Folha de S. Paulo


"Esperamos pela nossa bomba", dizem moradores de Gaza

Depois de 14 dias da ofensiva militar israelense contra o Hamas na faixa de Gaza, a população civil é a mais afetada. Segundo a ONU, mais de 100 mil palestinos estão refugiados. E, aos jornalistas da RFI, Nicolas Ropert e Véronique Gaymard, moradores da região relatam o temor constante de novos ataques.

 O dia de segunda-feira e as primeiras horas desta terça-feira (22) foram novamente marcados por ataques. Ontem, cerca de 50 pessoas morreram. O hospital Al-Aqsa, situado ao sul da Faixa de Gaza, foi atingido e quatro pessoas morreram. Um outro prédio residencial também foi alvo de um bombardeio que deixou 11 mortos, sendo 5 crianças.

Entrevistado pela RFI, Anal Charwan, um médico do hospital Al-Shifa, também localizado em Gaza, relata o cotidiano sob os ataques de Israel.

"Domingo, muitas pessoas chegaram de Al-Shuja'iyeh, onde havia ataques de mísseis israelenses. Havia muitos mortos, muitos feridos. Não havia mais lugar para ninguém. Nem para os mortos. Os serviços de cirurgia estão cheios. Não temos instrumentos cirúrgicos. Faltam médicos, especialistas em queimaduras e em ferimentos causados por mísseis. No hospital Al-Aqsa, que foi atingido [ontem], havia serviços de cirurgia, de reanimação e de ginecologia. Mas tudo foi destruído", contou.

No sul de Gaza, em Rafah, nove palestinos da mesma família foram mortos em um ataque aéreo israelense. Islam Adhaïr mora no mesmo bairro com a mãe, a mulher e três filhos.

Ele conta sobre o medo diário. "Aqui é horrível porque ficamos sempre à espera da nossa bomba. A bomba que vai destruir a nossa casa. Temos problemas de infraestrutura, como esgoto, e problemas de abastecimento de água e de eletricidade. Temos apenas quatro horas de eletricidade por dia. Aproveitamos esse tempo para carregar os celulares, ver informações na internet e na televisão", relatou.

Sobre a possibilidade de fugir de Gaza, como já fizeram cerca de 100 mil pessoas, segundo a ONU, Islam Adhaïr responde: "Deixar minha casa para ir para onde? Não há mais lugar nenhum para ir. Não temos abrigo".

Wahiba, habitante de Gaza, também diz que todos estão aterrorizados: " Há bombardeios 24 horas por dia. Vivemos num quarto nos fundos do apartamento. Para nós, esse é o lugar mais seguro. Mas nada é seguro diante dos bombardeios de Israel. Eu e meus filhos dormimos 3 horas por noite. Não podemos sair de casa.O medo não faz parte da nossa vida, o medo é a nossa vida atualmente?, disse à RFI.

Do lado israelense, a ofensiva também deixa mortos. Segundo o exército, 27 soldados morreram desde o começo do conflito. O deputado Shimon Salomon esteve na cerimônia fúnebre dos militares e lamentou o confronto em Gaza.

"Queremos a paz. Estamos tocados [pelo sofrimento] da população, mas o Hamas usa os civis como escudos humanos. Há dez anos, eles nos lançam mísseis. Somos a favor de um cessar-fogo, mas, do outro lado, eles não querem."

Enquanto um cessar-fogo definitivo não é acertado, os esforços diplomáticos se concentram no Egito. No Cairo, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon e o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, se reuniram ontem à noite. Ao término do encontro, Kerry anunciou uma ajuda de US$ 47 milhões (R$ 104 milhões) para os moradores de Gaza.


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