Folha de S. Paulo


Ministro da Justiça atuou junto aos EUA para ajudar Maluf

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, enviou um comunicado para o governo dos Estados Unidos perguntando a respeito da possibilidade de o deputado federal Paulo Maluf (PP-SP), aliado da administração federal do PT, ser ouvido no Brasil sobre um processo no qual está relacionado na Justiça norte-americana.

http://www3.uol.com.br/module/playlist-videos/2014/paulo-maluf-no-poder-e-politica-1406160902031.js

O relato dessa ajuda do governo é do próprio Paulo Maluf, em entrevista ao programa Poder e Política, da Folha e do "UOL". O fato foi confirmado pelo Ministério da Justiça, que informa ter apenas encaminhado o pedido porque essa é a praxe a ser seguida quando um cidadão brasileiro faz tal solicitação.

O Ministério da Justiça afirmou que o caso de Maluf foi o único até agora com essas características: um brasileiro, com residência fixa e com aviso de procurado na Interpol (para ser preso nos EUA) requerendo o direito de ser ouvido no Brasil. Se outro cidadão nessa condição solicitar ajuda ao governo, será atendido, segundo o Ministério da Justiça.

Maluf e seu advogado procuraram José Eduardo Cardozo mais de uma vez nos últimos dois anos para tratar do assunto. O deputado está citado num caso de possível evasão de divisas –o que ele nega– e a Justiça dos EUA o trata como foragido. Por essa razão, desde 2009, a Interpol exibe em seu site uma foto de Maluf como "procurado".

O início da busca de ajuda de Maluf no Ministério da Justiça, há dois anos, coincide com a adesão do deputado e de seu partido, o PP, à campanha do petista Fernando Haddad pela Prefeitura de São Paulo, em 2012.

O governo dos EUA acabou negando o pedido de Maluf, mas o deputado continuou a procurar ajuda do Ministério da Justiça. Seus advogados agora tentam uma reversão desse quadro. Ele deseja apresentar sua versão dos fatos aqui no Brasil, por meio de videoconferência ou sendo ouvido por um juiz brasileiro.
"Não sou procurado por eles porque estou condenado. Sou procurado porque eles querem a minha oitiva. O que estranho é que um brasileiro não tem a mesma defesa do governo brasileiro que teve o Cesare Battisti, este sim criminoso", reclama Maluf.

O deputado tem 82 anos e vai disputar neste ano seu quarto mandato na Câmara. Pensa em se aposentar? "Quando Deus me levar para o céu", responde. "Vida pública é vocação. Sou hoje, em Brasília, um consultor de todos os deputados. Não vou desperdiçar essa experiência que Deus me deu".

Neste ano, fará campanha pela reeleição da presidente Dilma Rousseff. "Estará no meu santinho", diz. A petista pode perder? "Só se cair um avião... Com ela dentro. Mas isso não vai acontecer, porque a Ucrânia está bem longe".

E quais são as chances de Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) na corrida presidencial? "A eleição tem um candidato só. Só ela [Dilma]. Ela vai falar o que fez e os outros vão falar mal dela. O Aécio não tem o que mostrar. O Eduardo Campos, idem".

Na entrevista, Maluf fez uma avaliação sobre o caso do aeroporto construído em Minas Gerais perto de propriedades da família de Aécio Neves: "[É] um aeroporto particular para a família. Não é um pecado mortal. É um pecado venial. Algum efeitinho, tem. Sempre é uma manchinha".

O deputado acha que o problema de abastecimento de água acabará sendo um tema relevante na campanha eleitoral em São Paulo. "A Sabesp está ludibriando o governador [Geraldo Alckmin]", opina.

No plano nacional, avalia que Eduardo Campos fez um mau negócio ao se aliar a Marina Silva. "[Ela] tem uma visão antiquada (...) O que seria o Centro-Oeste sem o agronegócio? Uma taba de índios. O que é o bioma? Tem que defender três borboletas, quatro cobras, cinco lagartixas, dois sapos e uma taba de índios".

A seguir, trechos da entrevista realizada na terça-feira (22.jul.2014) à tarde, no estúdio do UOL, em São Paulo:

*

Por que o sr. apoiou o PT há dois anos para a prefeitura de São Paulo e agora não vai apoiar o PT para a disputa do governo do Estado?
Ninguém pode me acusar de oportunismo. Fernando Haddad, quando nós apoiamos, tinha 3%, Soninha [Francine] tinha 4%, Paulinho [da Força] tinha 5%, Gabriel Chalita tinha 7%. [Celso] Russomanno tinha 21% e o [José] Serra tinha 31%, segundo o Datafolha [na realidade, em 18.jun.2012, quando Maluf declarou apoio a Haddad, a pesquisa mais recente Datafolha, realizada em 13 e 14.jun.2012, tinha o seguinte resultado: Serra, 31%; Russomanno, 21%; Haddad, 8%; Chalita, 6%; Soninha, 8%].

Todo político gosta de ir para o poder. Por que não apoiei o Serra? O Serra esteve na minha casa e é um grande administrador. Veio na minha casa com o meu amigo, senador Aloysio Nunes Ferreira, duas vezes.

Isso em 2012?
É. Cada vez ficou duas horas. E perguntei: "Serra, você já foi prefeito, assinou que ia ficar os quatro anos, ficou um e três meses e foi embora. Você foi governador, poderia ter ficado oito anos, ficou três anos e pouco e foi embora. O sr. foi candidato a presidente e perdeu duas vezes. Será que você quer ser prefeito?". Uma pergunta franca. "Eu quero terminar minha vida como o melhor prefeito", ele disse. Tenho o direito, como ex-prefeito, de escolher alguém que queira vir para a prefeitura e não fazer da prefeitura um trampolim. Por isso não fiquei com ele.

Não fiquei com o Russomanno porque na eleição de 2010, que nós bancamos o partido para ele ser candidato a governador, ele foi língua de aluguel para o PT agredindo o [Geraldo] Alckmin. Olha, o nosso partido sempre esteve em um lado –você me perguntou porque que fiquei com o Haddad–, mas nunca se vendeu, nunca vendeu tempo e nunca foi língua de aluguel. Nós apoiamos um candidato que tinha 3% e está provado que ele não está querendo fazer da política um trampolim, nem um trampolim da prefeitura. Se vai ser bem avaliado ou não nos quatro anos, Deus permita que seja, porque gosto demais dele.

Neste ano estava acertado que o PP apoiaria Alexandre Padilha, do PT, para o governo de São Paulo, mas no final resolveu apoiar Paulo Skaf, do PMDB. Por quê?
A eleição de 2012 interessava à cidade de São Paulo e ao seu prefeito. Deputados federais, estaduais não tinham nenhum interesse na eleição de 2012. Na eleição de 2014, quando pessoalmente fui à Assembleia Legislativa junto com o [Alexandre] Padilha e lhe dei o apoio, houve um mal-estar no partido. Por que nós demos o apoio? Porque o PP, o Partido Progressista nacional, está apoiando Dilma Rousseff de maneira pública e lhe deu o tempo de televisão. E quando nós almoçamos, em Brasília, junto com o senador Ciro Nogueira, presidente nacional do partido, e junto com os deputados do partido e demos o apoio à presidenta Dilma, eles me disseram: "E em São Paulo? Por que você não dá um apoio ao Alexandre Padilha?". Fizemos o ato. Mas depois verificamos a chapa de deputados federais do PT, de estaduais do PT... Vamos ser muito claros: o deputado quer ser reeleito. Então nós levamos o caso para a convenção do partido para a Executiva do PP em São Paulo. Eram 17 membros. Eu votei Padilha, o deputado Salim Curiati votou Alckmin e 15 votaram Skaf. A direção do PP contrariou a mim. Você pergunta: "Mas você tolerou?". Sim, porque em 20 anos que sou presidente nacional e local do partido, o presidente é presidido: ou ele segue aquilo que a sua base quer ou ele cai. Nunca caí no meu partido porque nunca fui contra os membros do meu partido.

Em 2012, o sr. apoiou Fernando Haddad para prefeito de São Paulo, ele acabou ganhando. Fernando Haddad hoje é rejeitado por 47% dos paulistanos. Uma rejeição altíssima. O que aconteceu?
Quando você pega uma pesquisa da Datafolha, você pega uma fotografia, não pega o filme. Eu, quando também entrei na Prefeitura, não era muito bem avaliado. E saí carregando pela população, com 62% de ótimo e bom, ninguém teve isso, e 30% de regular. Era apoiado por 92% da população. Agora, o Fernando está há um ano e meio. Torço para que ele, quando sair daqui a dois anos e meio, saia até melhor avaliado do que saí. Ele é um homem correto, honesto. A senhora dele é uma senhora de bem, honrada. Ele está fazendo o que deveria ser feito e acho que um dia será bem avaliado.

Por que a população depois de um ano e meio ainda não entende que Fernando Haddad deve ser bem avaliado, como o sr. diz, e 47% o rejeitam?
Você deve conhecer a frase do Winston Churchill, uma pessoa inatacável. O que ele disse sobre imprensa? "There is no public opinion, there is published opinion", quer dizer, não tem opinião pública, tem opinião publicada.

Antes da Copa, a mídia só dava ônibus incendiado, loja incendiada, carro quebrado. Todo mundo era contra a Copa. Vieram os 30 dias de Copa. Ficaram cobrindo a Copa, inclusive a Globo, os canais de televisão. Três, quatro, cinco horas por dia. Acabou a Copa: 87% acharam que a Copa foi um sucesso.

Então, fui prefeito, moro nessa cidade, nasci nessa cidade, fui governador e amo essa cidade, torço para que ele [Fernando Haddad] vá bem. Se ele continuar administrando, e vai continuar, com a honestidade que ele está administrando, punindo, inclusive, todos esses fiscais do ISS, que emporcalharam a cidade com a aprovação de plantas fantasmas, se ele continuar com essa política honesta, em 2016 o Partido Progressista irá apoiar a sua reeleição.

Nas eleições de 2010 e 2012, o ex-presidente Lula teve uma influência grande nas disputas. O sr. acha que neste ano de 2014 o ex-presidente Lula terá também essa influência, embora o ambiente pareça ser mais adverso para ele agora?
Acho que sim.

Por quê?
Porque o Lula se desligou do PT. O Lula é uma das coisas boas que Deus fabricou para o Brasil. O Lula foi o Juscelino [Kubitschek] da nova geração, com toda essa crise que o mundo teve, a Espanha tem 22% de gente desempregada, a Grécia está falida, Portugal está falido, mas o Brasil continua crescendo. A passos mais lentos do que gostaria, mas o Brasil não veio para trás não.

A presidente Dilma Rousseff enfrenta alta rejeição. No Datafolha, a taxa é de 35% no Brasil. No Estado de São Paulo, perto de 50%. O sr. já disputou eleições com alta taxa de rejeição. Como será o processo eleitoral para a presidente?
Primeiro, ela é uma mulher correta. Ela não permite o malfeito e não faz o malfeito. Segundo, dedica-se em tempo integral –porque praticamente não tem família, não tem marido; tem a filha que é casada no Rio Grande do Sul. Ela dá tempo integral nisso. Terceiro, está focada na solução de todos os problemas.

Com a crise que tem na Argentina, em outros países da América Latina, na Europa, o Brasil praticamente está passando com quase pleno emprego. Ela não está sendo uma presidenta que se possa criticar. Nesse mundo moderno, ela está sendo uma das melhores presidentes que o Brasil teve.

