"Eu pedalo! Eu pedalo! Eu pedalo!", repetia Mirta Exposito enquanto dava voltas em uma pracinha próxima à avenida Paulista sobre uma bicicleta dobrável.
Até duas horas antes da cena, na manhã do sábado (30), ela não podia fazer tal afirmação: a professora de espanhol de 65 anos acabara de aprender a andar de bicicleta.
Mirta foi uma das nove idosas que foram até a praça da rua Minas Gerais, a um quarteirão do encontro da rua da Consolação com a avenida Paulista, para dar suas primeiras pedaladas.
O evento foi promovido pelo grupo de Facebook Nova Cara da 3ª Idade, que tem quase 100 mil adeptos na rede social, com professores do coletivo Bike Anjo.
"Quando era pequena, sofri um golpe muito sério andando de bicicleta. Depois, não consegui mais. Ensinei meus filhos e meus netos. Mas, eu, não mais", contou Mirta, argentina radicada em São Paulo há 40 anos, enquanto parava para tomar água.
Outras continuavam na lida. E fazendo planos. "O pessoal do meu prédio sai todo domingo e eu não vou junto? Agora não mais", disse a aposentada Neusa Antonio Morra, 74, enquanto se despedia da magrela que havia emprestado para enfim perder o medo. "Aprendi, mas tô com o joelho esquerdo doendo um pouco, então é melhor não abusar. Mas volto no próximo. Ah, se volto!"
Há aulas gratuitas para idosos todo último domingo do mês. Cada sessão tem 30 vagas, e a lista de espera chega a cem pessoas. Inscrições podem ser feitas no site: Bike Anjo.
NOVO SINAL DE IDOSO
O mesmo grupo que organizou o encontro também quer mudar o sinal usado para designar idosos em vagas reservadas, assentos de transporte público e filas de banco.
Na proposta do Nova Cara da 3ª Idade, sai o formato de velhinho curvado de bengala e entra um ereto humano acompanhado do sinal "60 +".
"O pictograma [símbolo] antigo não representa a terceira idade, que está cada vez mais ativa e longeva. O novo símbolo mostra um idoso ativo, ereto, retirando a ideia de fragilidade", explica a publicitária Fernanda Valéria, da agência Garage, que administra o grupo.
Antes de partir, Mirta parou de pedalar, desceu da bicicleta e, em lágrimas, abraçou a instrutora, Fabíola. "Agora chega de chorar, tá na hora de andar de bicicleta", disse, montou na bike e saiu repetindo seu mantra: "Eu pedalo! Eu pedalo! Eu pedalo!".