Folha de S. Paulo


V de Vingança: Máscara usada em protestos foi criada em quadrinhos dos anos 1980

"V de Vingança" é o nome do gibi que inspirou manifestantes no Brasil e em todo o mundo na última década. Os quadrinhos foram escritos por Alan Moore e desenhados por David Lloyd entre 1981 e 1988. Por aqui, saíram pela primeira vez em 1989, em cinco volumes.

A história começa em 1997 e se passa numa Inglaterra sombria, depois de uma guerra nuclear que deixou parte do mundo destruído.

O país está dominado por um partido fascista que, após chegar ao poder, eliminou negros, homossexuais e esquerdistas. Surge então V, uma espécie de super-herói anarquista que vai lutar contra o governo. Com aparições teatrais, ele mata membros do governo e ganha a simpatia da população, que toma as ruas.

V se esconde atrás de uma máscara do conspirador Guy Fawkes (1570-1606), personagem histórico, enforcado por tentar explodir o parlamento inglês em 1605. A exemplo de Fawkes, V usará todos os meios para pôr abaixo o prédio da instituição.

É essa máscara de Guy Fawkes que vem aparecendo em manifestações populares em todo o mundo nos últimos anos.

No gibi original, todos os capítulos começam com a letra V, com títulos como "Veneno", "Vertigem" ou "Visitas".

Daí a ideia dos brasileiros em transmutar o "V de Vingança" para "V de Vinagre", depois que policiais prenderam manifestantes que portavam o líquido para tentar barrar os efeitos do gás lacrimogêneo.

Em 2006, os irmãos Wachowski (da série "Matrix") popularizaram ainda mais a história, ao lançar uma adaptação cinematográfica com Natalie Portman.

Alan Moore, famoso pelo mau humor e pelas posições radicais, se recusou a aparecer nos créditos e a receber direitos autorais de Hollywood.

V DE VITÓRIA

Outra referência usada por Moore está no nome da obra. "V de Vingança" ("V for Vendetta", no original) é uma releitura de "V de vitória" (V for victory), expressão inglesa que remonta à Batalha de Agincourt (1415), na Guerra dos Cem Anos (1337-1453), entre Inglaterra e França.

Segundo essa história sangrenta, os franceses tinham o costume de cortar os dedos dos arqueiros ingleses capturados para impedi-los de puxar o arco.

Como resposta, os ingleses passaram a fazer o sinal de V com esses dois dedos, mostrando que ainda podiam atirar.

Historiadores, porém, dizem que essa versão não se sustenta porque os franceses simplesmente matavam qualquer inglês feito prisioneiro.

Seja como for, o sinal de V com os dedos foi popularizado séculos depois, na Segunda Guerra Mundial (1939-1945). O sinal e a expressão simbolizaram a luta da Inglaterra contra os nazistas e foram usados inclusive pelo primeiro-ministro britânico Winston Churchill.


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