Folha de S. Paulo


Romero Britto fatura R$ 184 milhões e diz ser 'uma honra' comparação a Paulo Coelho

Por terra ou ar, a primeira coisa que se vê ao chegar em São Paulo é um painel ou uma escultura de Romero Britto.

Suas obras estão na rodoviária do Tietê, no aeroporto de Guarulhos, na papelaria da esquina e nas casas de Madonna e Paulo Coelho (ele fica "honrado" quando o chamam de versão artística do escritor, e vice-versa).

Mas não são só celebridades que orbitam em torno do pernambucano -que, só em 2012, faturou mais de US$ 80 milhões (R$ 184 milhões).

Romero também faz sucesso entre políticos. Em julho, almoçou com o governador Geraldo Alckmin ("O Haddad eu não conheço"). Também já foi fotografado com Dilma e FHC.

A convite do príncipe Charles, jantou no palácio de Buckingham, em Londres, há dois meses ("pra mim é um luxo"). E promete participar do Fórum Econômico Mundial, na China.

O artista radicado em Miami gosta de estar nas paredes da "high society" e nos imãs de geladeira na rua 25 de Março. "Acho democrático", diz.

Cores fortes são sua marca. O tom vermelho do seu cabelo é natural?
Meu cabelo era meio cobre na juventude. Daqui para ali, boto cores diferentes. O sol também muda, fica meio dourado...

Você doou as obras que estão na rodoviária e no aeroporto?
Sim. Faço arte para quem está indo para o trabalho, para quem quer ser surpreendido com imagens positivas sem precisar entrar numa galeria ou museu.

O que os paulistas têm de mais elegante?
Bom gosto de se vestir. E a culinária é muito boa, o paulistano adora viver bem, tem casas lindas na cidade.

O que têm de mais cafona?
Cafona? Não digo cafona, mas falta um sentimento das pessoas contribuírem. Em outros países, quem tem, dá dinheiro e ajuda a embelezar as áreas públicas. A comunidade judaica é boa nisso.

Sua galeria é na Oscar Freire
Acho os Jardins um lugar tão chique... É muito alegre, muito de gente mesmo.

O desempenho da loja é bom?
Pelo fato de as pessoas ainda terem muito medo de andar na rua, o movimento não é o mesmo do Iguatemi. Ainda. Poderia sempre ser melhor.

Os paulistanos convivem com obras suas em locais públicos. O que acha da cidade?
São Paulo é o coração do Brasil. É um lugar muito dinâmico, tem gente do Brasil inteiro, é um ponto de encontro.

Como é a aceitação do seu trabalho por aqui?
Muita gente em São Paulo tem minha arte. Gente importante no Brasil, gente grande, que tem apartamentos em Miami ou Nova York, na França... O Brasil tem sido muito importante para mim em termos de colecionadores.

Em julho, você almoçou com Geraldo Alckmin na casa do empresário João Dória Jr.. O governador tem obras suas?
Ainda não. Ele gosta da minha arte e eu adoraria que minhas obras fizessem parte da família dele. Sempre que o vejo, me lembra mais um intelectual que um político. Isso passa muita confiança, ele é um homem sério.

Já esteve com o prefeito Fernando Haddad?
Não, ele eu não conheço, não.

Você foi fotografado com Madonna, Michael Jackson, Roberto Carlos... O que te fascina nas celebridades?
Elas são pessoas superinteressantes. Eu acho superlegal gente interessante. Em junho eu fui jantar no palácio de Buckingham a convite do príncipe Charles e da Camila. Para mim é um luxo. Eles [os ingleses] estão sempre de frente para o futuro, com a Revolução Industrial, a tecnologia também.

Também apareceu ao lado de Sérgio Cabral, Alckmin, Dilma, Obama, Bush... O que te fascina nos políticos?
Há centenas de anos os políticos estão dando forma às nações, países e culturas. É interessante. Você tem que falar com todo mundo. Eu acho fascinante uma pessoa como a Dilma, que passou por tudo que passou, se tornar presidenta do Brasil. É uma mulher... é uma grande coisa! Poxa vida, isso é especial.

Você acaba de presentear Paulo Coelho com um quadro...
Foi uma homenagem, Paulo é um grande amigo meu. É uma data importante, 25 anos de "O Alquimista". Acabei fazendo 25 obras em homenagem a ele.

E o que acha os livros dele?
Acho bem inspiração. Superinteressante. Ele é o maior sucesso, eu gosto. É tão bom ler.

Tem gente que diz que você é o Paulo Coelho das artes e que Paulo é o Romero Britto da literatura...
É fantástica essa comparação! Fico muito honrado!

