Folha de S. Paulo


Defesa de Eduardo Cunha me tirou do anonimato, diz Carlos Marun

Mateus Bonomi/Folhapress
Carlos Marun em entrevista à Folha em seu gabinete, no Palácio do Planalto
Carlos Marun em entrevista à Folha em seu gabinete, no Palácio do Planalto

Recém-nomeado ministro do governo Michel Temer com a missão de aprovar a reforma da Previdência, Carlos Marun (Secretaria de Governo) é conhecido pelos colegas como defensor das causas impossíveis.

Deputado de primeiro mandato, diz que só chegou onde está graças às polêmicas em que se envolveu. Principalmente a primeira: a defesa do então presidente da Câmara, Eduardo Cunha, hoje preso pela Operação Lava Jato.

"Aquele foi um momento que me tirou do anonimato dentro da Câmara", disse o ministro, que, em entrevista à Folha, afirmou não se arrepender do que fez.

Integrante da tropa de choque de Temer, declarou que o fato de o presidente estar aberto a receber todos -inclusive o empresário Joesley Batista, da JBS- é uma "falha comportamental", mas o "eventual equívoco", diz ele, não justificaria sua a saída do cargo.

Crítico de Rodrigo Janot, a quem acusa de tentar derrubar o presidente, Marun afirma que, se encontrasse o ex-procurador-geral da República hoje diria apenas: "Tenta outra que essa não deu."

*

Folha - Por que o sr. acha que foi escolhido ministro?
Carlos Marun - Por minha maneira de ser, que é determinada, até criticada por alguns, mas é uma maneira franca. Não sou dado a chicanas, a traições. Isso fez com que eu obtivesse apoio da base do governo e tenho respeito da oposição. Acho que é a determinação que fez o presidente optar por mim.

O sr. é deputado há apenas três anos. Como conseguiu uma projeção tão grande?
Sou um apaixonado pela legalidade. Isso fez com que em vários momentos eu me posicionasse em questões polêmicas. A própria defesa do Eduardo Cunha. Muita gente tinha vontade de fazer aquilo e não teve a determinação suficiente. Eu fiz. Aquele foi um momento que me tirou do anonimato dentro da Câmara. Eu tenho lado. Não sou uma pessoa imprevisível.

Quanto o sr. acha que pesou sua performance na defesa de Eduardo Cunha?
Me tirou do anonimato da Câmara. Demonstrou que sou uma pessoa de coragem e de capacidade de argumentação. A defesa que fiz naquele processo foi consistente. Ali provei capacidade de eloquência para me manifestar na tribuna, razoabilidade dos argumentos, coragem, companheirismo, quando não quis virar a casaca, como muitos fizeram. Mas não é em função daquilo que eu tenha vindo para cá [ministério]. A partir daí, passei por outros desafios. O maior, a reforma da Previdência [cuja comissão ele presidiu].

Marun dança

O sr. acha que sua atuação na defesa do Cunha foi mais um mérito ou um demérito para a sua carreira política?
Não posso dizer que foram demérito coisas das quais eu não me arrependo. Se tivesse a mesma situação, eu faria de novo. Não defenderia [a tese que sustentou à época] para qualquer um. Mas para o Eduardo Cunha, que foi o grande líder do movimento que depôs a presidente Dilma, eu faria de novo.

O sr. acredita na inocência dele?
A inocência dele não foi julgada naquele momento. Se ele é culpado ou não, não foi julgado.

Qual é a expectativa do sr. em relação à disputa em 2018?
Vejo possibilidade de vitória de uma candidatura de centro ou centro-direita. Temos uma candidatura posta, do governador [Geraldo] Alckmin. Não estou dizendo que será nosso candidato, mas é uma candidatura que merece o nosso respeito. Temos outros nomes se posicionando. O ministro Meirelles [Fazenda], o presidente da Câmara, Rodrigo Maia.

O sr. não descarta a candidatura de Temer. Isso também depende da saúde dele?
Vejo com otimismo a saúde do presidente.

O sr. vê tudo com otimismo.
Não é um otimismo irresponsável. A situação é menos grave do que parece.

O sr. acredita na aprovação da reforma da Previdência?
Minha confiança passou a ser certeza. Parlamentares que se diziam indecisos passaram a se decidir em grande número favoravelmente.

Mas a contagem mudou?
Não fizemos uma contagem. Vamos fazer lá para o dia 15 [de janeiro].

Qual texto será aprovado? Essa terceira versão ou ainda será alterado?
Chegamos praticamente ao limite, mas não estamos nos recusando a ouvir. Governo de diálogo ouve, sem compromisso de atender reivindicações.

É válida a oferta de cargos e emendas em troca de votos?
Emendas têm que ser liberadas, são emendas impositivas. Podem ser liberadas antes as da situação que as da oposição? Talvez até possa. Sobre cargos, você acha que o presidente pode, sozinho, indicar um governo inteiro? Não pode. Ninguém tem essa capacidade. Só Deus. Você tem que receber conselhos, sugestões. Se você vai escolher um professor particular para o seu filho, você pede sugestão a amigo ou inimigo?

Sem a delação da JBS, o governo teria conseguido aprovar a Previdência?
Tenho a mais absoluta certeza. Se a delação não tivesse sido utilizada como instrumento de conspiração, já teríamos aprovado. Ela foi usada com o objetivo de derrubar o presidente da República.

Só houve delação e gravação porque o presidente aceitou conversar com Joesley.
Joesley, quando conversou com o presidente, era um dos maiores empresários do Brasil ou do mundo. O presidente -talvez isso seja até uma falha comportamental- é um homem muito aberto a receber as pessoas. Se vamos reduzir a isso o eventual equívoco praticado pelo presidente, não seria um equívoco que pudesse justificar a sua deposição.

O que o sr. diria ao Janot se o encontrasse hoje?
Tenta outra que essa não deu.

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RAIO-X

NATURALIDADE
Nasceu em Porto Alegre (RS)

FORMAÇÃO
É engenheiro civil e advogado

CARGO
É ministro da Secretaria de Governo

CARREIRA
Foi vereador de Campo Grande (MS) de 2005 a 2006; deputado estadual em MS de 2007 a 2014, sempre pelo PMDB. Elegeu-se deputado federal em 2014.


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