Folha de S. Paulo


Relatos tristes de mulheres fora do padrão de beleza viram obras de arte em aquarela

"Somos lindos porque somos reais" é o lema da ilustradora Evelyn Queiroz, 24, conhecida como Negahamburguer (apelido de uma boneca que ganhou na infância).

A partir de depoimentos traumáticos sobre seios desiguais, vitiligo, buço, celulite, obesidade e magreza excessiva, ela cria imagens de mulheres seguras e bem resolvidas --sem precisar esconder qualquer imperfeição.

Seus desenhos, todos em aquarela, tornaram-se válvula de escape para meninas agustiadas por não cumprirem o padrão de beleza das novelas e editoriais de moda. Todos os dias, centenas delas enviam suas histórias para a página da artista no Facebook.

"Quando eu tirei a roupa toda, ele simplesmente olhou, fez uma expressão de sobrancelha, deu as costas e foi embora...", dizia uma das garotas.

Outra lamentava ter ouvido a seguinte cantada na rua: "Essas de cabelo ruim são do tipo que a gente pega de jeito e puxa os cabelos até alisar".

O trabalho começou há quatro anos. "O primeiro relato que desenhei foi de uma menina de 16 anos, que depois de levar um fora estava querendo se matar", conta.

Depois de receber a ilustração --uma gordinha charmosa e sorridente--, a garota desistiu do plano e passou a "dar atenção a quem realmente valesse a pena".

Também havia quem sofresse por motivos inusitados. "Ela era loura, linda, tinha olhos verdes, mas ninguém a levava a sério", conta. "Na escola a professora disse: 'é tão bonitinha, mas é tão burrinha"."

Junto às aquarelas, Evelyn também faz intervenções urbanas em grafite, lambe-lambe e adesivos para espalhar sua mensagem.

Ela conta que também passa por situações constrangedoras. "Fujo ao padrão feminino, tenho tatuagens e cabelo curto. Por muito tempo eu também sofri, mas abstraio", diz.

Sua ideia é transformar 50 dessas ilustrações (e seus respectivos depoimentos) em livro, com financiamento coletivo.

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