Folha de S. Paulo


Fotógrafo retrata índios isolados na Amazônia duas décadas depois do primeiro encontro

O helicóptero da Funai rodava há duas horas, sem GPS ou internet, até que enfim encontrou uma clareira nas terras dos Zo'és, grupo indígena isolado no norte do Pará. O ano era 1989.

Quando o pássaro de ferro pousou, foi cercado por índios curiosos. Ali, a tribo teve seu primeiro contato com os homens brancos. Um deles, o fotógrafo Rogério Assis, 48, que clicou os primeiros registros oficiais da tribo.

Foram 20 anos até ele resolver visitar os velhos amigos de novo. No dia 6, um livro sobre o reencontro será lançado na galeria Vermelho (centro) --as fotografias também serão vendidas por lá.

Nessas duas décadas, após a chegada da Funai, a população de Zo'és cresceu 86%, de 145 para 270 índios.

"Montaram até um posto dentário lá dentro", diz Assis, que se antecipa: "Mas é só para acompanhar, ninguém põe aparelho nos dentes dos índios".

Em mais de 80 fotos, "Zo'é" [ed. Terceiro Nome, R$ 70] mostra costumes e adereços típicos, como o "emberpot", principal marca de identidade do grupo --um pedaço comprido de madeira que atravessa lábios inferiores de homens e mulheres. "Ele é colocado para marcar a passagem para a adolescência", explica Assis.

Os cocares de penas de urubu-rei são exclusividade delas. Já eles não são vistos sem uma fita de palha amarrada à extremidade do pênis.

"É a roupa dos homens", conta. "Estávamos no rio e a palha de um deles se soltou. Quando todo mundo saiu da água, ele continuou lá, até encontrarem algo para 'protegê-lo'."

Para ganhar confiança, Assis passava longas horas no rio ou deitado em redes --sem câmera. "Eu era um estranho. Não dava para chegar fotografando", diz. "Quando sentia eles confortáveis, sacava o equipamento."

LANÇAMENTO DO LIVRO "ZO'É" Galeria Vermelho. Rua Minas Gerais, 350, Consolação, centro, São Paulo, SP. Tel.: 0/xx/11/3138-1520. 6/11, das 19h às 21h30.


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