Agora, vem campanha eleitoral. Ela tem 12 minutos, Aécio tem quatro, Eduardo Campos menos de dois. Ela tem o que mostrar. Na próxima eleição tem um candidato só.

Como assim?
Só ela.

Na eleição deste ano?
É, porque ela vai falar do que ela fez e os outros vão falar mal dela. Não vai ter outro candidato. O Aécio não tem o que mostrar, não faz uma declaração, uma só, de programa de governo. Só fica falando mal da presidenta. E o Eduardo Campos, que fez parte do governo Lula, idem.

E ela está fazendo o quê? Está governando. Está tentando resolver os problemas do Brasil e os outros estão loucos para sentar no lugar dela, falando mal dela.

Mas as projeções de segundo turno hoje dizem que seria uma disputa muito apertada entre ela e Aécio Neves ou entre ela e Eduardo Campos. Por quê?
Não tenho nada contra o Aécio Neves. Agora, honestamente, não vejo condições hoje políticas do Aécio ser um bom presidente e te explico porquê. Jânio Quadros foi eleito com 20 deputados do PTN, renunciou, não pode governar. Pelo PRN...

...Collor, 1989.
Collor foi eleito, foi cassado. Se você não tiver uma base no Congresso, você não governa. Então a Dilma terá o PT, que é o maior partido, PMDB que é o segundo, o terceiro bloco é o PP, com o Pros, é o nosso bloco. O quarto é o PSDB e o quinto é o PSD, do [Gilberto] Kassab. Quer dizer, ela terá: o primeiro, o segundo, o terceiro e o quinto partido. O Aécio não terá apoio nenhum no Congresso. Então vai ter que repetir um mensalão ou um negócio qualquer para poder...

O sr. está fazendo campanha para a Dilma Rousseff. Vai pedir votos para ela?
Não estou fazendo campanha. Não estou fazendo campanha nenhuma. Estou falando o que vai acontecer.

Mas o sr. vai pedir votos para Dilma quando fizer campanha este ano?
Na minha propaganda terá a candidata do meu partido, que é ela, o candidato do meu partido a governador, que é Paulo Skaf [PMDB], o candidato do meu partido a senador, que é Gilberto Kassab [PSD], vai ter o meu nome e o [deputado] estadual que quiser.

Dilma vai estar no seu santinho?
Estará no meu santinho.

Estou vendo que o sr. acha que Dilma vai ganhar. Em que cenário ela poderia eventualmente perder?
Só se cair um avião... Com ela dentro. Mas isso não vai acontecer, porque a Ucrânia está bem longe. Hoje, a chance de ela ganhar é de 98%. A chance de ganhar o Aécio é 1,9% e o Eduardo é 0,1%. Sem juízo de valor, estou dizendo sob o aspecto estatístico-eleitoral.

Aécio Neves tem mais robustez nas pesquisas, Eduardo Campos, menos. O sr. acha que é esse mesmo o cenário que vai se desenhar? Aécio em segundo, Eduardo Campos em terceiro?
Eduardo Campos é um homem encantador. Era muito amigo do avô dele, Miguel Arraes, que esteve mais de uma vez na minha casa e estive mais de uma vez na casa dele. Me dava muito bem com Miguel Arraes.

Se um dia for presidente, Eduardo Campos será um grande presidente da República. É um conhecedor dos problemas, um homem correto, bem casado...

Ele se aliou a Marina Silva. Fez bem?
A Marina tem uma visão das coisas um pouco antiquada. O que seria o Centro-Oeste sem o agronegócio? Era uma taba de índios. Uma vez perguntei ao ministro do Meio Ambiente o que é o bioma. Ele dizia: "Tem que defender o bioma". O que é o bioma? Tem que defender três borboletas, quatro cobras, cinco lagartixas, dois sapos e uma taba de índios. Bom, é uma maneira de viver.

