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Com a classe política devassada, situação de Roraima lembra a do RJ

Gabriel Cabral/Folhapress
Em-mulher de Romero Jucá e prefeita de Boa Vista, Teresa Surita (MDB) é cotada para disputar governo
Em-mulher de Romero Jucá e prefeita de Boa Vista, Teresa Surita (MDB) é cotada para disputar governo

Como um "Rio de Janeiro da Amazônia", Roraima irá às urnas em outubro em meio a uma turbulenta investida jurídico-policial que cercou os principais atores políticos do Estado.

O ex-governador e "primeiro-damo" Neudo Campos (PP) está preso em casa, o presidente da Assembleia, Jalser Renier (Solidariedade), livrou-se do regime semiaberto há poucos meses e o principal cacique político do Estado, o senador Romero Jucá (MDB), tem ao menos três denúncias oferecidas no STF (Supremo tribunal Federal).

No entanto, em um Estado de baixa densidade demográfica e dependente da máquina pública, a expectativa é que as consequências eleitorais sejam minimizadas.

"Na ausência de uma renovação do perfil de candidatos em Roraima, o contexto atual de investigações e condenações judiciais, embora prejudique a imagem de nomes tradicionais, acaba não sendo um fator decisivo", afirmou o cientista político Eloi Senhoras, professor na Universidade Federal de Roraima.

Por ora, três nomes estão cotados para disputar o governo. A atual governadora, Suely Campos (PP), deve se lançar à reeleição, apesar da alta rejeição decorrente, entre outros fatores, da crise fiscal do Estado.

Com o marido Neudo cumprindo pena em regime domiciliar, resta a ela lutar pela sobrevivência política da família. Em 2014, ele deixou a disputa na reta final ao ser condenado e indicou Suely em seu lugar, que venceu.

Os outros dois nomes cotados, até agora em polos distintos, são o ex-governador José de Anchieta (PSDB) e a prefeita de Boa Vista, Teresa Surita (MDB).

Ex-mulher de Jucá, Surita tem demonstrado hesitação em concorrer, alegando que a situação econômica e política do Estado é complicada. Mas, com sua boa aprovação na capital, que responde por 70% do eleitorado do Estado, Jucá insiste em lançá-la.

Outra opção do senador, o filho Rodrigo Jucá, ex-deputado estadual, que disputou como vice-governador em 2014, mas perdeu, agora é alvo da Polícia Federal e Ministério Público Federal.

Rodrigo, uma irmã e duas filhas de Surita são investigados por organização criminosa acusada de peculato, lavagem de dinheiro e desvio de verbas públicas. Eles negam.

Palanque para Geraldo Alckmin (PSDB) na disputa presidencial, Anchieta pontua bem em pesquisas e faria dobradinha com a ex-mulher Shéridan Oliveira (PSDB), que tentará a reeleição na Câmara dos Deputados.

"Estou ansiosa para ver como vai ser a eleição aqui. Se dá errado para o Estado, dá para mim também. Não é como o cara de Pernambuco [Jucá] e a mulher de São Paulo [Surita] que estão aqui fazendo política. Não. Eu sou daqui", disse Shéridan.

"Para Romero vai ser difícil pelo momento que ele vive, ele e os outros políticos que protagonizaram as cenas a que o Brasil tem assistido."

Um dos principais alvos da Lava Jato, Jucá foi gravado há dois anos dizendo que "tem que mudar o governo para poder estancar essa sangria", em um acordo "com Supremo, com tudo".

Mas contra a deputada Shéridan e o ex-governador Anchieta também pesam problemas como denúncia por suposta compra de votos em 2010 e um processo de improbidade administrativa e bloqueio de R$ 40 mil por uso de avião do governo para viagem do funkeiro MC Sapão. Eles refutam as acusações.

TORCIDA CONTRA

Peça importante no xadrez regional, o presidente da Assembleia ganhou força depois de decisão favorável do STF. Condenado a seis anos e oito meses de reclusão, Jalser Renier cumpriu menos de um ano em regime semiaberto até agosto de 2017, quando teve a condenação suspensa pelo Supremo.

Ele e Neudo Campos foram denunciados no "escândalo dos gafanhotos", de desvio de recursos federais e funcionários fantasmas, em 2002.

Agora, políticos locais viram na renúncia do vice-governador Paulo Cesar Quartiero (sem partido), nesta sexta-feira (26), uma jogada em sintonia com Jalser Renier.

Em discurso na Assembleia, o ex-vice-governador defendeu que a Casa vote o impeachment de Suely Campos. Se consumado, Renier assume o governo e pode pleitear a reeleição do cargo.

Quartiero, por seu turno, anunciou-se candidato ao Senado "a pedido" do presidenciável Jair Bolsonaro, defendendo o garimpo de ouro, diamante e nióbio da Amazônia e criticando a gestão Suely.

"Torci, torci para [o governo] dar errado", admitiu para então adotar cautela.

"Queira Deus que eu esteja errado e o governo esteja certo, porque quando o governo fracassa é muito triste. Quem paga o pato é o povo", afirmou.


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