Folha de S. Paulo


Bichos idosos ou com deficiência conseguem lar, mas ainda são minoria

Em novembro, a professora Paula de Barros, 30, estava no horário do expediente quando algo foi arremessado por cima do muro da escola onde trabalha, no Bom Retiro, região central. O susto só não foi maior do que a surpresa de perceber que se tratava de um animal --e que ele estava vivo.

A gata não conseguia mexer direito as patas traseiras, não ficava em pé nem andava. Comovidos, Paula e o marido, Felipe, decidiram adotá-la. "Não sabemos se ela se machucou na queda. Mas achamos mais provável que a tenham maltratado antes."

Graças à professora, a sorte de Clementina, a gata paraplégica, mudou. Além de ter ganhado uma família, ela agora usa um aparelho com rodas, feito sob a orientação de veterinários.

Poucos animais na mesma situação têm essa sorte --bichos deficientes, idosos ou de temperamento difícil são em geral preteridos por quem quer adotar um pet. No CCZ (Centro de Controle de Zoonoses), por exemplo, cerca de 50 animais são adotados por mês, mas a maioria é filhote.

Um caso de animal rejeitado é Angelina Jolie, coelha que aguarda adoção sob os cuidados do grupo Adote um Orelhudo (adoteumorelhudosp.blogspot.com.br ). Além de ter uma deficiência na pata, ela não aceita a convivência com outros animais.

PETS
Tudo o que é importante saber para cuidar bem do seu animalzinho de estimação

"Ela é linda, mas tem uma personalidade muito forte", diz a funcionária pública Marcia Dias, 28, umas das responsáveis pelo grupo. "Além disso, a deficiência sempre pode piorar."

Possíveis gastos com tratamentos médicos também podem assustar os donos. Mas, em alguns casos, o receio não é maior que o apego aos pets.

Foi assim que o cão Spike ganhou uma nova família, após ser encontrado na rua pela professora Neiva Portes, 32, e seu namorado, Ricardo. "Quando o achamos, num terreno abandonado, ficamos das 11h às 16h tentando resgatá-lo. Ele estava com medo e fugia." Segundo ela, o cão, que tem uma pata torta, estava com uma aparência horrível e mau cheiro.

Depois de ceder à futura dona, Spike recebeu vários cuidados e estava pronto para a adoção. "Nossa intenção era arrumar alguém para ficar com ele, porque moramos em apartamento. Mas nos apegamos e ele ficou."

SEM IMPULSO

A orientação dos especialistas, no entanto, é não agir por impulso, para que o pet não acabe abandonado de novo. "A adoção não pode ser por dó. A pessoa tem de querer um animal", diz a administradora Monica di Ciomo, 45, da ONG Adote um Focinho (adoteumfocinho.com.br ), que tem cerca de 160 cães, cinco deles deficientes.

"Temos uma cadela, Ana, que só tem três patas, mas é muito brincalhona", conta ela, que vê vantagens na adoção de animal com mais idade. "Filhotes são mais bagunceiros. Um cão adulto tende a ser mais calmo."

A desconfiança inicial do bicho adulto em relação ao novo dono pode atrapalhar, mas especialistas recomendam paciência. "Nos primeiros dias, Spike não confiava na gente", diz Neiva. "Mas, após uma semana, virou o cachorro mais feliz do mundo. Parece que nos agradece todos os dias."


Endereço da página:

Links no texto: