Folha de S. Paulo


Leia a transcrição da entrevista de Andrés Sanchez à Folha e ao UOL - Parte 1

Andrés Sanchez, ex-presidente do Corinthians e hoje conselheiro vitalício do clube, participou do Poder e Política, programa da Folha e do "UOL" conduzido pelo jornalista Fernando Rodrigues. A gravação ocorreu em 4.jun.2014 no estúdio do UOL em São Paulo.

http://www3.uol.com.br/module/playlist-videos/2014/andres-sanchez-no-poder-e-politica-1402012716453.js

Andrés Sanchez - 4.jun.2014

Narração de abertura [EM OFF]: Andrés Navarro Sanchez tem 50 anos. Nasceu em Limeira, no interior paulista. É empresário e ex-dirigente de futebol.

Filho de imigrantes espanhóis, André Sanchez trabalhou dos 12 aos 17 anos como feirante em uma banca de frutas de seu pai. Aos 20 anos, foi admitido como gerente de uma empresa de embalagens de um primo, da qual veio a se tornar sócio.

Nos anos 80, após morar uma temporada na Espanha com um primo sindicalista, Andrés Sanchez filiou-se ao PT.

Andrés Sanchez dedicou parte de seu tempo ao seu time, o Corinthians. Ainda adolescente, tentou se profissionalizar como lateral direito, mas não teve sucesso. No lugar, construiu uma carreira de dirigente esportivo: administrou a categoria de base e foi diretor de esportes terrestres.

Em outubro de 2007, André Sanchez assumiu a Presidência do clube após uma crise que derrubou o antigo cartola, Alberto Dualib. No segundo mês de seu mandato, o Corinthians acabou rebaixado para a segunda divisão.

Andrés Sanchez reformulou a administração do Corinthians e ampliou o uso do marketing. Anunciou, com o apoio do ex-presidente Luiz Inácio da Silva, a construção da Arena Corinthians, que sediará a abertura da Copa do Mundo.

Em dezembro de 2011, Andrés Sanchez deixou a Presidência do clube e assumiu a diretoria de seleções da Confederação Brasileira de Futebol, cargo que ocupou por um ano.

Andrés Sanchez hoje é conselheiro vitalício do Corinthians e se prepara para se aventurar na política partidária. É pré-candidato a deputado federal pelo PT.

*

Folha/UOL: Olá, bem-vindo a mais um Poder e Política - Entrevista. Este programa é uma realização do jornal Folha de S.Paulo e do portal UOL. A gravação desta edição do Poder e Política esta sendo realizada no estúdio do UOL, em São Paulo. O entrevistado desta edição é Andrés Sanchez, ex-presidente do Corinthians e hoje conselheiro vitalício do clube.

Folha/ UOL: Olá Andrés, como vai?
Andrés Sanchez: Tudo bem graças a Deus e disponível para responder. Espero que você seja leve.

Foi uma boa ideia realizar a Copa do Mundo no Brasil em 12 cidades diferentes?
Não, acho que é a primeira vez na história que uma Copa do Mundo tem mais do que oito ou dez sedes. Realmente é mais complicado para todo mundo, mas o Brasil é um país continental e entenderam que, por ser continental, teriam que ter 12 sedes, mas houve já Copa do Mundo em outros países também continentais que não houve 12 sedes...

É verdade. Estados Unidos, por exemplo.
Por exemplo. Então a gente tem que ter mais condição. Eu entendo que tenham feito a engenharia dos estádios mais apropriada, para pós Copa do Mundo ter utilidade. Infelizmente, não pensaram nisso e realmente será um problema.

Você acha que algumas das sedes que não têm clubes na primeira divisão, não têm tradição de ter clubes fortes, vão fazer o que com os estádios?
Não, eu acredito que mesmo que não tenha time na segunda, ou na primeira divisão, tem times na série C ou na série D que são importantes ter estádio de futebol, talvez não para 40, 50 mil pessoas.

Por exemplo, Brasília.
Brasília eu acho que foi um exagero ter um estádio para 74 mil pessoas. Deviam fazer um estádio para, no máximo, 40 mil pessoas, até porque lá é a capital do Brasil, tem movimento, pode ter outras utilidades. Lá está tendo show, está tendo um monte de coisa que vai poder ter outra utilidade, mas realmente em alguns estádios nós vamos ter um exagero.

Vamos falar do estádio aqui de São Paulo, construído pelo Corinthians. O custo ficou em, aproximadamente, R$ 1 bilhão, é isso?
Não, eu já falei um monte de vez publicamente quanto é, mas insistem em escrever ou falarem errado. O custo, da obra em si, ficou R$ 965 milhões, da obra. Mas o Corinthians teve que pagar R$ 1,150 bilhão. Por quê? Atrasou financiando do BNDES quase dois anos, é quase R$ 108 milhões de juro, tem o overlay [estruturas temporárias] que todo mundo ia pagar, mas acabou da arena ter que pagar, então são mais R$ 100 milhões e, realmente, houve uns 14%, 15% de estouro do custo da obra, por isso ficou R$ 1,150 bilhão. Você tira os incentivos fiscais que existem para a Zona Leste, o Corinthians tem que pagar de R$ 700 a R$ 750 milhões em 12 anos.

Tem uma dúvida que ficou, me corrija se eu estiver errado, sobre quem banca, de fato, as estruturas provisórias que são colocadas para a Copa do Mundo.
A Arena Corinthians assumiu tudo.

Quanto custa?
Até R$ 100 milhões, mas deve ficar em torno de R$ 70 a R$ 80 milhões.

O clube, o Corinthians, vai assumir esse...
Não, o clube não, a arena, o projeto.

Como é que funciona, explica melhor.
Foi montado um fundo imobiliário com cotas que a Odebrecht é a proprietária majoritária nesse fundo. Conforme o Corinthians for pagando as prestações, as cotas vão vindo para o Corinthians, para a arena, para o Corinthians. Daqui a 12 anos, pagou tudo, não existe mais fundo, não existe mais nada. Não tem dinheiro do Corinthians clube, nem no fundo e nem para o Corinthians. É uma engenharia financeira muito bem pensada, muito bem feita, com um fundo de investimento em que toda a arrecadação da arena é obrigatória ir para esse fundo.

Quem está apresentado dinheiro agora para instalar provisoriamente aquela arquibancada?
A arquibancada provisória é o governo de Estado e a Ambev, não tem nada a ver com o Corinthians.

Ah, isso que eu ia te perguntar.
A Ambev que contratou algumas empresas e contratou a Fast [Engenharia] para fazer as provisórias.

Então é a Ambev que está bancando aquela arquibancada provisória para a cobertura da Copa?
Perfeito. O Corinthians e a Odebrecht não têm nada a ver com isso.

E quanto custou essa daí que a Ambev vai pagar?
R$ 38 milhões parece que foi. R$ 38 milhões, 39 milhões.

Durante o processo toda da construção da arena, o estádio novo do Corinthians, houve quem criticasse dizendo o seguinte: Olha, quem vai fazer é a Odebrecht, e fez, a Odebrecht é a empresa no Brasil que mais recebe dinheiro de governos, porque faz muitas obras públicas. Quem está ajudando a financiar é o BNDES- que até atrasou, não sei o quê, mas é o BNDES. E as pessoas dizem assim: Será que a fronteira entre o que é público e o que é privado foi ultrapassado?
Mas isso é um absurdo.

Por quê?
Porque nós brasileiros somos hipócritas em muitas coisas. Nós fazemos e duvidamos de coisas que são terríveis. A Odebrecht é uma das maiores construtoras que existe no país, a maior do país e uma das maiores do mundo, como existem inúmeras. Quem vai fazer construção aqui de grande porte são três, quatro construtoras brasileiras, não existe mais que essas. Então cada um que duvide que monte uma construtora. A Odebrecht realmente teve uma dificuldade porque o financiamento demorou dois anos e ela bancou do caixa dela, dentro desse fundo, que já tem um juros pré-determinado que a arena vai pagar de volta para ela. Então, ela fez um investimento financeiro dentro do estádio, que era um projeto que ela estava buscando com o Corinthians desde 1997, desde a época do sr. Alberto Dualib a Odebrecht tentou fazer um projeto de estádio do Corinthians, como eu acho que são poucos times do Brasil que podem ter estádio particular, que se pagam rentavelmente. O Corinthians vai provar, e eu já falei aqui, quem quiser, e duvidar, é só ir lá no Corinthians, nós vamos mostrar tudo, documento, quanto custou, tudo, não precisa esconder nada.

Tem uma discussão sobre o custo que vai ter ao longo dos próximos anos para o Corinthians manter o estádio.
Não é o Corinthians, é a arena, o projeto.

Pois é, mas o que seria de benefício para o Corinthians, a renda eventualmente que iria existir por causa da arena...
Perfeito.

...Não vai entrar, necessariamente, para o Corinthians administrar o futebol.
Vou te explicar. O Corinthians não vai por nenhum tostão na arena, e a arena, quando começar a funcionar, que nem está funcionando, pagou a prestação, pagou a manutenção do estádio, sobrou quanto? Sobrou R$ 50 milhões, R$ 25 milhões ficam no fundo para antecipar o financiamento no final e R$ 25 milhões vão para o clube.

Se tiver esse excedente?
Mas vai ter. O projeto que nós fizemos financeiramente, sabemos que vai arrecadas uns R$ 200 milhões por ano, a prestação é R$ 90 milhões e a manutenção é R$ 30 milhões, R$ 35 milhões.

Ou seja, na tua avaliação, se essa meta de ter um faturamento de cerca de R$ 200 milhões por ano com o estádio só vai sobrar dinheiro para o Corinthians.
Tem R$ 60 milhões, R$ 70 milhões de lucro, você divide metade e sobra mais que um Pacaembu para o Corinthians por ano.

Entendi.
A diferença...

Mas sendo realista você acha que isso vai acontecer logo de cara?
Esse ano não, mas ano que vem...

Não no ano que vem, em 2015?
Mais do que R$ 200 milhões, porque ninguém entendeu ainda como é o estádio do Corinthians. O estádio do Corinthians não é só um jogo de futebol, não é só para o futebol. Existem mil coisas lá dentro de eventos, de convenção, de feira, de festas, que vai da competência de quem vai administrar para trazer isso de volta. É um centro de convenções. Você vai lá, eu te convido conhecer o estádio, o futebol é o que você menos vê lá. São 40 eventos por ano no futebol, 38, 40 eventos por ano. Nós temos que trabalhar lá 300 dias por ano.

Quem vai ser o maior concorrente do estádio? O estádio do Palmeiras?
Não. São projetos diferentes. O estádio do Palmeiras é muito bem concebido, mas é totalmente diferente do Corinthians, em regiões diferentes. Tem mil maneiras. Nós pegamos mais pelo business, pelas empresas, para evento, para convenção, para feiras, para auditórios do que propriamente para o show. Show, eu acho que o do Palmeiras vai ser imbatível.

O Palmeiras vai pegar mais shows e vocês vão pegar mais eventos corporativos. É isso?
Isso.

Dá um exemplo de evento corporativo que pode ser feito em um estádio tão grande assim, porque é um estádio grande.
Tem áreas lá dentro...

Não é dentro do estádio?
O gramado ninguém usa, é só para jogar futebol. Interno tem 130 mil metros [quadrados] no prédio oeste e lá tem 42 mil metros [quadrados] que são feitos por divisórias para você fazer qualquer tipo de evento de 300 a 15 mil pessoas.

Convenções, essas coisas?
Convenção, feira, lançamento de produto, um monte de coisa, casamento, festa de casamento, festa de batizado, o que quiser fazer.

E o gramado não vai ser nunca coberto para ter show, ele não está preparado para isso?
Não, não.

Não era bom que fosse?
Não. Nós fizemos um projeto no gramado que gastamos R$ 2 milhões e pouco a mais do que custaria, mas mesmo assim é barato do que mais da metade dos estádios do Brasil, mas tem ar-condicionado, tem água gelada, tem um monte de coisa no gramado, porque é grama de inverno, que em um país tropical, realmente, tem dificuldade. Então tem que fazer todo esse projeto, então não tem cabimento hoje você fazer um show e para daqui a dois meses estarem reclamando que o gramado está ruim.

Não teria como gastar um pouco mais, quer dizer, gastar um pouco mais, já gastou tanto, mas para fazer, para poder usar, não tem jeito?
Não tem tecnologia para isso.

Não tem tecnologia. Como é que o Palmeiras vai fazer? É outro tipo de grama?
É outro tipo de grama. Além de ser isso, o Palmeiras tem um recuo, que faz uma arena dentro do estádio que pode fazer o show.

Não em cima da grama?
Talvez pegue uma parte lá que eles estão preparando, mas foi muito bem pensado o estádio do Palmeiras também.

Entendi. O BNDES cumpriu o acordado com o Corinthians a respeito dos R$ 400 milhões?
Não.

O que aconteceu?
Atrasou dois anos.

Por quê?
Porque eles não entenderam. Não, não é nem o BNDES, é o banco repassador, o BNDES é outra coisa, mas a burocracia brasileira é muito grande, é muito difícil. Atrasou quase dois anos e isso custou um juro para o Corinthians muito alto.

Mas de quem foi a responsabilidade disso? Não pode ser só da burocracia. Teve alguém, alguma entidade específica?
Como era um fundo imobiliário, o banco repassador, a princípio, seria o Banco do Brasil, que repassou todo o dinheiro do ProCopa. Como era um fundo imobiliário, eles não tinham muita expertise nisso, por isso que depois a Caixa, que tem expertise em fundos imobiliários, conseguiu entender o projeto, e foi dado garantias à Odebrecht, garantias do Corinthians e a própria garantia do projeto. Talvez seja um dos financiamentos que mais garantia tenha nesse país.

Mas o atraso, não teve jeito?
O Corinthians teve que pagar R$ 100 milhões de juros porque tivemos que fazer empréstimos-ponte para pagar e não parar a obra.

Andrés, sobre o nome do estádio do Corinthians, que o Corinthians chama de Arena Corinthians. Os jornais brasileiros...
Jornais não, a "Folha de S.Paulo", o UOL, que insistem em chamar de Itaquerão, mas é um direito deles.

O jornal "New York Times", essa semana passada agora, que é um jornal grande, maior jornal dos Estados Unidos, fez uma reportagem com fotografia e chamou de...? Itaquerão.
É porque o UOL e a "Folha" talvez devem ter muita audiência nos Estados Unidos e eles copiam.

A presidente Dilma Rousseff, nesta terça-feira, 3 de junho, deu uma entrevista para a TV Bandeirantes, passou em rede nacional, ela se refere ao estádio do Corinthians como Itaquerão. O que acontece?
Eu fiquei sabendo agora, por você ter me falado. Eu fiquei muito triste. Com certeza vou mandar uma carta oficial para o Palácio [do Planalto] dizendo que isso é um absurdo, não pode chamar, lá é Arena Corinthians, não é Itaquerão.

Qual é o problema de, às vezes, se referir ao bairro?
Porque o que nós vamos vender o nome. Não é o bairro, o bairro é Itaquera.

Não, mas enfim...
Se chamar Arena Itaquera você não vê eu reclamar, estádio Itaquera você não vê eu reclamar, agora, o apelido, não.