O homem antigo precisava de uma tanga e um pedaço de carne crua, mas será que é isso que os índios de hoje querem? O índio de hoje quer plano de saúde, quer carro do último ano, carro do ano, quer educação, quer televisão. E acho que eles estão certos. Você querer manter no status quo o Brasil tal como Pedro Alvares Cabral descobriu...

O sr. acha que Marina Silva com Eduardo Campos não foi uma boa associação, é isso?
Acho que ele não daria votos para ela, se ele fosse vice dela, e ela não dá votos para ele, ela sendo vice.

Em São Paulo, hoje Geraldo Alckmin, do PSDB, atual governador, é favorito segundo as pesquisas. Ganharia no primeiro turno, se a eleição fosse hoje. Há como o seu candidato, Paulo Skaf, do PMDB, ir para o segundo turno e ser um candidato competitivo?
Você disse bem: "Hoje". Em eleição, tudo pode acontecer.

Como é que o sr. explica a taxa atual de 54% de intenção de votos para Geraldo Alckmin?
É "recall". É lembrança. Gostaria de ser candidato a governador e começar com 54%. O máximo que consegui começar foi com 40%. Com 54% você tem um nome expressivo e é evidente que pode ganhar. Agora, você afirmar que faz uma roleta russa com seis balas no tambor se ele não ganhar, essa afirmação você não fala, porque você pode, quem sabe, morrer.

Quem pode ir para o segundo turno com ele, se houver segundo turno?
O Lula tem um grande prestígio. Não tenho dúvida. O Lula vai entrar de cabeça na campanha de Padilha. O maior tempo de televisão é de Paulo Skaf, que tem o que mostrar, foi um grande comandante da geração de empregos aqui neste Estado. A melhor educação do Estado está no Sesi, comandado por ele. Paulo Skaf tem o Duda Mendonça, tem o maior tempo de televisão e tem um "recall" de um homem sério e correto. Ele pode ir para o segundo turno. Padilha pode ir para o segundo turno. E, na minha visão, Alckmin estará no segundo turno.

Como o sr. explica o efeito aparentemente nulo que a crise de abastecimento de água está tendo nesse processo eleitoral paulista?
O Sistema Cantareira foi idealizado quando o presidente da Sabesp era o engenheiro Reinaldo de Barros [1931-2011], que foi meu prefeito. O sistema foi mais de 90% construído pelo governador Paulo Maluf, quando a Grande São Paulo tinha 12,5 milhões de habitantes. Hoje, tem 21 [milhões de habitantes]. Quando a presidenta da Sabesp [Dilma Pena] diz ao governador "não está chovendo, por isso está falando água", me permito dizer: vossa excelência está informando mal o governador.

Falta água porque a população foi de 12,5 milhões para 21 milhões e a adução de água, ao invés de aumentar 80%, aumentou só 20%. Ao invés de buscar água em outros mananciais, disse "não, não chove". Na verdade, não tem água porque a Sabesp falhou. A Sabesp está ludibriando o governador. Se eu fosse o governador essa senhora já estava no olho da rua, porque ela é incompetente.

As pessoas estão sofrendo com isso, mas aparentemente não atribuem essa dificuldade a um político em particular, a uma administração em particular. Estou errado ou isso realmente está acontecendo?
Hoje, você realmente está certo. Mas acho que isso vem para a campanha eleitoral. Hoje, por acaso, almoçou comigo o deputado federal José Olímpio [PP-SP], ele foi vereador em Itu e me disse: "Dr. Paulo, há dez dias não tem água em Itu para tomar banho, nem para beber". Está sendo escondido o racionamento. O racionamento existe. Agora mesmo meu segurança me disse: "Olha, na minha casa só tem água de dia, não posso tomar banho de noite".

O tema da corrupção fará parte da campanha este ano?
A Dilma é séria. O Aécio é sério, não tem nada, apesar desse negócio do aeroporto. O Eduardo Campos é sério. Aqui em São Paulo, o Alckmin é sério, o Paulo Skaf é sério e o Padilha também é sério. Acho que esse tema não estará na pauta porque os candidatos são corretos.

