Folha de S. Paulo


Leia a transcrição da entrevista de Marco Feliciano à Folha e ao UOL - parte 1

O pastor evangélico Marco Feliciano, deputado federal (PSC-SP) e presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, participou do "Poder e Política", projeto do UOL e da Folha conduzido pelo jornalista Fernando Rodrigues. A gravação ocorreu em 1º.abr.2013 no estúdio do Grupo Folha em Brasília.

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Leia a segunda parte da transcrição da entrevista de Marco Feliciano

Marco Feliciano - 1º/4/2012

Narração de abertura: Marco Antonio Feliciano tem 40 anos. É pastor evangélico e deputado federal por São Paulo. Filiado ao PSC, o Partido Social Cristão, foi eleito em 2013 presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados.

Formado em teologia, Marco Feliciano é autor de livros e músicas relacionadas à religião. Em 2008, na Assembleia de Deus, fundou o seu próprio ministério chamado Catedral do Avivamento.

Em 2010, disputou a eleição para deputado federal por São Paulo. Foi eleito com 212 mil votos, o 12º mais votado entre os 70 deputados eleitos por São Paulo.

Ao assumir a presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, foi acusado de ser homofóbico e racista. Ele nega. Vários grupos de representantes de minorias e até mesmo o presidente da Câmara, Henrique Alves, pediram sua renúncia. Mas Marco Feliciano diz que não deixará o cargo.

Folha/UOL: Olá internauta. Bem-vindo a mais um "Poder e Política - Entrevista".

Este programa é uma realização do jornal Folha de S.Paulo e do portal UOL. E a entrevista é realizada aqui no estúdio do Grupo Folha, em Brasília.

O entrevistado desta edição é o deputado Marco Feliciano, do PSC-SP, presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados.

Folha/UOL: Olá, deputado Marco Feliciano. Muito obrigado por estar aqui no estúdio do Grupo Folha. Eu começo perguntando: Muita pressão sobre o sr. para que o sr. saia do cargo de presidente da Comissão de Direitos Humanos. O sr. vai sair ou vai permanecer?

Marco Feliciano: Primeiramente, quero agradecer a oportunidade que você me dá de a primeira vez, agora, dar uma entrevista séria para um portal sério. E dizer que não há possibilidade nenhuma de renúncia. Não há possibilidade nenhuma de renúncia até porque eu não cometi nenhum crime, eu não passei por nenhum tipo de julgamento, nenhum tipo de tribunal e o que tem acontecido é apenas a força de um grupo da sociedade que luta muito para que eu, debaixo dessa pressão, saia do cargo. Só que pressão é meu sobrenome. Desde criança eu vivi sobre pressão. Eu nasci de uma família pobre e vivi até agora.

Folha/UOL: Nesta terça-feira, dia 2 de abril, haverá uma nova reunião de líderes partidários na Câmara e, supostamente, o sr. seria convidado e seria feito um apelo ao sr.. Se esse convite vier a ser feito, o sr. vai comparecer à reunião e como aceitaria esse apelo?

Marco Feliciano: Bom, eu não recebi o convite ainda. Eu também fiquei sabendo pelos veículos de comunicação. Eu estou estudando se eu vou atender esse pedido até porque já foram feitos várias reuniões acerca desse assunto e, regimentalmente, não tem o que ser feito. O meu partido, dentro da pluralidade, da proporcionalidade, ficou com a Comissão. Meu partido já se posicionou dizendo que nós não abrimos mão dessa Comissão. Eu já me posicionei dizendo que não abro mão da Comissão. Então, eu não sei o que faria nesse colégio de líderes. E, ali, para ser oprimido, achincalhado por um grupo de pessoas que, na verdade, deveria defender o parlamento e não abrir um precedente como nesse momento está sendo feito, então, eu acho que é muito perigoso.

Folha/UOL: O presidente da Câmara dos Deputados, o deputado Henrique Eduardo Alves, do PMDB-RN, já manifestou algumas vezes a opinião a respeito desse seu caso dizendo que o ideal talvez fosse, não com essas palavras, mas dando a entender isso, que o sr. deixasse o cargo de presidente. O presidente da Câmara acerta ao dizer isso?

Marco Feliciano: Não. Nesse momento, ele sofre uma pressão. Todos nós sabemos que o presidente, deputado Henrique Alves, chegou à presidência debaixo de muita pressão, debaixo de muita luta. E, como ele é o meu líder ali no Congresso, eu me espelho nele. Até porque essa força, esse vigor que eu estou tendo de suportar essa pressão se inspira nele, como falaram tanto dele, acusaram tanto dele. Tantos jornais falando sobre ele e, mesmo assim, ele permaneceu. Então, eu quero ter a mesma chance que ele teve de permanecer e provar que eu posso fazer um bom trabalho.

Folha/UOL: Ele não deveria ter manifestado a opinião que ele manifestou, na sua opinião?

Marco Feliciano: Eu não posso dizer isso porque a manifestação de pensamento é um artigo da Constituição Federal e todos têm que ter o direito. Isso até é importante a gente falar até sobre isso porque eu só estou sendo punido pela minha liberdade de expressão que está sendo tolhida nesse momento. E isso não é democracia. É ditadura.

Folha/UOL: Por falar em liberdade de expressão, várias personalidades da sociedade civil brasileira se manifestaram. Muitos artistas contrários a sua permanência como presidente da Comissão de Direitos Humanos. Vou citar alguns aqui: Caetano Veloso, Fernanda Montenegro, Maitê Proença, Wagner Moura. Artistas. O sr., olhando esses artistas que falaram contra a sua permanência, se pegou pensando, talvez, "esse aí eu era até fã desse artista"? O sr. era fã de algum deles?

Marco Feliciano: Sou fã de todos eles. Inclusive, eu sou cinéfilo, eu amo filmes e gosto da atuação deles e, inclusive, da forma como eles se expressam diante da sociedade. O que eles fizeram nesse momento, esse depoimento deles, foi um depoimento levado por tudo aquilo que eles ouviram falar. Nenhum deles me conhece. Nenhum deles sentou comigo, como você está fazendo, para me ouvir. Nenhum deles conhece o meu histórico de vida. E eu não perturbei muito com isso até porque eles não me representam. Eles vivem num mundo paralelo ao mundo cristão, ao mundo evangélico. O mundo evangélico nosso é um mundo muito nosso. É um mundo diferente. Nós não somos pautados pela mídia. Nós não somos pautados por artistas, até porque os artistas têm o seu estilo de vida. São progressistas por natureza. Acho que uma das máximas do artista é que para ser um ator você tem que esquecer o seu sexo porque o ator encarna o personagem, sendo ele homem ou mulher. Então, nesse momento, pela pressão, por eles terem lido tanto, por terem ouvido falar tanto, eu me tornei uma figura pública da noite por dia. Então foram levados pelo vento. Me deem um tempo para trabalhar e vocês vão ver que as coisas vão mudar. O próprio Caetano, essa semana, em Salvador, na folha mais lida de Salvador, no jornal esqueci o nome, falou sobre isso. Que, coincidentemente, na última quarta-feira, a audiência pública que eu realizei debaixo de protestos, debaixo de luta, era uma audiência pública feita me prol da cidade onde a mãe do Caetano, a dona Canô, que foi uma das maiores brasileiras no Brasil, é a matriarca da cidade. Onde mil pessoas morreram por causa de contaminação de chumbo. E o próprio Caetano parece que agora ele deu uma amenizada. Ele até falou: "Não concordo com o presidente. Mas se a Comissão de Direitos Humanos fizera alguma coisa, vou ser o primeiro a ficar de pé e aplaudir".

Folha/UOL: O sr., no último fim de semana, esteve em Passo, em Minas Gerais, e, daí, uma notícia da sua apresentação lá dá conta que o sr., mencionando a Comissão de Direitos Humanos, presidida agora pelo sr., disse que, pela primeira vez, alguém iluminado pelo espírito santo está no comando, e que, antes, o colegiado era, entre aspas, "dominado por Satanás". O sr. referia aos ex-presidentes da Comissão?

Marco Feliciano: Bom, veja só, eu não disse isso. Tenho gravado a mensagem que eu preguei lá. As pessoas tendem, nesse momento, a me ridicularizar por ser um cristão atuante, por ser um protestante fervoroso. Eu não disse isso em momento nenhum. Disse, sim, que eu sou um homem inspirado pelo espírito santo, e eu creio nisso. Disse que aquela Comissão era regrada por pessoas que tinham um pensamento muito contrário à família brasileira.

Você sabia que, no ano passo, se não me falha a memória, no mês de julho ou outubro, a Comissão de Direitos humanos patrocinou um seminário chamado "Diversidade Sexual na Primeira Infância". O nome pesa para quem compreende um pouco. Primeira infância é de 0 a 6 anos. E eu tentei ali assistir porque fui hostilizado pelo grupo LGBT que ali estava, ao ouvir uma mulher do MEC e outra pessoa do Conselho de Psicologia Federal, pessoas de autarquias reconhecidas no Brasil, dizerem que criança não nasce homem, nem mulher. Nasce gênero. Como não nasce homem, nem mulher, não se pode tolher o direito da criança quando pequenininha, curiosa, querendo tocar no órgão genital da outra, não se pode impedir. Porque, se você impedir uma criança de fazer isso, ela pode crescer com complexos e pode ser irreversível. E a mulher que estava falando isso termina dizendo assim, sorrindo: "Deixe as nossas crianças brincarem e se descobrirem". Tem vídeos sobre isso. Então, a Comissão de Direitos Humanos foi usada por isso e, nesse momento, eu me levante contra isso naquele tempo e me tornei, então, como se fosse o inimigo número 1 do movimento que agora me persegue.

Folha/UOL: Mas uma criança, um bebê deve ser proibido tocar num outro bebê nesse caso?

Marco Feliciano: Veja só. A criança está aprendendo. Se sexo é uma orientação, então vamos cuidar. Não se pode extrapolar os limites e fazer uma criança descobrir antes do tempo aquilo que deve ser descoberto. Sexo não é brincadeira. Eu aprendi isso com a minha mãe e aprendi isso lendo a Bíblia. Ensina o menino no caminho que deve andar e, quando ele crescer, ele nunca vai se desviar dele. Então, tem tempo para tudo. E com criança de 0 a 6 anos, não têm que ouvir essas coisas e nem aprender essas coisas. Cabe ao pai e a mãe a educação do seu filho.

Folha/UOL: O sr. é fundador da Catedral do Avivamento. Poderia explicar como é que o funcionamento da igreja, quando ela foi criada, o tamanho, o número de fiéis, onde ela se encontra?

Marco Feliciano: Nossa igreja é uma igreja pequena. O nome da minha igreja, na verdade, é Igreja Evangélica Assembleia de Deus de Orlândia. Porque é a cidade onde eu nasci e fundei a igreja lá. Nosso ministério tem pouco mais de quatro anos. Nós temos cerca de 14 ou 15 congregações. A maior congregação comporta 800 pessoas sentadas e a menor comporta 10, 15 pessoas sentadas. Então, é um ministério novo. É uma igreja pequena. Somando todas as igrejas, nós não temos mais que 1000 pessoas porque é um ministério novo. É uma igreja pentecostal.

Folha/UOL: Sempre no estado de São Paulo?

Marco Feliciano: Sempre no estado de São Paulo, com exceção de uma igreja que nós temos no Rio Grande do Sul, na cidade de Gravataí, e uma outra na cidade de Sacramento, em Minas Gerais, que é bem próxima da divisa de São Paulo. A de Gravataí já era uma igreja que existia e o pastor pediu cobertura espiritual para nós e nós fundimos o ministério.

Folha/UOL: O correto é dizer que é um ministério dentro do âmbito da Assembleia de Deus? É isso?

Marco Feliciano: Exatamente. A Assemblei de Deus é uma igreja muito grande. Nós temos a convenção geral das Assembleias de Deus, nós temos as convenções estaduais. Eu pertenço a Confradesp, que é a Confraternização das Assembleias de Deus do estado de São Paulo, e pertenço a CGADB, que é a Convenção Geral das Assembleias de Deus. O meu pastor presidente, o líder nacional, é o pastor José Wellington Bezerra da Costa.