Mas você acha que tem uma conotação pejorativa Itaquerão?
Não, tem mau interesse da imprensa, de uma parte da imprensa, porque todo mundo sabe que hoje vender o nome do estádio e é uma grande fonte de renda para os clubes. Na Europa já está consolidado, nos Estados Unidos há muito mais tempo, então nós vamos vender o nome do estádio como, aliás, o Allianz Parque do Palmeiras foi vendido e poucas pessoas da imprensa falam, mas o Corinthians vai insistir e daqui a alguns anos vão aprender e entender que isso é uma grande fonte de renda para os clubes de futebol ou para as arenas de show e para quem quer que seja. Eu acho uma falta de respeito do UOL, da "Folha de S.Paulo" e alguns órgãos de imprensa, que eu mandei carta para todos pedindo para se chamar Arena Corinthians. Muito triste. É a mesma coisa falar: O BNDES emprestou dinheiro para você, mas no UOL, na "Folha" e em todo lugar, os Correios, Banco do Brasil, faz propaganda. É dinheiro público ou não é dinheiro público? Eu não entendo isso aí. Quando é para o clube é dinheiro público, quando é para a imprensa é dinheiro o quê? Não dá para entender direito.

No caso aí a presidente você acha que ela foi...
Ela tomou uma gafe.

Ela cometeu uma gafe?
Uma gafe, uma gafe com o Corinthians. Lá é Arena Corinthians, o estádio do Corinthians.

Você vai mandar uma carta, é isso?
Vou mandar uma carta oficialmente e vou ligar para pessoas próximas dela para dizer, ela deve ter dito pela força de expressão que sai da imprensa.

Que ela cometeu esse...
Equívoco. Para ser bonzinho.

Por quê?
Porque sim, porque eu acho que todo mundo já sabe que lá é Arena Corinthians.

Você, então, a tua reclamação é sobre, primeiro: o problema que causa não chamar de Arena Corinthians no sentido de prejudicar o faturamento que o clube vai ter. Mas há também um sentimento de incômodo em relação a usar o nome do bairro no aumentativo, Itaquerão, é isso?
É isso, porque puseram placa lá, "Estádio Itaquera", lógico que eu reclamei, mas eu entendo que existe uma lei, de hipócritas, mas existe uma lei. Então, indiretamente tem que respeitar a lei, mas é um absurdo. Agora, a parte da imprensa que fala Itaquerão, eu não estou preocupado com o que o povo fala, o povo fala o que quiser porque estamos em uma democracia, mas os órgãos de imprensa que são profissionais e cobram profissionalismo, eles tinham que respeitar aquilo que o clube pediu, porque realmente nós temos que vender o nome do estádio e fica mais difícil.

No caso da presidente,você acha que faltou uma assessoria, alguma coisa?
Foi mal informada. Infelizmente, a assessoria dela falhou, e falhou feio.

E ela também, no caso, ela deve ler jornal, né.
Por isso talvez, porque ela deve ler a "Folha de S.Paulo". Será que ela lê a "Folha"?

Será que ela é leitora só da Folha?
Ou do UOL. Está errada ela, hein.

Naming rights. Esse negócio dos direitos de explorar o nome. Como andam as negociações e o que se pode esperar delas?
Tem que falar com o UOL e com a "Folha" para parar de chamar de Itaquerão, né.

Mas, além do UOL e da "Folha", eu sei que a sua missão aí é negociar o nome do estádio.
Estamos negociando, tem três, quatro empresas, mas...

Elas são conhecidas, é possível dizer ou ainda não se pode?
Não posso dizer porque, nesse tamanho de negócio, a empresa que não fechar acha que perdeu e então fica um pouco delicado, mas está cada dia mais adiantado. É uma novidade no Brasil, como eu disse, aqui não tem o costume de chamar os nomes das arenas, mas, como a globalização é forte e o Brasil copia coisas boas de fora, espero que copie essa.

