimento, ou seja, reforçam o atendimento primário, com as unidades de saúde, postos ou Upas (Unidades de Pronto Atendimento).

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Outro ponto de acordo foi o financiamento dos SUS (Sistema Único de Saúde) aos hospitais privados e Santas Casas.

Como foi dito pelo secretário de Saúde do Estado de São Paulo, David Uip, é preciso rever a tabela do SUS, que hoje, segundo Vecina Neto, paga apenas 60% dos custos.

Mas Vecina defendeu que os procedimentos devem ser revistos também nas redes privadas. "Nós não podemos cobrar por mililitro de oxigênio, como é cobrado hoje. Nós temos que cobrar por procedimento", afirmou.

A política da saúde também foi criticada. Lottenberg declarou que é preciso ver a saúde pública como uma política de Estado, e não de partido. Ele também criticou os médicos, que até hoje não se reuniram para dar uma nova perspectiva ao sistema.

Citou o exemplo do programa Mais Médicos, do governo federal. "Os médicos brasileiros criticam o programa, mas até hoje não deram outras alternativas para o governo. O mesmo acontece com as parcerias público-privadas", comentou.

Segundo Vecina Neto, o Brasil tem leitos sobrando, porém o grande problema é que 65% deles estão em hospitais que têm menos de 50 leitos. "O que nós fazemos com estes hospitais? Eles não podem ter investimentos, estão em lugares remotos, onde a população não precisa realmente do serviço. Hospital é lugar de paciente grave."


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