Folha de S. Paulo


Arquitetura brutalista se popularizou no Brasil na década de 1960

O brutalismo não nasceu no Brasil e não é só por aqui que esses prédios enfrentam problemas de conservação.

Em abril, o edifício Robin Hood Gardens, um maciço de concreto com 213 apartamentos, começou a ser riscado do mapa de Londres para dar lugar a um empreendimento de R$ 1,8 bilhão.

Arquitetos ingleses protestaram a favor da construção projetada em 1968, mas não teve jeito. Situações similares aconteceram em outros países da Europa e nos Estados Unidos.

Usando materiais crus como concreto aparente, a escola arquitetônica surgiu nos anos 1950, com obras como a Unidade de Habitação de Le Corbusier, mestre suíço da arquitetura moderna.

A ideia era levantar prédios ao mesmo tempo monumentais e austeros, sem elementos decorativos (mesmo a argamassa de acabamento, para deixar as paredes lisas, era considerada um excesso). Econômicos, contribuíam para a reconstrução das cidades do velho continente no pós-Segunda Guerra. O produto final era quase um raio-x da obra, com pilares e vigas escancarados.

Além disso, a arquitetura era funcional: o projeto privilegiava a praticidade. As cozinhas, por exemplo, deveriam ter uma organização perfeita --até a disposição de panelas e eletrodomésticos era milimetricamente planejada, para estarem mais à mão. Com isso se erguiam áreas mais compactas, economizando metros quadrados (e tempo de locomoção entre um cômodo e outro).

Por aqui, os "brutos" estrearam no Rio, como no Museu de Arte Moderna --que causou inveja até em Le Corbusier ("quis fazer esta coluna, mas não tinha armação desse tipo", disse em 1962).

Se a corrente europeia não dava bola para a beleza, nossos projetos buscavam elegâncias nas formas, atentos às proporções e aos desenhos.

Não se tratava de um mero conceito estético. O brutalismo se firmou também como uma militância política.

Com o avanço da ditadura, muitos dos arquitetos se aproximaram do Partido Comunista. Com o AI-5, em 1968, tanto Artigas quanto Paulo Mendes foram afastados do cargo de professor na USP. Seus edifícios refletiam a ideologia da esquerda em espaços abertos, propícios a grandes manifestações.

Em 1969, Artigas, mesmo malvisto pelo regime, concluiu a Faculdade de Arquitetura na Cidade Universitária, que se tornaria o maior referencial do movimento em São Paulo.

A escola espalhou suas obras pelos quatro cantos da cidade. A ítalo-brasileira Lina Bo Bardi tropicalizou-a em projetos como o MASP e o Sesc Pompeia. Já Paulo Mendes da Rocha, com menos de quatro anos de formado, venceu o concurso para projetar o Ginásio do Clube Paulistano, em 1958 --26 anos depois, construiu o MuBE.

A nova geração paulistana, como Angelo Bucci e Milton Braga, revê ideias modernistas. A Praça das Artes, projetada pela Brasil Arquitetura e inaugurada em maio no centro de São Paulo, é um exemplo de edifício que revisita o brutalismo que endurece, sem perder a ternura, da Escola Paulista.


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