A tua expectativa é que quando possa ser fechado isso e qual é a tua expectativa de receita dos naming rights do estádio?
Em torno de R$ 400 milhões por 20 anos.

R$ 400 milhões em 20 anos?
Isso, que seriam...

Dólares ou reais?
Reais. Seriam uns R$ 20 milhões por ano e já está atrasado um ano, um ano e meio. Não vamos ser hipócritas e achar que estamos no timing bom, já era para estar fechando isso há mais de um ano. Mas acredito eu que no máximo mais alguns meses e fecha.

A obrigação do clube, da arena, é qual em relação à empresa que dá o nome. É colocar o nome e fazer mais o quê?
É você colocar o nome e todo o encarte, tudo que tiver de divulgação da arena, é arena com o nome da empresa. Os documentos...

E a empresa tem algum direito em relação...?
Tem o camarote, tem a exploração, tem vários eventos que ela pode fazer dentro da arena, tem todo um projeto. É muito bem copiado do [clube inglês] Arsenal e estamos levando mais ou menos seguindo o que o Arsenal fez.

Aqui no Brasil quem já faz isso, além do Palmeiras que a gente já sabe?
Ninguém.

E o Corinthians seria o segundo. Os outros que fizeram estádio privado foram para o Grêmio, não fez isso, o Paraná...
Nem o Grêmio, o Atlético Paraná foi o primeiro que fez, há alguns anos atrás, mas, infelizmente, não teve muito... talvez porque não tivesse muita interatividade entre eles e não pegou, mas foi o primeiro de tudo foi o Atlético Paraná.

E esse valor, R$ 20 milhões por ano. É mais ou menos o que no mercado internacional se cobra ou aqui é um valor menor? Pro Arsenal deve ser mais, é menos?
Infelizmente, menor.

O Arsenal é conhecido o valor?
Não é, né, mas...

Mas se diz o quê?
Mas com certeza deve ser, no mínimo, o dobro.

Entendi. E a tua expectativa é que durante este ano, ainda de 2014, isso possa ser fechado? Tem que ser, né?
Temos que fechar. Acredito que até antes do final do ano feche.

O ex-jogador Ronaldo, que jogou no Corinthians, fez uma passagem bonita pelo clube, acabou de dar uma entrevista, várias na verdade, se dizendo envergonhado pelo fato de algumas obras da Copa do Mundo não terem ficado prontas e isso teve grande repercussão. Qual é a sua opinião sobre a declaração do Ronaldo?
O Ronaldo tudo que fala realmente repercute. Eu acho que ele estava em uma expectativa, há alguns meses atrás, de que tudo ficasse pronto, quando ele sentiu agora faltando um mês para a Copa, ele viu que nem todas as obras ficariam prontas e se sentiu no direito de dar aquela resposta. Ele foi um dos caras que mais comprou a ideia de Copa, que mais deu a sua cara para bater, mas, infelizmente, ele se sentiu assim e disse isso. Eu sempre disse que a Copa do Mundo no Brasil é importante, que nós íamos ter algumas coisas que não ficariam prontas e outras que ficariam boas. Tem lugar que não vai ter o legado para a população e tem lugar que vai ter muito legado para a população. Nós vamos ter erros e acertos, mas vai ser uma grande Copa. O que nós não podemos admitir é que o brasileiro ou o Brasil escondam a sua cara. Nós temos que mostrar para o mundo as dificuldades, as deficiências que nós temos, e as virtudes que nós temos.

O Ronaldo foi ingênuo?
Não, de ingênuo ele não tem nada.

Pois é, mas...
Nada. Ele se sentiu, naquele momento ele deve ter tido alguma reunião naqueles dias e ele viu que muitas das obras ou algumas das obras não ficariam prontas e se sentiu no direito de falar aquilo.

Em que medida teve cálculo político a declaração do Ronaldo?
Eu não calculo nisso, não levo para esse lado não.

