Folha de S. Paulo


Grupo Odebrecht tem pouco espaço para brigas pelo poder

eduardo anizelli/Folhapress
Fachada da sede da Odebrecht na zona oeste de São Paulo
Fachada da sede da Odebrecht na zona oeste de São Paulo

Não será fácil para Marcelo Odebrecht resgatar poder e influência sobre o grupo. Não apenas porque a sua pena o proíbe de assumir cargo de comando ou até dar palpite na gestão, mas porque as mudanças internas foram muitas durante a sua ausência.

Marcelo não deixou de ser admirado e respeitado pela maioria. A sua disciplina na prisão até causa certo orgulho.

No entanto, o processo de decisão é outro. Desde a sua prisão e a confissão organizada dos executivos, um dos projetos que mais tomaram tempo e dedicação na Odebrecht foi criar mecanismos que submetam a organização a escrutínio permanente. As informações são colegiadas.

Houve dança das cadeiras também. Os aliados mais fortes estão isolados e são vigiados por monitores externos.

Outro limitador é a situação financeira. Apesar de a fase crítica ter passado, a situação ainda é delicada.

Se Marcelo encampasse uma disputa entre acionistas para ampliar o poder de influência no conselho, por exemplo, poderia prejudicar a recuperação –e, pior, atrapalhar o desfecho do acordo de leniência, que vai bem e tende a ser concluído em janeiro.

O grupo começou a respirar após se desfazer de alguns negócios. O fundo canadense Brookfield, com outros investidores, por exemplo, ficou com os 70% que pertenciam ao grupo na Odebrecht Ambiental, da área de concessões de saneamento.

Tem feito, porém, um grande esforço para reestruturar a dívida da Odebrecht Óleo e Gás, o braço que atua no setor de petróleo e tem credores até no exterior.

A construtora, o coração do grupo, ainda está "machucada", para usar um termo de pessoas próximas à empresa.

Tem dificuldade para recompor a carteira de obras, não apenas porque a crise econômica minguou a oferta de projetos, mas porque o seu envolvimento na Lava Jato foi mais profundo que o de outras empreiteiras e ela encontra imensa resistência dos bancos para conseguir financiamentos.

Existe entendimento de que um sócio pode aliviar as desconfianças, e a empresa busca um parceiro.

Porém, ainda que tudo dê certo, até restabelecer uma carteira de obras e um fluxo de caixa que pareçam convincentes para os bancos, vai levar tempo.

Recuperaria fôlego só em 2019, na visão de um executivo que deixou o grupo.

Há também controvérsias em relação ao futuro da petroquímica Braskem, o bem mais precioso do companhia. Suas ações foram dadas em garantia à renegociação de dívidas com os bancos –e eles ainda podem pedir a venda dela.

A percepção é que Marcelo vai ponderar tudo isso porque, na cultura Odebrecht, mais importante do que ter poder sobre o grupo é preservar o grupo.

Editoria de Arte/Folhapress
DOIS ANOS E MEIO DE PRISÃOHerdeiro da Odebrecht é alvo da Lava Jato

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