Folha/UOL: A Folha de S.Paulo publicou uma reportagem na qual indica que cinco pastores da sua igreja recebem por trabalhos que deveriam prestar ao sr. na Câmara dos Deputados, porém, trabalham apenas na Igreja. Como o sr. responde à isso?

Marco Feliciano: É muito confortável essa pergunta e até essa, entre aspas, "acusação". Nossas igrejas funcionam à noite. À noite, depois que o horário do expediente normal de trabalho já terminou. Nós temos dois ou três cultos à noite por igreja. E o meu eleitorado é um eleitorado fiel. Eu tive 211.855 votos segmentados do movimento evangélico. Nada mais justos do que eu ter assessores pastores para lidar com as demandas do povo evangélico. Nossas igrejas, e esses pastores inclusive, todos eles estão aptos para trabalhar na parte de recuperação de drogadependentes. Nós internamos, nesses últimos quatro anos, mais de 100 meninos. Desses, mais de 30 foram recuperados e voltaram para a sociedade e estão hoje com a família. Então, nós temos um trabalho social muito grande. As igrejas funcionam à noite. Pastor não é profissão. Pastor é vocação. E isso não impede que eles sejam meus assessores.
Folha/UOL: Então, o sr. está dizendo que eles, durante o dia, trabalham para o sr. para auxiliá-lo no seu mandato, e, à noite, como pastores na igreja. É isso?

Marco Feliciano: Exatamente. O cargo pastoral... Tem uma palavra que eu sempre esqueço quando eu vou falar. [O cargo pastoral] é voluntariado. A igreja é movida por pessoas que, de bom grado, vão e prestam o seu serviço à Igreja. Isso por uma vocação divina.

Folha/UOL: Quero falar sobre a arrecadação de dinheiro no âmbito de várias religiões, inclusive na sua. Na internet, há vídeos disponíveis de várias religiões e há, inclusive, com o sr. recolhendo contribuições em dinheiro dos fieis. Tem um caso que é até uma motocicleta que é doada. E a pergunta: Há, às vezes, exagero na coleta do dízimo em algumas religiões?

Marco Feliciano: Olha, eu posso falar pela minha. A Assembleia de Deus é uma igreja muito equilibrada. Principalmente, na parte de oferta e ofertório. Por isso, é, talvez, a igreja mais respeitada do Brasil no movimento evangélico e, principalmente, pentecostal. Não há, na nossa igreja, nenhuma mácula acerca de ofertório porque nós não hostilizamos a pessoa e nem afrontamos ela. O termo usado em alguns programas de TV contra mim, e alguns jornais, sobre a mercantilização da fé chega a ser cruel.

Folha/UOL: Por quê?

Marco Feliciano: Porque é uma acusação infundada. Nós pedimos às pessoas como todas as religiões fazem. Todas as igrejas precisam do apoio dos seus fieis para se manter, para pagar o aluguel. Nas minhas igrejas, nós temos ar-condicionado. Então, você dá à pessoa uma espécie de conforto e nós precisamos manter isso. E como é que nós mantemos isso? Através da arrecadação de dízimos e ofertas. E, enfim, isso existe desde que a igreja é igreja. Todas as igrejas, a maioria delas, fazem isso. O problema é que, quando se colocara na internet os vídeos, as pessoas fazem montagem, são maldosas. Aquele vídeo que aparece... Foi por isso que eu me tornei um vilão.

Folha/UOL: O do cartão de crédito? Só para recapitular, é um vídeo no qual o sr. menciona que tem um cartão de crédito à mão, mas diz que o fiel que entregou o cartão, entregou o cartão porém não a senha.

Marco Feliciano: Pois bem. Agora, veja só. O vídeo foi editado. Eu estava fazendo um ofertório para o maior congresso missionário do Brasil e um dos maiores do mundo, que é o congresso do Gideões Missionários da Última Hora. Gideões Missionários da Última Hora sustentam hoje, fora do Brasil, mais 1200 famílias de missionários. Como a Igreja Católica fazia no princípio mandando os jesuítas, essa comunidade evangélica envia missionários para países onde o evangelho não cresceu tanto. Então, essa entidade sustenta os missionários. Esses missionários têm filhos, eles precisam comer, beber, morar, cuidar de saúde. Essa entidade também cuida de 30 mil crianças no Norte e Nordeste do Brasil, onde dão estudo, onde dão comida a essas crianças.

Folha/UOL: Mas o caso específico do cartão...

Marco Feliciano: Então, foi nesse evento. Aquela oferta estava sendo levantada para isso. E como eram muita gentes, nós tínhamos ali cerca de 30 mil, 40 mil pessoas, eu recebi o cartão e chamei a pessoa pelo nome que a pessoa deu o cartão. Por três vezes eu a chamei para devolver o cartão. Como a pessoa não vinha, eu brinquei. A gente faz isso. Eu tenho uma veia humorística também. Nós não somos só centrados e fechados. Nós temos humor. E eu brinquei. Falei assim, ó: "Não adianta dar o cartão sem a senha porque, aí, não funciona". Foi apenas isso que eu disse. Foi uma brincadeira, um momento de descontração. Eu tenho o vídeo do garoto do cartão, que veio, me procurou porque ele se viu na internet, na televisão, e me deu um depoimento. Se você quiser, depois eu posso mandar. Dizendo o que aconteceu na vida dele depois daquilo.

Então, isso foi uma mera especulação. Foi de uma baixeza sem tamanho as pessoas tentarem expor alguém ao ridículo por causa disso.

Folha/UOL: O que é o seu relacionamento com líderes evangélicos de outras religiões? Por exemplo, vou citar alguns muito conhecidos: Edir Macedo, da Igreja Universal, Silas Malafaia, que é da Assembleia de Deus também, Valdomiro Santiago, da Igreja Mundial do Poder de Deus. O sr. se relaciona com eles? Os conhece? E o que acha deles?