O fato de ele também ter declarado que vai dar apoio ao candidato do PSDB, Aécio Neves, na disputa pela Presidência da República teve alguma influência, na sua opinião?
Não, ele é amigo do Aécio há muitos anos, há mais de décadas, desde a época em que ele jogava no Cruzeiro, parece. E, infelizmente, nós brasileiros ou a grande maioria dos brasileiros não vota no partido, vota em pessoas, o que eu acho que é um erro. Eu acho que tinha que votar no partido, tinha que votar no projeto do partido, mas, infelizmente, nós vamos muito pelas pessoas. Do mesmo jeito aquele que falou: "Em quem votaria se fosse candidato? Eu votaria em mim." E ele é um exemplo de muitos brasileiros que votam na pessoa e não no partido.

Você conversou com ele depois dessas declarações dele?
Muitas vezes.

E ele falou "ah, fiquei decepcionado", como é que ele...
Não, nem falei com ele disso aí porque foi muito rápido, eu estava voltando de viagem, mas te garanto que é isso aí. Até cinco, seis meses atrás ele estava achando que ia ficar tudo pronto e, infelizmente, nem tudo ficará pronto.

Por que não vai ficar pronto, na sua opinião?
Porque nós brasileiros temos a mania de deixar tudo para última hora.

Nós brasileiros ou...
É a cultura brasileira.

Você que alguns governos são melhores que os outros porque primeiro ficou a cargo de governos estaduais...
...Municipais, não é tudo culpa do [governo] federal. Então já levaram toda a culpa para o federal. Por exemplo, aeroporto. O aeroporto não vai ficar pronto para a Copa, mas o aeroporto não é para a Copa. O aeroporto tinha que estar melhor há dez anos atrás e tem que ficar melhor o mais rápido possível, independente de Copa. É que tudo agora que vai ser feito "é para a Copa", "é para a Copa". Nós temos que esquecer esse negócio de Copa do Mundo, nós temos que fazer para nós, brasileiros. Ou você acha que o aeroporto há oitos anos estava bom? E há oito anos eu não sabia que ia ter Copa, sabia há seis.

Você acha que, em termos de responsabilidade sobre o que aconteceu nesses últimos 12 meses, vamos dizer, que precederam a Copa, porque muitas coisas iam ficar prontas também para a Copa, teve alguma responsabilidade maior de governos municipais, estaduais, federal?
Eu acho todos têm responsabilidade. Todos os brasileiros e os órgãos públicos, todos têm responsabilidade. Como eu falei, o Brasil é uma burocracia total, muitas coisas não são nem culpa do governo, é culpa da burocracia que existe nesse país. Às vezes para você tirar autorização para alguma coisa leva um ano e meio. Tem gente que está trabalhando há muito tempo e não tem nem alvará ainda, porque já tem autorização, mas não tem o alvará oficial porque geralmente demora para sair.

Em geral, como é que você se sente com esses atrasos?
O que eu sinto é o seguinte: tudo que estão fazendo agora, já tínhamos que ter feito há décadas atrás. Está respondido.

Mas isso é culpa do brasileiro?
Não, é culpa dos órgãos públicos desse país.

Vamos pensar o seguinte: em São Paulo o governo é comandado por um partido há 20 anos, que é o PSDB. No plano federal é comandado por um partido, que é o PT, há 12 anos. Quando você chega no primeiro ano...
E o municipal fica trocando.

Aí se diz: "Pô, mas eu cheguei há um ano e ainda não deu tempo". Mas quem ficou 20 anos, 12 anos não tem mais desculpa, tem?
É isso que eu estou falando. É erro dos órgãos públicos. Como brasileiro, cidadão, tudo que estão fazendo para a Copa já tinha que ter feito há décadas. Tudo bem que o governo estadual de São Paulo e o governo municipal fizeram algum legado para a Zona Leste, para a cidade de São Paulo, pela Copa do Mundo, mas o viário, o túnel, tudo aquilo que foi feito tinha que ter sido feito há décadas. A Zona Leste tem mais de quatro milhões de habitantes, é um país. Só agora que estão vindo para lá? E há a décadas que ninguém investe nada lá. Agora, tem um legado silencioso que ninguém fala.

