Folha de S. Paulo


Em alta, mercado de cervejas artesanais tem de 'beer chatos' a designers de rótulos

Beber cerveja já foi mais simples para Fabio, 31, seu pai Wanderley Tonetti, 60, e os amigos Michel Guerra, 34, e Fábio Deri, 38. É noite de terça e os quatro estão enfurnados num porão para rotular e embalar garrafas. Desde novembro de 2012, eles trocaram a mesa de bar pela cozinha para produzir a própria cerveja.

Mergulhados no mundo do lúpulo (plantinha que dá amargor e aroma à bebida), passaram de bebedores de grandes marcas a artesãos de fim de semana. Intitulam seus rótulos, e a si mesmos, de Son of a Beer (filho de uma cerveja).

Há três meses, abriram uma confraria, que reúne 40 pessoas uma vez por mês para beber (na hora ou depois, em casa) cerca de 400 litros de cervejas feitas pelo grupo --média de dez litros, ou 30 chopes, per capita.

Nos últimos três anos, o número só de microcervejarias profissionais no Brasil foi de 70 para 250, segundo estimativa da Associação dos Cervejeiros Artesanais Paulistas. "O mercado está mais maduro. Hoje há muito mais estilos e invenções", diz o presidente da entidade, Victor Pereira Marinho.

No período, Marinho estima que a cidade ganhou 50 pontos de venda especializados. Há, ainda, os primeiros fabricantes de equipamentos nacionais (de caldeirões a filtros) e lojas que vendem insumos (fora o lúpulo, tem malte, levedura e ingredientes especiais, como extrato de carvalho, casca de laranja e fava de baunilha).

A Beer Experience, feira que congrega mais de 500 rótulos nacionais e importados, também fermentou. Desde a sua criação, em 2011, o evento triplicou de tamanho em vários sentidos: número de dias, de expositores e de pagantes. A edição que começa no dia 27 deve receber 6.000 pessoas e movimentar R$ 1 milhão.

O pavilhão da Bienal terá mesas juntando de caçadores de cerveja, que rodam o mundo entornando copos, a roqueiros atraídos pelos rótulos com nomes de bandas como Sepultura e Iron Maiden.

Quem produz e tem autorização do Ministério da Agricultura para vender seu produto aproveita a ocasião para mostrar sua marca.

A cervejaria Júpiter, criada em julho pelos irmãos Alexandre, 33, David, 36, e Rafael Michelsohn, 34, participa desta e de outras seis feiras até dezembro. "O investimento apenas nos eventos é de R$ 12 mil, mas o negócio foi planejado para dar dinheiro só daqui um ano", diz Rafael.

revista saopaulo/revista sãopaulo

ARTE E CERVEJA

André Cancegliero, 34, criador do Beer Experience, vem com a cerveja Sporro, com rótulo feito pelo quadrinista Joe Bennett, que desenhou o Homem Aranha e o Wolverine para a editora Marvel.

Em 2011, André largou o emprego de dez anos num banco, raspou R$ 20 mil do fundo de garantia e investiu numa loja on-line de insumos e na feira.

A demanda por identidade visual aumenta a banca dos "designers de rótulos". O ilustrador Ciro Bicudo, 30, é dos mais requisitados. Cobra R$ 2.000 por um desenho feito à mão e colorido no computador. "Sempre tento fazer uma obra de arte."

Prova do sucesso dessa arte é a coleção do gerente financeiro Rodrigo Moura, 33. E olha que ele nem gosta de beber: tem 916 garrafas em casa e não pretende consumir nenhuma --abstêmio, comprou-as pelo rótulo.

Ele faz curso de sommelier para não passar vergonha diante dos "beer geeks", os estudiosos do assunto. "Tem algumas cervejas que até dá para tomar, se for para harmonizar com um prato." A primeira aula foi na segunda-feira: a turma combinou a bebida com queijos.

Há quem tema que os fãs virem "beer chatos": radicais e monotemáticos. "Cerveja é uma coisa muito legal, mas é fácil transformá-la em algo mala", diz o coordenador do curso de Administração dos Negócios da Cerveja da Fundação Getúlio Vargas, Túlio Rodrigues. "Tem gente que fica rodando e cheirando copo, igual o pessoal do vinho."

BERR EXPERIENCE
ONDE: prédio da Bienal, no parque Ibirapuera
QUANDO: 27, 28 e 29 de setembro
QUANTO: R$ 50 até o dia 15 e R$ 60 após, para os dias 27 e 29. R$ 70 até o dia 15 e R$ 90 após, para o dia 28


Endereço da página:

Links no texto: