Folha de S. Paulo


Aulas de teatro para executivos prometem ajudar a falar em público

Ednaldo Costa, 45, diretor financeiro em uma consultoria de recursos humanos, havia feito a lição de casa. Elaborara e ensaiara uma cena para apresentá-la aos colegas do curso de teatro para executivos na Faap (Faculdade Armando Alvares Penteado).

Levou o resultado ao palco sem gaguejar, com pausas didáticas entre as frases e boa dicção. No entanto, houve algo fora do lugar: incomodado com a forte luz de dois holofotes instalados justamente para iluminá-lo, Ednaldo, sem perceber, foi lentamente escorregando para uma zona escura da cena.

"Gente, vocês precisam entender que os holofotes estão aqui para iluminar vocês. É desconfortável, mas vocês precisam ficar na luz", ensinou a professora Nany di Lima ao comentar a cena apresentada a uma turma de 20 alunos. O curso de teatro para executivos tem oito sessões de três horas cada e custa R$ 1.400. O próximo será em agosto.

Atuar não é exatamente o objetivo de Ednaldo. Ele não recorreu a técnicas teatrais para levar um papel adiante, mas para evitar papelão no trabalho. Aulas de teatro para executivos prometem potencializar a capacidade de falar em público, afiar a postura e desengessar o excesso de formalidade nos relacionamentos pessoais.

Mas as intenções dos alunos podem ser as mais variadas. "Eu quis apenas procurar algo diferente do clima que a gente vive no escritório. Ter um momento de diversão e leveza", diz Sílvio Veloso, 31, executivo da Unilever. Ele não tem dificuldade para se apresentar publicamente. Fez o curso acreditando na oportunidade "de diversificar sua experiência corporativa".

Durante as aulas, no entanto, percebeu que estava com seus colegas em uma "luta contra a timidez". O curso é montado principalmente a partir de exercícios e jogos de improvisação. Nas primeiras aulas, há certa resistência. "Existe, sim, esse medo de cair no ridículo. Depois algumas pessoas acabam se soltando mais do que outras; acho que fiquei no meio-termo", analisa Sílvio. "O que a gente faz lá é muito fora do nosso dia a dia. Demora um pouco para virar a chave."

Para a executiva da indústria farmacêutica Simone Jeane Ladwig, 40, as aulas podem ajudar a perder a timidez. "Tenho de falar sempre para 20 ou 30 pessoas, isso faz parte do meu trabalho, e geralmente fico nervosa, especialmente no início da apresentação", conta.

Um dos exercícios busca aprimorar a atenção dos alunos, ou a capacidade de perceber o entorno. Os participantes caminham pela sala; de repente, a professora ordena, "quero dois círculos", e esses círculos têm de se formar espontaneamente.

Há enfrentamentos mais interessantes do que rebolar na frente de colegas. O exercício que melhor exemplifica o curso, diz Nany, é aplicado na primeira aula. Os alunos caminham, ocupando a sala, e a única coisa que precisam fazer é olhar nos olhos uns dos outros. "Algumas pessoas param de respirar. Daí você vê a dificuldade que muita gente tem de olhar nos olhos das pessoas, sem constrangimento."

Para ela, o curso procura resgatar o exercício de enxergar o outro, ou de se espelhar no outro, "do ascensorista ao presidente executivo." Com uma rotina repleta de formalidades e protocolos, a maioria parece buscar ali uma maneira de interpretar papéis menos rígidos.


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