O sr. mencionou o caso do aeroporto de Minas Gerais relacionado ao senador Aécio Neves. O sr. fez um juízo sobre esse episódio lendo a notícia a respeito do que aconteceu?
Fiz. O juízo para mim é negativo. Eu não teria construído esse aeroporto.

Por que o sr. acha que é negativo?
Em volta são só fazendas da família. A explicação que ele dá é a seguinte: não foi na fazenda, foi em um terreno público, foi desapropriado da fazenda. Foi pior a explicação. Então deram o aeroporto de presente e ainda pagaram para tirar a terra do sujeito? A explicação foi pior do que a construção do aeroporto. Desapropriaram, pagaram R$ 1 milhão por uma terra que acho que a fazenda inteira não vale isso –e ainda construíram o aeroporto. E não é um aeroporto público. Disso, entendo. Construí Guarulhos com quase quatro quilômetros de pista. Um aeroporto para jato, Learjet, precisa de no mínimo 1.500 a 1.600 metros de comprimento. Se construiu para mil metros, é só para uso particular da família. É para turboélice. Se fosse público, teria que ter no mínimo 1.500 [metros]. Um aeroporto que se preze, para jato Boeing, tem que ter no mínimo como tem Congonhas, 1.900 metros. Então não foi para todo mundo não, foi um aeroporto particular para a família.

Que efeito terá esse episódio durante a campanha eleitoral?
Não é um pecado mortal. É um pecado venial. Algum efeitinho tem. Sempre é uma manchinha.

Mas tira votos?
Parece aquela viúva que morreu e era solteira. "Como é que vamos enterrar em caixão branco? Solteira é caixão branco, e lírios brancos também". Aí alguém diz: "Põe umas violetinhas também". É um pecadinho venial.

Que nota o sr. daria para cada um dos ex-presidentes recentes: [José] Sarney, [Fernando] Collor, Fernando Henrique ] e Lula.
Sarney não estava preparado para ser presidente. Quem estava preparado era Tancredo Neves. O último ano do mandato do Sarney, com todo o respeito, tinha 90% de inflação, ao mês. Ele não foi bom presidente. Foi muito prejudicado porque se deixou dominar por diversos partidos. Era tão fraco que se deixou dominar.

O Collor quis ser um bom presidente, tinha vontade política de ser um bom presidente e é um homem de primeiro mundo, mas foi eleito pelo PRN com 20 deputados. Ninguém governa com 20 deputados.

De 0 a 10, Collor merece quanto?
Merece de 7 a 8 porque modernizou uma boa parte do Brasil, permitiu que aquelas carroças se tornassem carruagens.

E Fernando Henrique e Lula?
O Fernando Henrique é um homem do primeiro mundo. Foi um presidente que fez muitas amizades, como com o Bill Clinton, e salvou duas vezes o Brasil da bancarrota, através do FMI. Daria nota 7.

Lula?
Lula dou 9, porque o Lula se reciclou. Teve a coragem de vir do Partido Comunista, sanguinário, terrorista, e se tornou um grande democrata. E tem mais, a grande virtude do Lula, ele não tem rancor. Nunca, das minhas conversas com Lula, vi ele falar mal de ninguém.

E Sarney, o sr. não deu nota?
Não dou nota.

Não merece nota?
Não.

Dilma?
Dilma, como pessoa física, correta, decente, dou nota 10 com louvor. Como administradora, dou nota 7 a 8.

Alguns políticos da sua geração, de expressão nacional, têm anunciado aposentadoria. Vou citar dois: José Sarney, Pedro Simon.
Sarney se aposentou porque foi no Amapá, onde ele queria ser candidato a senador e não podia ser candidato a senador pelo Amapá porque nasceu no Maranhão. Foi uma fraude. E foi vaiado. Então ele desistiu.