Marco Feliciano: Veja só. Eu os conheço pela internet. Conheci o apóstolo Valdomiro quando ele esteve aqui, em Brasília, no plenário. Conversamos alguns minutos e, para a minha alegria, ele disse que os obreiros dele, os pastores, assistem os meus DVDs. O pastor Silas Malafaia é um grande líder assembleiano. Também é um pastor muito polêmico. Nós já estivemos pregando em alguns eventos juntos. Tivemos algumas divergências teológicas, mas é um homem que me respeita e eu respeito muito. Bispo Macedo é um grande líder. É um líder de um movimento neopentecostal. Também temos divergências teológicas, mas, em Cristo, mais são as coisas que nos untem do que nos separam. Mas eu não tenho convivência com eles.

Folha/UOL: O sr. falou que o Edir Macedo é líder de um movimento neopentecostal. No caso da sua igreja, especificamente, e do seu ministério, o sr. se classificaria como neopentecostal?

Marco Feliciano: Não, não. Nós somos pentecostais.

Folha/UOL: Tá certo. Igreja Católica. O sr. tem algum relacionamento com algum líder da Igreja Católica? E o que acha da ação da Igreja Católica?

Marco Feliciano: Veja só. Eu tenho, nesses últimos anos como deputado, ou nesses últimos dois anos, eu conheci algumas pessoas do movimento da Igreja Católica. Inclusive, na última audiência pública, tinha um padre, um polonês que é daqui de Brasília, tem um paróquia muito bonita aqui. Ele é um ferrenho lutador contra o aborto. E, como eu me tornei alguém que defende a vida, que é contra o aborto, fizemos um pacto, uma aliança. Tenho alguns contatos com algumas pessoas da CNBB, mas com os grandes líderes do movimento católico não tive contato até porque quase não tenho tempo. Acredito que, nesse momento, todos eles me conhecem até porque o que eu sofro hoje de perseguição dado ao movimento LGBT, a Igreja Católica sofre isso no mundo todo. Inclusive, o novo papa, o papa Francisco, na Argentina quase foi linchado por esse grupo. Então, nós temos algumas coisas que, acredito, nos fazem pensar igual.

Folha/UOL: O novo papa da Igreja Católica, o papa Francisco, agradou ao sr.?

Marco Feliciano: Veja só. Ele não é o meu líder. É um líder de uma grande igreja. O pensamento dele comunga com o meu. Então, nesse quesito, eu fiquei feliz por termos ali um papa que ainda é bem ortodoxo, é bem conservador e que prima por aquilo eu acredito também, que a família é a base da sociedade. Aliás, a família é antes da sociedade. A família é antes do estado. Então, nós não podemos destruir a família. Se você destruir a família, você destrói a sociedade, destrói o estado. Isso já aconteceu em outras civilizações. Então, existe uma proteção. É preciso ter o contraponto e o contraditório.

Folha/UOL: O sr. acha que existem religiões mais certas do que as outras? E religiões até erradas, que pregam coisas erradas?

Marco Feliciano: Olha. Eu sou um teólogo. Eu estudei em muitas igrejas, muitas religiões. Eu evito falar das outras. Eu tento fazer alguma coisa boa com a minha. A minha religião, o cristianismo, tem várias vertentes, É como uma grande árvore. Jesus é o tronco, a raiz, né? E os galhos são as ramificações. Na fritada dos ovos, todos falam da mesma coisa. Queremos o céu, queremos o bem estar da pessoa aqui. Acreditamos que existe o certo e o errado. E lutamos pela condescendência dos bons pensamentos, dos bons costumes.

Folha/UOL: Islamismo.

Marco Feliciano: Islamismo é uma religião muito forte. E é uma religião, nesse momento eu até pensei, que nós do ocidente precisamos pensar um pouquinho mais acerca deles. Você nunca vai ver ninguém fazer com alguém do Islã o que estão fazendo comigo. E olha que o Islã tem uma condenação sobre o ato, por exemplo, da homossexualidade ferrenha. Eles tratam a ferro e fogo. Inclusive, punem com a morte.

Folha/UOL: É correto?

Marco Feliciano: Não. Jamais. A vida é um dom. Só quem deu foi Deus e quem pode tirar é Deus.

Folha/UOL: O Islã, nesse caso, erra, na sua opinião?

Marco Feliciano: Erra. Erra porque ferem o ser humano. Mas, voltando, naquele pensamento, você nunca vai ver alguém se levantar contra o Islã. O movimento LGBT jamais vai bater de frente com o Islã porque sabem que o Islã, embora sejam crentes na sua fé, eles defendem com a mesma arma aqueles que o condenam. Se for preciso, eles vão para as vias de fato. Coisa que um cristão jamais vai fazer. Nós, crentes... As pessoas perguntaram: "Você está sozinho nessa luta?" Não, não estou. Eu tenho, pelo menos, 50 milhões de evangélicos orando por mim. A arma do crente é essa, ele ora. Ele fala com Deus e não parte para a briga, nem para o grito, nem para a histeria.
Folha/UOL: Judaísmo.

Marco Feliciano: A religião tem os seus fundamentos no judaísmo. O princípio da religião cristã, inclusive antes de Paulo aparecer no cenário contemporâneo da Igreja, o cristianismo fundado e liderado por Pedro era um cristianismo judaico, um judaísmo cristão. Foi Paulo que veio com essa vertente e desvinculou, de fato, o cristianismo do judaísmo. Mas o judaísmo e o cristianismo têm a mesma base, o mesmo profeta principal, que é Abraão, né? Então, nós temos muita similaridade, respeito ao judaísmo.

Folha/UOL: Tem algum aspecto do judaísmo, como o sr. mencionou no caso do Islã, que o sr. acredita que não seja o mais correto?

Marco Feliciano: Não. No judaísmo eu vejo muita similaridade com o cristianismo e respeito muito.

Folha/UOL: Um pouco de política. O sr. mencionou recentemente, em uma de suas várias entrevistas, que descobriu nesse episódio como integrantes do PT "traem com facilidade", a sua frase reproduzida. E mencionando, aí, que, inclusive, foi uma das poucas vozes que apoiou a candidatura da então pretendente ao Palácio do Planalto, Dilma Rousseff, em 2010. E que, talvez, em 2014, a situação vai ser outra. O que o sr. quis dizer com PT trair com facilidade e sobre 2014?

