Folha de S. Paulo


'Ser polêmico não é ser bom humorista', diz Fábio Porchat, criador do Porta dos Fundos

Fábio Porchat está em todas: na Virada Cultural em um palco de "stand-up", nos cinemas com "Vai que Dá Certo", na internet com o popularíssimo canal "Porta dos Fundos", que ganha destaque no festival de humor Risadaria.

Recentemente, o canal ganhou também um pedido menos distinto: para que o Ministério Público não deixasse com acesso livre na rede um de seus vídeo, cujo título (auto-explicativo) é "Rola" (assista abaixo).

Um usuário alegou ter se sentido lesado. Com o humor que é intrínseco a ele, Porchat comenta o caso fazendo piada. "Eu nunca vi ninguém entrar no bar e pedir rola. Então não sei qual seria a lesão", disse em entrevista à sãopaulo. O pedido, por enquanto, não foi para a frente --a promotoria de Justiça de Defesa dos Direitos do Consumidor em Brasília entendeu que o caso é específico da promotoria da Infância e da Juventude, que pode ou não classificar o vídeo.

Na contramão de alguns comediantes contemporâneos, Porchat afirma que o humor não deveria ser agressivo e "deixar a pessoa lesada", e afirma que o caso foi um episódio à parte. "Comediante polêmico se tornou uma regra, quando na verdade é uma mega exceção. Tem três comediantes assim. Mas o Leandro Hassum, o Lúcio Mauro Filho e o Marcelo Médici nunca tiveram problema, por exemplo. Ser polêmico não te torna bom humorista. Você tem que ser divertido", resume.

Apesar disso, ele admite que a comédia deve, de alguma maneira, ser transgressora --como de fato são muitas esquetes do "Porta dos Fundos". "O humor tem que ferir a moral e os bons costumes, sim. Mas moral e bons costumes de quem? A minha é diferente da do (José) Sarney, provavelmente".

Embora ele considere a reação negativa como uma "exceção", alguns vídeos tiveram repercussão entre os fãs. Um exemplo é o "Regra Clara", em que ele e Gregório Duvivier interpretam uma dupla de comentaristas esportivos que se beijam. Nem todos gostaram. "Toda vez que lançamos algo novo pensamos, 'agora é o nosso final'. Mas acontece o contrário, as empresas patrocinam a gente."

RISADARIA E VIRADA CULTURAL

O sucesso na internet do "Porta dos Fundos", canal do grupo formado por Porchat, Gregório Duvivier, Antonio Tabet, Ian SBF e João Vicente de Castro, entre outros, fez com que o festival Risadaria cedesse um espaço dedicado aos seus vídeos (para uma questão de comparação, o mesmo também acontece com "TV Pirata", programa que marcou o humor televisivo brasileiro). O comediante atribui o sucesso a uma série de fatores. "A liberdade que a gente tem, a questão da internet, um grupo de atores excepcionais, cabeças ótimas, um grande diretor", analisa.

Antes disso, o comediante vem do Rio de Janeiro para São Paulo na Virada Cultural neste domingo (19): ele se apresenta às 11h30 no palco montado na Sé (centro de São Paulo).

Apesar de não ser um novato nas apresentações em eventos do tipo, Porchat admite que é mais difícil do que num teatro normal --ainda que, segundo ele, o público esteja lá disposto a dar risada. "Quanto mais gente tem, mais fácil de dispersar. É céu aberto, tem barulho, se chove... Ano passado eu fiz e chegou um helicóptero, por exemplo. É uma coisa meio circo."

O "stand-up" ganha destaque na Virada, e Porchat diz ter assistido a todas as apresentações, mas citou duas em especial. "Eu acho que o Cláudio Torres (Gonzaga) é um excelente mestre de cerimônias. E o Robson Nunes, eu acho ele bem popular". (Cláudio Torres se apresenta às 23h do sábado (18) e Robson Nunes, às 17h30 do domingo).

O próprio Porchat, porém, não vai poder curtir as atrações da Virada por compromissos na agenda atribulada. Ao tentar explicar como dá conta dos projetos envolvidos, ele abre mão da criatividade e usa uma expressão para lá de conhecida. "Gosto tanto do que faço que meio não é trabalho. Mas com a diferença de que no final do mês eu ganho um dinheiro."

ASSISTA AO VÍDEO DO PORTA DOS FUNDOS:

Veja vídeo


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