Mas o efeito é a aposentadoria. Pedro Simon, do Rio Grande do Sul, também anunciou que não disputa mais.
Esse, ao contrário, é um homem que respeito muito, correto, decente. Lamento que o Senado vá perder um dos seus grandes nomes.

O sr. tem 82 anos, é dessa geração e vai disputar mais um mandato. O sr. pensa em se aposentar?
Quando Deus me levar para o céu porque acho que...

O sr. vai disputar eleição até...?
Vida pública é vocação. Tenho uma experiência acumulada em construção de estradas, construção de aeroportos, construção de escolas, saneamento básico, hospitais, que não desperdiço. Sou hoje, em Brasília, um consultor de todos os deputados de Estados mais pobres. Sou um consultor deles. Não vou desperdiçar essa experiência que Deus me deu.

Então o sr. nem pensa em aposentadoria?
Não.

O sr. nunca pensou em sair da política?
Não, porque política é vocação, é como se você fosse perguntar para um padre: "O sr. vai sair de padre?". Perguntar para um médico: "O sr. vai deixar de ser médico?". Perguntar para uma enfermeira: "A sra. vai deixar de ser enfermeira?". Sou um homem público.

Desde 2009 existe no site da Interpol uma notificação a respeito do sr. entre as pessoas que são procuradas internacionalmente. O sr. voltou a negociar com autoridades dos Estados Unidos sobre retirar essa condição de procurado no site da Interpol?
Tudo que você está falando é verdade, mas não sou procurado por eles porque estou condenado. Sou procurado porque eles querem a minha oitiva.

Agora, um cidadão brasileiro é chamado para depor na Alemanha, Dinamarca, Áustria, Japão ou Estados Unidos? Ele tem a obrigação constitucional de tomar um avião e ir lá? Ou ele teria a obrigação constitucional de ser ouvido aqui por juiz brasileiro, numa carta rogatória, ou então por videoconferência? Aqueles criminosos, pilotos dos Legacy americanos que mataram 159 pessoas do Boeing da Gol foram ouvidos por videoconferência pela Justiça brasileira.

Não estou procurado. Estou aqui, dando uma entrevista para você. Estou às ordens. Agora, tomar um avião para ir lá? Não. O que estranho é que um brasileiro não tem a mesma defesa do governo brasileiro que teve o Cesare Battisti, este sim criminoso, assassino, matou gente na Itália. Está condenado pela Justiça italiana e recebeu asilo aqui.

E o Paulo Maluf não é defendido pelo governo brasileiro dizendo: "Peraí, tem uma Constituição nesse país, esse país não é quintal de ninguém".

O sr. já falou disso com Dilma Rousseff?
Não, com a presidenta não.

Com o ministro da Justiça?
Sim, já estive com ele diversas vezes.

Com quem? José Eduardo Cardozo?
José Eduardo Cardozo, meu amigo, foi vereador comigo.

O que ele disse?
Ele tentou sim, interferir no assunto, mas o governo, como um todo, Ministério das Relações Exteriores...

Tentou interferir como, Dr. Paulo?
"Quer ouvir o sr. Maluf, ele está aqui na tribuna da Câmara, na casa que ele mora..."

Ele mandou um comunicado para a Justiça americana?
Não, há uns dois anos ele fez um comunicado ao Departamento de Estado americano, mas não teve a força que teve para defender a permanência do assassino italiano aqui no Brasil.

Há dois anos o ministro da Justiça mandou esse comunicado. Nesses dois anos que se passaram o sr. fez alguma nova gestão para tentar solucionar essa situação?
Sim, mas ao meu custo. Foram advogados americanos para dizer "o seu Maluf está lá, e ele não é um fugitivo, ele mora na mesma casa há 40 anos".

E o que diz a Justiça americana aos seus advogados?
Querem que eu vá lá. Não vou. Sou brasileiro.

O sr. teme que possa ser admoestado, preso, alguma coisa?
Não, este é um país autodeterminado, isso não é quintal de país nenhum, e vocês jornalistas não defendem o Brasil com o mesmo vigor que eu defendo.