Marco Feliciano: Veja só. Talvez na troca de interesse do jogo político, os meios acabam justificando os fins. Eu fui procurado no segundo turno da presidente Dilma porque tive uma expressiva votação no estado onde ela não era maioria até então.

Folha/UOL: Em 2010?

Marco Feliciano: Em 2010. Naquele momento em que pesava era a situação do aborto. E os dois candidatos, tanto Dilma, quanto José Serra, ambos tinham pensamentos polêmicos acerca do aborto. Então, nós ficamos entre a cruz e o punhal. Ao sentar com a liderança que me procurou do PT, eles disseram que Dilma assinaria um documento...

Folha/UOL: Quem foi?

Marco Feliciano: Quem me procurou na época foi um pessoal de São Paulo mesmo, um grupo de deputados. Eu gostaria de não citar os nomes, se me permitir. Me procuraram e me disseram que a presidente estava disposta a sentar com o movimento evangélico e assinar um documento. Uma carta dizendo que, durante o seu governo, essa questão do aborto não passaria. E foi ela que assinou o documento. Então, por aquele momento ter os dois que pensavam sobre o aborto e ela assinando o documento dizendo que durante o seu governo o aborto não seria tratado, fiquei com ela. Criei, na época, uma central de inteligência via internet. Disparei quase 10 milhões de e-mails para todo o Brasil. Vesti a camisa, coloquei "Sou Dilma", né? E, de repente, dois anos e meio depois, temos aí essa problemática criada num jogo político. Porque o meu partido não escolheu a Comissão de Direitos Humanos. Eu não escolhi ser o presidente da Comissão de Direitos Humanos. A Comissão de Direitos Humanos foi abandonada pelo grupo que cuidou dela a vida toda, que era o PT. Mas, quando eles viram que perderam a comissão para um partido de posicionamento pela família, que é o PSC, que é, talvez, hoje um dos únicos partidos que tenha bandeira... Queria até deixar isso bem claro. O PSC hoje é um partido que tem ideologia. Que luta por uma coisa que acredita. Isso tem que ser respeitado nesse país. E, quando isso aconteceu, simplesmente, o PT pegou um grupo dos seus deputados e veio contra mim. E vieram contra mim de maneira violenta. Usando a tribuna da casa, me acusando de algo que eu não sou. Alguns, agora, já não estão nem mais acusando, estão afirmando. E isso é crime. Me chamar de racista, de homofóbico, isso é crime. Então, eu venho suportando isso já há quase 30 dias. Não sou homem de briga nesse quesito. Não fui para a tribuna desabafar. Não fui para a imprensa jogar o nome de pessoas porque, nesse meio político, eu tenho descoberto que muita gente tem o telhado de vidro e esquecem o seu telhado para jogar pedra no telhado dos outros. Eu não fui condenado em nenhuma instância. Eu não fui julgado por nenhum tribunal. Eu estou sendo acusado por ter a minha livre liberdade de expressão, de opinião, de pensamento tolhido nesse momento porque, sendo brasileiro, não posso me expressar. Eu fui traído nesse quesito. Me deixaram sozinho. Eu tentei entrar em contato com algumas pessoas do governo que até uma semana antes me atendiam, como alguns ministros.

Folha/UOL: O sr. poderia citar alguns?

Marco Feliciano: Ministra Gleisi Hoffmann [da Casa Civil], com quem eu tenho muita amizade. Logo que aconteceu isso, minhas audiências foram desmarcadas. Enviei um e-mail à ministra. A ministra me respondeu o e-mail dizendo que... Eu pedi a ela para que falasse com o seu partido para que cuidasse desses deputados, que eles estavam criando uma celeuma. Eu antevi o que ia acontecer.

Folha/UOL: Como é que ela respondeu, deputado?

Marco Feliciano: Ela respondeu bem educadamente dizendo que esse era um problema do Congresso Nacional e que o Executivo não poderia se meter nesse momento. E, aí...

Folha/UOL: Acha que ela foi tímida na resposta?

Marco Feliciano: Não. Eu acho que ela pensou exatamente como pensam as pessoas inteligentes: No ano que vem. Uma briga comigo significa uma briga com o movimento evangélico porque eu fui o evangélico mais votado do país inteiro.

Folha/UOL: Mas ela não deu apoio ao sr., o sr. está dizendo.

Marco Feliciano: Não entendi.

Folha/UOL: Ela não o apoiou agora.

Marco Feliciano: Sim. Ela não apoiou, mas, também, não desapoiou. Ela disse que era um problema do Congresso Nacional. Ou seja, o Executivo, a parte dela, não poderia fazer nada, né? Sei que poderia. Então, nesses quesitos todos, eu me senti traído, sim.

Folha/UOL: Então, deixe eu entender. O sr. ficou satisfeito ou insatisfeito com a reação da ministra?

Marco Feliciano: Insatisfeito porque eu esperava um pouquinho mais de condescendência. Eu esperava que, pelo...

Folha/UOL: Apoio explícito, o sr. quer dizer?

Marco Feliciano: Exato. Não apoio explícito, mas pelo menos que se marcasse uma reunião, por exemplo, com o ministro Gilberto Carvalho [da Secretaria Geral da Presidência da República]. Ou então, com a própria presidente. E pedisse para que esses deputados que brigavam agora, nesse momento, criando uma celeuma na articulação política... Porque o problema ali é político. Eu fui eleito pelo voto popular. Eu fui eleito pelo voto do colegiado. Não cometi crime nenhum e estou sendo linchado publicamente e instigado por militantes do PT.

Folha/UOL: A essa altura, o sr. diria que as chances de evangélicos como o sr., que exerce uma liderança sobre um grupo, estão mais propensos ou menos propensos a apoiar a reeleição da presidente Dilma?

