"Não é o ângulo reto que me atrai. Nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual", escreveu Oscar Niemeyer. O fotógrafo Fabio da Motta, 33, leu a frase do arquiteto, morto no ano passado aos 104 anos, concordou e decidiu fazer uma experiência sobre curvas usando um prédio assinado por ele: o Copan.
Há nove anos numa quitinete de 40 e poucos metros quadrados no 17º andar do prédio, da Motta começou em 2005 a fazer chapas das curvas do edifício com curvas mais livres e sensuais, como as que atraíam Niemeyer: corpos nus de conhecidas suas.
"Começou com uma brincadeira com uma amiga numa das festinhas que dava no apê. Ela quis fazer fotos nua no corredor do bloco B. Acabei gostando da ideia." Gostou tanto que, em pouco tempo, já tinha dez modelos retratadas.
Montou com as primeiras fotos o projeto da série "Curvas Concretas" com o curador Ricardo Oliveros e foi oferecer à administração do prédio residencial com a maior área da cidade para fazer uma exposição lá mesmo.
"No começo, autorizaram. Depois, voltaram atrás. Disseram que poderia denegrir a imagem do Copan e que a série só poderia ser de fotos feitas dentro do meu apartamento." Ele desistiu do apoio predial e continuou fazendo os ensaios em áreas comuns, como a garagem e os corredores, escondido pela madrugada.
Nunca teve problema com os vizinhos do número 200 da avenida Ipiranga, garante. "O máximo que aconteceu era a correria de jogar o roupão pra menina vestir [se alguém aparecia]. Ainda bem."
Depois de um tempo, passou a incluir homens no trabalho. Que deve ter uma vida tão longa quanto a de Niemeyer, se tudo der certo. "Até quando eu tiver o apartamento vou fazer as fotos."
O trabalho em evolução pode ser visto no blog http://damottafabio.wordpress.com/