Nesse período o sr. não viajou ao exterior?
Viajei uma vez. Tenho passaporte diplomático. Estive na Inglaterra e estive na Itália.

O sr. não teme que por conta desse aviso na Interpol tenha problemas em uma viagem dessa?
Não, porque não tenho processo condenatório. Vocês deviam perguntar a eles. "Mas por que vocês não ouvem o Maluf que vive na mesma casa há 40 anos? Ele não é fugitivo. Ele está na tribuna da Câmara em Brasília. Ele faz parte da Comissão de Constituição e Justiça". Não passa uma lei no país que não passa pelas minhas mãos, não é? Quando eles quiserem que eu fale, eu falo, mas é no meu território.

A Folha de S.Paulo publicou uma reportagem dizendo que documentos que constam de um julgamento na Ilha de Jersey indicam que o sr. teria tratado pessoalmente do tema, com advogado encarregado de dar explicações obre a origem de um valor depositado no Deutsche Bank. O que aconteceu nessa negociação?
Primeiro, não sou réu em Jersey. E a sentença diz que não tenho conta em Jersey. Isso a Folha nunca disse e sou obrigado a dizer a você que ela é parcial.

Mas por que o sr. está citado nesse processo em Jersey?
"Citado", eu poderia citar você também, Fernando.

Mas eu não estou citado.
Não sou réu, não me defendi, não sou réu, e tem mais, a sentença diz que não tenho conta.

Mas por que o sr. teve que constituir advogados para apresentar explicações desse processo em Jersey?
Se fosse no regime nazista, ou fascista, você não precisava de advogados. Mas no regime do Estado de Direito quando você eventualmente é acusado de maneira falsa, o que você faz? Ou você é pobre e tem um defensor publico ou você tem recursos e contrata um advogado. Foi o que fiz.

Tem alguma novidade desses processos nos últimos dias?
Tem. Que não tenho conta e nem sou réu. Essa é novidade.

O sr. tem um carreira longa como político e muitos casos rumorosos ligam o sr. a esses episódios. Isso incomoda o sr.?
Não. Tenho que pedir só direitos autorais que vocês já ganharam muito dinheiro de maneira falsa me envolvendo em coisas que eu não fiz.

Na sua campanha para deputado o sr. tem viajado bastante, as pessoas perguntam desses episódios?
Não. O voto da gratidão é muito relativo. O que a população quer é o voto da esperança. Onde tenho ido, e faço isso há 47 anos, eles querem saber o seguinte, "o que o sr. vai fazer se for eleito". O resto é repórter que pergunta e povo não é repórter. O povo quer saber o seguinte: "What about me?": como é que eu entro nisso?

Por que o sr. quer ser deputado federal de novo?
Porque adoro tudo que faço, adoro ir para Brasília.

Acesse a transcrição completa da entrevista

A seguir, os vídeos da entrevista (rodam em smartphones e tablets, com opção de assistir em HD):

1) Principais trechos da entrevista com Paulo Maluf (10:36)

2) Maluf: Cardozo contatou EUA sobre retirada de minha foto da Interpol (3:48)

3) Aeroporto feito por Aécio não é público, é para sua família (2:31)

4) Meu santinho de campanha terá o nome de Dilma, diz Maluf (2:37)

5) Sabesp está enganando Alckmin; problema não é falta de chuva (2:08)

6) Marina é antiquada e não agrega votos para Campos (1:28)

7) Queria apoiar Padilha, mas meu partido preferiu Skaf (2:09)

8) Haddad está fazendo o que precisa ser feito e torço por ele (2:20)

9) Só me aposento quando Deus me levar pro céu (1:43)

10) Dilma merece 10 como pessoa física, e 7 a 8 como administradora (2:50)

11) Quem é Paulo Maluf? (2:14)

12) Íntegra da entrevista com Paulo Maluf (58 min.)

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