Marco Feliciano: Olha, eu ainda não cheguei a essa conclusão. Todavia, eu tenho viajado o país inteiro. Ontem, por exemplo, eu estava em Rondônia, falei para um público de 15 mil pessoas, e os pastores se organizaram e pediram uma palestra no domingo pela manhã, e eu reuni 300 lideranças no estado de Rondônia. Rondônia é um estado que tem, hoje, quase 40% da sua população evangélica. E não estavam ali só membros da Assembleia de Deus. Estavam ali membros de todas as denominações daquele estado. E quando eu dei o depoimento e mostrei o que eu estou passando e o que está acontecendo, os pastores se levantaram com o manifesto, vão começar a chegar cartas aqui, no Congresso Nacional. A igreja em Rondônia vai se mobilizar e começar a colocar o povo na rua, porque se é isso que os militantes do outro grupo fazem, colocam 20, 50, 200 pessoas na rua e a imprensa toda tira foto e coloca a deles na primeira página, se é público que eles querem ver, nós temos 50 milhões no país. Eu pedi, na época, à ministra Gleisi para interceder para que isso não acontecesse. Para que não houvesse uma guerra.

Folha/UOL: Quando o sr. espera manifestações assim, de massa, ao seu favor?

Marco Feliciano: Quando?

Folha/UOL: É. Elas estão sendo, de fato, organizadas já?

Marco Feliciano: Muitas pessoas já estão se mobilizando. Muitos líderes já estão se levantando.

Folha/UOL: Tem alguma data marcada?

Marco Feliciano: Não. Ainda não. Deve ser por esses próximos dias. Nós temos aí grandes lideranças, como o pastor...

Folha/UOL: Virão à Brasília? Como vai ser?

Marco Feliciano: Vai começar por isso. Eu vou deixar aqui um ponto de interrogação para que as pessoas esperem. Daqui duas semanas, por exemplo, aqui em Brasília, nós vamos ter a Convenção Geral das Assembleias de Deus. 24 mil pastores da Assembleia já estão inscritos. Aqui em Brasília.

Folha/UOL: O sr. espera o apoio deles?

Marco Feliciano: Não. Eles já estão me apoiando. Só que a nossa maneira, o nosso manifesto é diferente. Nós não nos manifestamos com grito, com pulo, com xingamento, com a opressão. Nós nos manifestamos de maneira pacífica e bem equilibrada.

Folha/UOL: O sr. diria que, dos pré-candidatos já apresentados à presidente, a presidente Dilma Rousseff, candidata a reeleição, há outros três, pelo menos, sempre citados: Aécio Neves, do PSDB, Eduardo Campos, do PSB, e Marina Silva, ainda de um partido em formação, a Rede. Desses quatro, qual teria, ao seu juízo, mais condições de, talvez, atrair o seu apoio?

Marco Feliciano: Veja só. Como eu te disse, eu ainda estou pensando em tudo isso. No meio desse fogo cruzado, eu ainda não tive tempo, ainda, para analisar o perfil de dois, pelo menos, desses candidatos, que eu não conheço muito bem. Mas o perfil da Marina Silva eu conheço. Marina é evangélica. E a presidente Dilma, pelo menos até nesse momento, mesmo não tendo se pronunciado publicamente, tem atendido as demandas dos evangélicos, como na questão do "kit-gay". Agora mesmo, o ministro Padilha [Alexandre Padilha, ministro da Saúde] mandou arrancar uma cartilha que havia sido, segundo ele, liberada para a população. E era uma cartilha que feria os princípios e um acordo que tínhamos antes entre a bancada evangélica. Então, existem algumas ramificações do PT que têm trabalhado e cumprido aquilo que prometeram. Então, nesse momento, como eu disse, 2014 será um momento de decisão. Eu ainda não sei o que vou fazer.

Folha/UOL: O sr. está menos certo do que estava a respeito de apoiar [o governo atual]?

Marco Feliciano: Com certeza. Com certeza. Depois desse momento que eu tenho passado, eu estou revendo e conversando com a minha equipe. Eu tenho conselheiros e tenho sentado com pastores de renome no país, como o pastor Silas Malafaia, como o Bispo Manoel Ferreira e outros grandes líderes e nós estamos repensando muito bem no que fazer no próximo ano.

Folha/UOL: E este "o que fazer" inclui apoiar ou não apoiar a reeleição de Dilma.

Marco Feliciano: Exatamente.

Folha/UOL: Essa é uma hipótese que, até recentemente, não era uma questão?

Marco Feliciano: Não, porque vinham sendo cumprido os acordos, não é? E a presidente Dilma tem feito um bom trabalho. Nós não podemos negar isso. Ela tem feito um bom trabalho com a população. Principalmente, a população mais pobre e essa é uma vertente do cristianismo.

Folha/UOL: Que dia que vai ser o encontro das Assembleias de Deus aqui em Brasília?

Marco Feliciano: A convenção vai ser a partir do dia 8 de abril, se não me falha a memória.

Folha/UOL: Já agora.

Marco Feliciano: Agora, já. E vão vir para cá 24 mil pastores.

Folha/UOL: E o sr. acredita que esse tema de apoio no ano que vem talvez possa ser mencionado nessa reunião?

Marco Feliciano: Eu acredito que sim.

Folha/UOL: Possa emergir ali?

Marco Feliciano: Eu acredito que sim.

Folha/UOL: Entendi. Tem convidado algum dos pré-candidatos para esse evento?

Marco Feliciano: Não, porque é um evento nosso. Nós também temos uma presidência. Então, nós vamos votar a presidência geral das Assembleias de Deus.

Folha/UOL: Eu queria fazer algumas perguntas rápidas agora para o sr. sobre os temas polêmicos no que diz respeito a suas convicções sobre comportamento e costumes.

Marco Feliciano: Pois não.

Folha/UOL: Mulheres. O sr. já criticou o direito das mulheres trabalharem, o direito de elas não desejarem ter filhos. Na sua concepção, todas as mulheres devem casar e ter filhos?

Marco Feliciano: Bom, primeiramente, foi muito bom tocar nesse assunto. Você foi o primeiro jornalista que me pergunta isso. Eu nunca dei essas declarações. Isso foi divulgado num jornal, lá no estado do Rio de Janeiro, foi publicado, inclusive, quase que anonimamente. Não tinha nenhum repórter que assinasse o artigo. A minha equipe procurou e, quando encontrou, a pessoa gaguejou porque ela não tinha nada escrito, não tinha nada gravado. Ou seja, esse texto foi um texto apócrifo e a militância usou isso para, mais uma vez, me rotular. Além de racista, homofóbico, agora, machista. Então, isso não existe.