Você anunciou a doação de uma escultura para o Maracanã, no Rio de Janeiro. O governo do Estado vem sendo acusado de mau uso do dinheiro público. Se isso se confirmar, você mantém a doação?
O governador lá do Rio de Janeiro é um dos melhores que o Rio já teve. Nunca as coisas são perfeitas, né? Sempre vai ter gente falando mal. O Sérgio Cabral é vítima nessa situação, é uma pessoa muito boa, ele a família dele, eu espero que tudo dê certo. O tempo vai mostrar que muitas vezes as pessoas falam coisas sem fundamento. Mas essa doação é para o povo carioca, não para o governo.

Qual é sua relação com a FIFA?
Sou embaixador da Copa do Mundo pela FIFA, fui convidado pelo Geraldo Alckmin. É um prazer. Eu faço muita coisa. Agora mesmo estou indo para a China para o Fórum Econômico Mundial. Fui convidado em Davos por nove anos. Vou falar sobre meu trabalho.

Dilma, Madonna, Rainha Elizabeth, Papa Francisco... Volta e meia há um coração pintado no rosto dos seus retratos. De onde vem essa fixação?
A vida da gente vai de encontro com amor. Tem que ser bom amigo, bom namorado, bom amante, bom cidadão, bom tudo. Se você não tem amor dentro de você, não vai atrair amor, aí vai ser péssimo tudo.

Você é um colecionador de arte? Tem quais artistas?
É bem misturado. Tenho Picasso, que adoro, Andy Warhol, Frank Stella, Rubens Gerchman, Brennand, desenhos de Matisse, Roy Linchenstain, Ray Man...

Por falar em Picasso, um texto publicado em seu site aproxima sua obra à dele. Por quê?
Eu adoro o trabalho dele, ele entendeu bastante como fazer e o que fazer com sua arte. Ele foi o maior sucesso, mesmo sem televisão, cabo, internet. Ficou famoso sem tudo isso. Hoje tudo é muito temporário. Foi um crítico alemão que fez essa comparação e eu achei superinteressante, quis dividir com todo mundo. Acho muito legal.

Você se considera um artista pop. Mas o trabalho de Andy Warhol aproveitava a reprodução e a linguagem da publicidade para também criticá-las. Isso acontece em seu trabalho?
Os artistas pops ingleses é que não achavam legal reproduzir para as massas. Nós, artistas aqui dos Estados Unidos, e particularmente Andy Warhol, abraçamos a produção em massa. Os americanos abraçaram as coisas massificadas porque com a Revolução Industrial as pessoas têm acesso a tudo. Tanto que Andy fez tudo em grande quantidade, foram centenas de Marilyns. Mas cada uma com um detalhe particular. É democrático. No fim, o que fica é uma imagem na nossa cabeça.

Ver seu trabalho em tudo incomoda?
Você vai a uma exposição do Picasso e, no fim, tem uma loja inteira de objetos com a arte dele. Isso é ótimo. Mas tem gente querendo sua obra que nem bolsa da Hermès ou da Fendi, que só três madames têm. Minhas obras não são bolsas ou sapatos. Não se vê ninguém com uma Chanel pendurada na parede.

Qual a diferença entre um cliente que compra um descanso de copos e outro que leva um quadro grande?
Tudo é gente, gente que quer trazer alegria para dentro de casa. Não importa quantidade e tamanho. As pessoas acham que arte alegre não é importante, que arte tem que ser triste para ser importante. Isso é um erro.

Além de Miami, em que lugares do mundo você moraria?
Sul da França... Inglaterra... Rio de Janeiro, que adoro. Depois São Paulo, depois Recife. Quero passar minha vida em vários lugares.

Você sabe que pegou o sotaque americano, né?
É que hoje estou muito cansado, acordei muito cedo, aí está pior ainda, desculpe dizer isso.

Pretende mudar a linguagem de seus quadros um dia?
Eu fiz muita coisa já, mas as imagens coloridas ficaram mais famosas. Já fiz colagem, guache, aquarela... Eu adoro rotina e criar processos, mas gosto do novo e do diferente. Estou pronto para isso.

Como você avalia o seu sucesso?
Muita gente ter o meu trabalho é consequência do que estou fazendo. Se um jovem quer ter sucesso pintando um quadro por ano, não consegue. Só se casar e tiver uma amante muito rica para pagar suas contas. Só se Peggy Guggenheim voltar ao mundo. Ter quem pague as suas contas não é muito bom para o mundo das artes, cria um estigma, porque não é profissional. Né não, que que tu acha?


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