Qual é?
Que muita gente aprendeu outra língua, os táxis estão não sei o quê, os hotéis aprenderam muito melhor a se movimentar e atender às pessoas. Tudo isso é um legado silencioso que um evento como a Copa do Mundo também deixa.

Deixa eu perguntar do Estádio do Corinthians de novo. O preço dos ingressos. Teve um jogo agora, contra o Figueirense, que parece que o ingresso mais barato, você me corrija se eu estiver errado, foi de R$ 83, é isso?
Está errado.

Enfim, em geral, qual foi o valor menor...?
R$ 35 reais, o sócio-torcedor pagou.

Sócio-torcedores. Agora a pessoa que chegasse lá...?
R$ 50.

R$ 50. Esse valor, na tua opinião, ele está baixo, está alto, ou está certo?
Não, eu acho que na realidade pelo que é o evento hoje, ele não está caro, está razoável para o salário mínimo do brasileiro.

Quanto deve ser um valor justo para entrar em um jogo de futebol em um estádio novo, moderno, como esses que estão sendo construídos agora?
Tem que ver muito o jogo de futebol, o time que vai jogar, porque às vezes o time não compensa o espetáculo para ser jogado.

Esses campeonatos, em países desenvolvidos, de vários esportes, não só futebol, nos Estados Unidos que têm muita empresa no esporte, não importa o time, tem a primeira divisão, tem 20 times lá de hockei no gelo, de basquete, não importa, o preço sempre é meio tabelado e é muito caro, muito caro. A gente vai chegar nisso também, como é que vai ser o modelo brasileiro, na sua opinião?
No dia em que os brasileiros de menor renda, melhorarem a renda fora do que já melhoraram, tudo vai aumentar, mas enquanto nós tivermos pessoas aqui que ainda não tenham condições nós temos que achar uma escala. O futebol é o esporte mais democrático e nós não podemos nos esquecer das pessoas que têm condições e das que não têm também. Então tem que mesclar.

Nessa primeira fase, o Brasil com estádios novos, na primeira divisão do futebol brasileiro, o que é um preço médio aceitável na tua opinião, para os jogos da primeira divisão?
Nenhum preço, tirando raras exceções, uma final de campeonato ou duas, que foi o Atlético ou o Flamengo, nunca passou de R$ 50 o ticket médio.

E você acha que é bom esse valor?
Não, eu acho que é pouco.

Não é muito barato?
Eu acho que o ticket médio tem que ser uns R$ 100, R$ 110.

Para jogo de final ou para todos?
Para tudo. Você vai ter ingressos a R$ 30, R$ 35, e vai ter ingressos a R$ 1.000.

E na média soma tudo, divide, na média dá uns R$ 100...
Que nem no Corinthians contra Figueirense, deu na média R$ 83.

Isso que eu ia falar, a média foi R$ 83.
Mas tinha ingresso lá a R$ 35 para sócio. A R$ 32 para quem é sócio-torcedor e sócio do clube, pagou R$ 32.

Mas será que o futebol brasileiro, ano que vem, 2015, passou esse negócio de Copa. Ano que vem, primeira divisão, futebol brasileiro está pronto para cobrar na média R$ 100, R$ 110 o ingresso?
Não sei se ano que vem está pronto. É uma busca que os clubes têm que fazer. Os clubes estão pagando salários muito altos para o seu time, comissão técnica, todo mundo está exigindo grandes jogadores e tudo isso tem um custo. Futebol hoje virou um grande negócio, um grande business e tudo isso tem um custo. Aquele negócio do amor acabou há duas décadas.

Leia a transcrição da entrevista de Andrés Sanchez à Folha e ao UOL - Parte 2


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