Folha/UOL: Então, esclareça.

Marco Feliciano: Na minha concepção, eu tenho a concepção família. Mulher é, para mim, a criatura mais linda que Deus criou nesse nosso mundo. Veio para ornamentar o mundo e ornamentar a vida do homem. E, ambos, parceiros. A Bíblia diz que Deus fez a mulher da costela...

Folha/UOL: Mas essa sua frase "a mulher veio para ornamentar a vida do homem" não contém uma carga machista?

Marco Feliciano: Não, eu vou explicar por que. Porque pela Bíblia, Deus criou primeiro a vida do homem. O homem, o sexo masculino, foi o primeiro a ser criado.

Folha/UOL: O sr. é criacionista?

Marco Feliciano: Sou criacionista. E viu Deus que o homem estava só. E aí, diz a Bíblia: "E Deus, então, fez para o homem a mulher". Só que quando Deus fez a mulher para homem, Deus fez a mulher da costela. Ou seja, para andar ao lado do homem. Para estarem juntos, para ambos buscarem os seus direitos e ambos acreditarem e construírem uma vida.

Folha/UOL: As mulheres devem casar, todas elas, e terem filhos?

Marco Feliciano: Olha, eu não posso falar por todas. Mas é a experiência do segmento da existência e da vida. Mulher é o único ser do mundo que pode gerar filhos. Pelo menos entre nós, seres racionais. O homem não gera filhos. Quem gera filhos é mulher. Se a mulher não gerar filhos, acaba a humanidade.

Folha/UOL: As mulheres podem ou devem trabalhar, ainda que sejam casadas e tenham filhos?

Marco Feliciano: Mas é claro que sim. A Bíblia Sagrada fala que, quando Jesus ressuscitou do túmulo, foram as mulheres que foram ali prestar um serviço de cuidar. As mulheres foram que propagaram o evangelho. Então, a minha fé não é uma fé machista. Mulher tem que ter os seus direitos. Inclusive, na minha igreja, nós temos pastoras. E há um segmento evangélico que não aceita pastoras. Então, nós temos isso.

Folha/UOL: Qual é a sua opinião sobre legalizar a atividade de profissionais do sexo no Brasil, como, por exemplo, prostitutas?

Marco Feliciano: Sou contrário a isso.

Folha/UOL: Por quê?

Marco Feliciano: Porque seria muito inviável ao Estado, inviável às famílias... Eu, principalmente, penso eu como pai. A minha filha chegar em mim e falar assim: "Papai, escolhi a minha profissão. Eu quero ser prostituta".

Folha/UOL: Mas não há um livre arbítrio das pessoas decidirem o que vão fazer?

Marco Feliciano: Livre arbítrio, sim, mas tem tantas outras coisas que podem ser feitas que não a venda do seu corpo, que isso é imoralidade. A sociedade conservadora ainda enxerga isso como algo imoral.

Folha/UOL: Mas essa profissão existe de fato, deputado. O que fazer com ela? Ela não vai acabar.

Marco Feliciano: Não é uma profissão aceita. Ela é ilegal. Mas legalizá-la, dar a benção do Estado sobre isso, seria chamar o nosso Estado de anarquia. E eu não aceito isso. Esse é o meu pensamento, é a minha expressão. Imagine você legalizar uma casa de prostituição. Hoje nós já temos um problema grave.

Folha/UOL: Elas já existem, deputado.

Marco Feliciano: Sim, mas quantas pessoas hoje já sofrem com o tráfico de mulheres? Com o tráfico de sexo que envolve crianças de 12, 13 anos que são envolvidas nisso? Se legalizar isso, o que vai ter é uma máfia por trás disso para poderem pegar essas meninas de 12, 13 anos, criar um documento dando a elas a emancipação e coloca-las nessa vida de criminalidade. Isso abrir-se-á um precedente que vai ser difícil voltar atrás. Eu sou contra isso.

Folha/UOL: Recentemente, organização dos médicos soltou um documento dizendo-se favorável a dar a mulher o direito de decidir sobre manter ou não uma gravidez até 12ª semana de gestação. Permitir livremente o aborto. Isso é uma opinião de médicos no Brasil. O sr. acha que os médicos, nesse caso, acertam ou erram?

Marco Feliciano: Houve um tempo que alguns médicos... Alguns, digo isso, porque tem muitos médicos que são contrários a isso. Alguns médicos pensavam que eram Deus. Nesse momento, alguns médicos declaram ser Deus. 12ª semana, estamos falando de um bebê com três meses de idade. Um bebê que já tem sentimentos, que recebe da mãe a vida. E já sente dor. Abortar uma criança de três meses, isso é crime, isso é assassinato. Isso é assassinato. A questão de aborto não é uma questão...

Folha/UOL: Mesmo quando a mulher foi, digamos, violentada?

Marco Feliciano: Eu sinto muito por ela ter sido violentada, estuprada. Vivemos num mundo cão, vivemos num perverso. A sociedade tem a sua parcela de culpa nisso. Esses tarados inveterados se alimentam de visões, se alimentam de histórias liberadas. A pornografia está explícita em todos os lugares. As músicas acabam levando as pessoas à extrema sensualidade. E algumas pessoas têm a sua deficiência hormonal nisso e acabam ficando loucos. Eu sinto muito pela menina que foi violentada, pela mulher. Mas o que foi gerado dentro dela não tem culpa disso. É uma vida. É uma criança. Se ela não quer cuidar da criança, existe uma fila imensa de pessoas que querem adotar essas crianças. Dê a luz e dê essa criança para que alguém possa cuidar dela, mas não assassine. Não aborte.

Eu sou filho de uma mulher que, por causa dada à pobreza... A minha mãe... Houve um tempo na vida dela em que ela tinha uma pequena clínica de aborto. Uma clínica clandestina. Eu cresci no meio disso. Eu vi mulheres perderem o seu bebê assim e fiquei traumatizado por isso. Eu vi fetos serem arrancados de dentro de mulheres. Isso é uma tortura. Não se faz isso. Não se faz isso. A vida é um dom de Deus. Só Deus dá e só Deus tira.

