Folha de S. Paulo


Conheça o que fazem (e o que vestem) oito jovens empreendedores

"Se não for antes dos 30, não tem graça", diz o empreendedor Pedro de Conti, 29. A frase é uma espécie de lema de um grupo de empresários que fundaram suas próprias companhias com uma ideia na cabeça e algum capital de investidores na mão: a geração start-ups (empresas iniciantes, em geral de base tecnológica).

Há no país cerca de 10 mil empresas desse tipo, segundo associações do setor. A maior parte surgida de 2010 para cá, quando houve um boom de investimento internacional em planos locais.

"A maioria dos alunos já pensa em abrir um negócio antes mesmo de terminar a faculdade", diz o analista econômico Ricardo Duiani. "Todo o mundo quer ser o próximo Mark Zuckerberg [criador do Facebook]."

Mas pouquíssimos chegarão lá.

"É uma corrida do ouro, que está agora no auge. Vão abrir muitas, e poucas permanecerão abertas. Em dois anos já veremos quem está aí para ficar", afirma Gustavo Caetano, presidente da Associação Brasileira de Start-ups.

Informalidade é um traço comum entre esses jovens executivos. Nenhum dos entrevistados usa terno para trabalhar e as executivas dizem pular o uso de salto alto. Até porque muitos deles já ocupavam cargos da diretoria antes mesmo de sair da faculdade. "É uma nova geração, que precisa tomar decisões mais rápido que os executivos de antes e que se importa menos com o visual", diz Eduardo L'Hotellier. "Mas, às vezes, ainda me visto de 'mulher séria', por mais que esse não seja meu uniforme de trabalho", admite Tahiana D'Egmont.

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TUDO O QUE RELUZ

Quem Livia Abrarpour, 28, e Kendra Pazello, 29
Empresa Juv acessórios
Modelo de negócio site de compra e revenda de bijuterias e semi-joiais

Há no escritório da Juv, em São Paulo, uma sala cheia de colares, brincos e aneis para os funcionários completarem seus "looks" no começo de cada dia. De graça. Não se trata de um benefício, e sim de um mostruário com todas as coleções de bijuteria, pedras brasileiras e acessórios à venda no site, aberto em março de 2012.

Fazer comércio direto com consumidoras de bijuterias, como seus funcionários, é a ideia de Livia Abrarpour, Kendra Pazello e Guilherme Chevarria, fundadores da empresa, que começou com 80 produtos e hoje tem 300. "Esse setor cresce três vezes mais do que o PIB nacional", afirma Livia, que estudou marketing em Boston e se juntou a Kendra, que passou pelo programa de trainees da Natura.

Ainda assim, o custo Brasil pesou no ânimo das jovens. "Abrir qualquer negócio aqui leva tempo, dedicação, e muita paciência", diz Lívia. Paciência que elas têm na hora de empreender e de se vestir a cada manhã. "Afinal, beleza é parte do nosso negócio."

Onde elas comeram

Café Octávio. Menu executivo: R$ 59,20, com sobremesa e prato principal, como o crocante de robalo, na foto. De segunda a sexta, do meio-dia às 15h. Av. Brigadeiro Faria Lima, 2.996, Jd. Paulistano, tel. 3074-0110

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CRÉDITO AO JOGO

Quem Tahiana D'Egmont, 27
Empresa UniPay
Modelo de negócio sistema de pagamento móvel, que transforma o celular em máquina de cartão

Tahiana D'Egmont tem 27 anos, mas já é considerada uma veterana entre seus pares. Começou a trabalhar aos 15, passou por algumas start-ups e abriu sua própria agência de marketing antes de receber o diploma da faculdade. "As coisas acontecem cedo, tudo ao mesmo tempo."

Quando tinha 20 e poucos anos, ela foi contratada como executiva de uma empresa internacional, com "salário acima de média do mercado". Mas não conseguiu ser um nome na folha de pagamento por mais de alguns meses -"O bichinho do empreendedorismo me mordeu, não teve jeito".

Pediu demissão e foi para outra empreitada. Aos 25 anos, ela era uma das sócias da Mentez, empresa de jogos sociais para Orkut que chegou a valer R$ 200 milhões. "Vendi minha parte em 2012 e fui recomeçar."

Pesquisou o mercado de telefonia celular e abriu, em 2012, a UniPay, que transforma celulares em máquinas de receber cartão de crédito.

Para ser levada a sério, -"às vezes pareço 'novinha' demais"-, ela opta por roupas mais clássicas. "E por muito trabalho, que é o que ganha no final."

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DA FARDA À CAMISA POLO

Quem Eduardo L'Hotellier, 28
Empresa GetNinjas
Modelo de negócio banco de profissionais "free-lancers" on-line

Os alunos de engenharia da computação do IME (Instituto Militar de Engenharia) não tinham muito ímpeto empreendedor. Foi por isso que um deles, Eduardo L'Hotellier, saiu da faculdade sem saber exatamente que poderia começar a própria empresa.

Mas não tardou: enquanto era funcionário de um fundo de investimentos, criou o protótipo de um site que ajudava o cliente final a encontrar faxineiras, eletricistas, tradutores e todo tipo de profissional "free-lancer".
Foi quando investidores o procuraram para bancar a empreitada, que havia saído em um jornal. "Nessa época, eu nem sabia que alguém teria interesse", diz ele -"essa época" são dois anos atrás.

