Folha de S. Paulo


Após separação, ex-casais se organizam para dividir rotina e cuidados com os pets

Quando a publicitária Andrea Tachibana, 33, começa a arrumar os brinquedos e coisas do lhasa apso Pipoca, 8, ele já fica feliz, pois sabe que é hora de trocar de casa e passar um tempo com o "pai," o músico Paulo Gallian, 32.

Andrea e Paulo dividem a guarda do cão há seis anos, desde que terminaram o relacionamento de oito e ela voltou a morar com os pais.

Nenhum deles queria se separar do animal que foi criado por ambos desde filhote. Como ainda mantêm um relacionamento amigável, decidiram que ele continuaria a viver com os dois, um pouco com cada um.

Pipoca passa 15 dias na casa de Andrea e o restante do mês sob os cuidados de Paulo. Os dois dividem bem o tempo, as despesas e os cuidados com o bicho, como compra de ração, vacinas e idas ao veterinário.

BRIGA PELA GUARDA

Mas, assim como em casos que envolvem crianças, algumas combinações acabam não sendo amigáveis.

PETS
Tudo o que é importante saber para cuidar bem do seu animalzinho de estimação

É o caso de Augusto, que pediu para não revelar a identidade. Ele e a ex-namorada tinham um cachorro juntos e, depois de uma tentativa de reatar a relação e de um período em que a guarda compartilhada deu certo, a coisa desandou.

"Desde o começo do ano, ela não me deixa vê-lo mais e sinto muita falta do nosso cachorro. Como não conseguimos conversar e resolver sozinhos, contratei um advogado."

Não há na legislação brasileira nada específico sobre animais de estimação, embora um projeto de lei esteja em tramitação no Congresso.

O deputado federal Marco Aurélio Ubiali (PSB-SP) propõe que, em casos de separação litigiosa sem acordo em relação aos animais, eles fiquem com quem comprove ser seu proprietário legítimo.

Ou seja, com quem comprou e tem o nome em algum certificado de "pedigree", de adoção ou no RGA (Registro Geral Animal, espécie de carteira de identidade expedida pela prefeitura) ou com quem tenha mais condições para a posse responsável.

Segundo o advogado Rodrigo da Cunha Pereira, presidente nacional do Ibdfam (Instituto Brasileiro de Direito de Família), a Justiça já vem agindo dessa forma.

"Ela costuma considerar o bicho de estimação como bem móvel e dar a propriedade para quem é o titular de algum documento, como o registro de 'pedigree'", diz.

As Justiças de São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais têm casos em que, no final, o animal ficou com quem comprovou ser o responsável por seus cuidados na maior parte do tempo.

LATIDOS SIM, MIADOS NÃO

Mas os especialistas ressaltam que nem todas as espécies se adaptam a esse troca-troca frequente.

"Gatos, por exemplo, ficam assustados só de serem transportados. Eles demoram para se adaptar a um novo lugar e são territorialistas. Carregá-los para cima e para baixo causaria um tremendo sofrimento", explica o veterinário Ronaldo Lucas, coordenador do hospital veterinário da universidade Anhembi Morumbi.

Pássaros também não se adaptam. São sensíveis a mudanças ambientais e podem até morrer no processo. Calopsitas, por exemplo, quando estressadas arrancam as penas com o bico e sofrem muito.

"Se o cachorro está acostumado a passear, vai se adaptar e até curtir a convivência com todos. Mas, se nunca sai de casa, a divisão pode causar muitos problemas. Pense bem se não é melhor abrir mão da sua felicidade pelo bem-estar do animal", diz.


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