Folha/UOL: Racismo. Uma das principais acusações contra o sr. é de que o sr. seria racista por conta, sobretudo, de uma frase que o sr. escreveu no microblog Twitter que eu repito aqui, entre aspas: "Africanos descendem de ancestral amaldiçoado por Noé. Ponto. Isso é fato". Fecham aspas. Como o sr. explicaria essa frase?

Marco Feliciano: Eu expliquei que o fato é que os africanos descendem de um filho de Noé que havia recebido uma maldição patriarcal. Esse é o fato. Não tem como fugir disso. Você me permite ler? Eu trouxe até aqui, eu sabia que você ia me perguntar isso. O grande Castro Alves, um dos maiores poetas abolicionistas do Brasil, levantou uma problemática em seu poema. Olha só o que ele diz em seu poema "Vozes d'África". [lê em sem smartphone] "Foi depois do dilúvio... um viadante, / Negro, sóbrio, pálido, arquejante, / Descia do Arará... / E eu disse ao peregrino fulminado: / 'Cam!'", que é o filho de Noé, "'... serás meu esposo bem-amado... / - Serei tua Eloá...' / Desde este dia o vento da desgraça / Por meus cabelos ululando passa / O anátema cruel. / As tribos erram do areal nas vagas, / E o nômade faminto corta as plagas / No rápido corcel. / Vi a ciência desertar do Egito... / Vi meu povo seguir - Judeu maldito - / Trilho de perdição. / Depois vi minha prole desgraçada / Pelas garras d'Europa - arrebatada - / Amestrado falcão!..." Um abolicionista cita o que eu citei. Um filho de Noé que desce aqui do dilúvio e que tem a cor da sua pela negra e que corre sobre ele algumas desgraças em forma de maldição. E, nem por isso, ele é racista.

Folha/UOL: Mas veja só: as circunstâncias e as conjunturas vão mudando conforme a sociedade vai evoluindo. Recentemente houve, inclusive, uma polêmica sobre livros de Monteiro Lobato, o sr. deve ter acompanhado, se eram ou não eram racistas, histórias do Sítio do Picapau Amarelo...

Marco Feliciano: Que, cá para nós, isso é uma coisa horrível.

Folha/UOL:...conforme vão evoluindo os povos e as sociedades, os conceitos também, as interpretações mudam. Nesse caso específico, ao citar essa frase que aos olhos de outros pode ter conteúdo racista, o sr. deveria ter um cuidado talvez maior ao citá-la, para não permitir que ela ficasse fora do contexto?

Marco Feliciano: Eu jamais pensei que isso aconteceria, até porque eu estava falando no Twitter. E um homem que fala 140 caracteres não pode ser medido só por isso. Para ser racista, você tem que ter um histórico...

Folha/UOL: Se fosse hoje, como o sr. escreveria?

Marco Feliciano: Escreveria da mesma forma, só que imploraria para as pessoas [que] "a frase não termina aqui". Cortaria umas três ou quatro palavrinhas, assim "continua". E continuaria escrevendo embaixo. Porque da outra vez, eu estava citando pensamentos filosóficos, citei várias vertentes, incluindo essa. E terminei dizendo que toda maldição foi quebrada na cruz de Cristo. Ou seja, não há mais maldição nenhuma. Eu apenas citei que toda maldição podia ser quebrada na cruz de Cristo. Mas a maldade está nos olhos de quem lê, Fernando. As pessoas viram maldade nisso, eu sei quem foi. Foi um grupo de pessoas que ficam na internet, são pagos para isso, um grupo de militantes...

Folha/UOL: Quem são eles?

Marco Feliciano: O movimento GLBT, isso não tem dúvida nenhuma. Já procurei. Nós temos os IPs deles, nós temos tudo isso catalogado. Eles pegam tudo o que eu falo, eles pinçam e jogam de maneira a me denegrir.

Folha/UOL: Essas pessoas, o sr. pretende buscar alguma reparação na Justiça?

Marco Feliciano: Olha, eu poderia fazer, poderia fazer. Mas não sei se vale a pena. Porque eles acabaram empesteando o país inteiro com esse pensamento. Acabaram sendo maldosos.

Folha/UOL: Quem acabou empesteando?

Marco Feliciano: O grupo, esse movimento GLBT. Procure nas ruas, as fotos das pessoas que são contra o "racista" aqui, entre aspas. Veja se você encontra. São só movimento GLBT. Eu li agora, nessa semana, se você me permite citar aqui, isso me trouxe conforto. Porque eu descobri que eu não sou o único que sou perseguido. O Prêmio Nobel da Paz, você deve conhecer muito ele, o Lech Walesa... Lech Walesa nessa semana escreveu assim na imprensa mundial: "homossexuais perseguem e castigam os héteros". Ele foi impedido de dar uma palestra nos Estados Unidos porque ele teve o pensamento contrário ao movimento. Pergunte à sua colega de profissão, a Raquel, aquela menina do SBT, Rachel Sheherazade... O que aconteceu com ela quando ela se posicionou sobre a democracia! Ela não falou sobre o pastor. Ela falou sobre a democracia e estão caçando ela. Pergunte à Rede TV! o que aconteceu com eles há dois anos atrás, quando num programa de brincadeira falaram alguma coisa sobre homossexuais, o movimento LGBT entrou no Ministério Público e o Ministério Público tirou por 24 horas essa emissora do ar. Nem na Venezuela de Hugo Chávez tiraram uma emissora do ar por isso. Pergunte, só para concluir, ao reitor da Universidade Mackenzie, uma das maiores universidades do nosso país, o que aconteceu com eles há dois anos atrás quando ele se posicionou contra o casamento homossexual. Depredaram a universidade.

Então existe uma ditadura chamada, que eu coloco o nome dela aqui, já citado, Olavo de Carvalho fala muito sobre isso, "gayzista". Eles querem impor o seu estilo de vida e a sua condição sobre mim. E eles lutam contra a minha liberdade de pensamento e de expressão. Eles lutam pela liberdade sexual deles. Só que antes da liberdade sexual deles, que é secundária, tem que ser permitida a minha liberdade intelectual. A minha liberdade de expressão. Eu posso pensar. Se tirarem o meu poder de pensar, eu não vivo. Eu vegeto e morro.


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