Depois do aporte de R$ 1,2 milhão, o site GetNinjas cresceu e diretor-executivo virou seu novo cargo. Hoje, a empresa tem 28 funcionários e segue contratando, o que classifica como "a parte mais importante do meu trabalho".

O visual faz parte do processo de identificação com seus colaboradores. "Usava terno quando trabalhava no mercado financeiro." Hoje, no dia a dia, veste a camisa da empresa: uma polo com a logomarca do site. "Temos de nos vestir como nossos pares", diz.

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VOU DE TÁXI

Quem Tallis Gomes, 26
Empresa Easy Taxi
Modelo de negócio aplicativo para celular que encontra e solicita o táxi mais próximo

Tallis Gomes teve uma grande ideia na adversidade. Passou mais de meia hora esperando um táxi debaixo de chuva quando se deu conta : "Por que não usar geolocalização para achar um carro, assim ele não precisa pegar trânsito e nós dois ganhamos tempo?"

Nasceu assim, em junho de 2011, o aplicativo Easy Taxi, que permite localizar e chamar o motorista mais próximo. Nesses dois anos, o serviço se expandiu para cidades como Seul (Coreia do Sul) e Bogotá (Colômbia). "E pensar que antes disso eu já tinha bolado um aplicativo para ônibus!"

Mas a subida na vida não mudou seu jeito de se vestir: usa calça jeans no dia a dia e camisa (que chama de "camisa de botão") só às vezes. "Na reunião com o prefeito, eu vou desse jeito. A nova geração de empreendedores tem pavor de usar terno e gravata!"

Onde eles comeram
Kaá. Menu executivo: R$ 66 (couvert, entrada e prato principal, como o sofiote recheado com queijo emmenthal e presunto da foto; de segunda a sexta, do meio-dia às 15h).Av. Pres. Juscelino Kubitschek, 279, Vila Olímpia, tel. 3045-0043

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MENOS É MAIS-VALIA

Quem Alexandre Veiga, 26
Empresa Basico.com
Modelo de negócio loja on-line minimalista

Quando ainda estudava administração na USP, Alexandre Veiga foi chamado pelo reitor da universidade. Ele queria parabenizar o aluno pela incubadora que havia bolado. Meses depois, Veiga era um ex-aluno da instituição, trabalhando com novas empresas.

Foi CEO do Wimdu, serviço de aluguel de quartos para turistas, e trouxe um fundo de investimentos para o Brasil. "A vida de investidor era legal, mas não para mim." Decidiu lançar uma loja on-line de produtos básicos, como camisetas sem etiqueta ou estampas. O site Basico.com está há 25 dias no ar. Em dois dias, bateu a meta do mês. E tudo começou no armário: "Queria fazer a roupa que tanto procuro e não acho".

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CAIU NA REDE

Quem Eduardo Prange, 28
Empresa Seekr
Modelo de negócio monitoramento de redes sociais

A formação em turismo e lazer só serviu para Eduardo Prange, 28, "saber o que não queria fazer da vida". Mas descobrir qual era de fato o seu negócio levou algum tempo.

Em 2007, ele abriu a primeira agência digital de Blumenau (SC), a Seekr. Um dos seus serviços era monitorar o que internautas falavam nas redes sociais das marcas que o contratavam. "Cerca de 45 dias depois de lançar esse serviço, fiz dele uma empresa."

Em 2012, ficou só na Seekr, que hoje atua em 20 Estados, pelos quais Eduardo trafega ora de camisa e ora de camiseta. "Sempre tive um cuidado grande para ficar entre a formalidade e descolado. Tem de estar alinhado, tanto na roupa como no discurso."

Onde eles comeram
Café do Theatro Municipal. Bufê com pratos como moqueca de camarão: R$ 40 (de segunda a sábado, do meio dia às 15h). Praça Ramos de Azevedo, s/nº, República, tel. 3331-1874

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ME VÊ A CONTA (E O DESCONTO)

Quem Pedro de Conti, 29
Empresa Grubster
Modelo de negócio aplicativo para fazer reservas e obter descontos em restaurantes

Pedro de Conti trabalha com comida. Mas a carreira não veio de bandeja, e sim da persistência de tentar emplacar a mesma ideia mais de uma vez.

Quando se formava em marketing, ficou em dúvida entre prestar um programa de trainee ou montar sua primeira empresa. Decidiu-se pela última e abriu um site de delivery de comida. "Tinha pouco investimento na época."

Não deu certo. Trabalhou em outra start-up, onde conheceu investidores que depois o ajudariam na versão 2.0 do primeiro projeto: um aplicativo para fazer reservas em restaurantes. Há um ano e meio, nascia o Grubster, no qual se pode pedir uma mesa em 600 restaurantes de nove cidades, com descontos de 30% no preço do menu.

Na segunda tentativa, a coisa andou. A empresa trouxe, em 18 meses, segundo ele, R$ 16 milhões em implemento para os restaurantes e R$ 4 milhões de economia aos clientes. Para as fotos desta edição, ele disse ter se sentido como um tipo de comida: coxinha. "Sempre uso calça jeans, bota e camisa. Colocaram até um pulôver em mim."

Onde ele comeu
Ici Bistrô. Menu executivo: R$ 54 (entrada mais um prato, como o filé com fritas, como o da foto, ou um prato mais uma sobremesa, de segunda a sexta, no almoço) R. Pará, 36, Consolação, tel. 3257-4064


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