Folha de S. Paulo


Líder do MTST critica 'intolerantes' em ato com show de Caetano Veloso

Em evento em comemoração aos 20 anos do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), com a presença de Caetano Veloso, o líder do movimento, Guilherme Boulos, afirmou neste domingo (10) que o país vive um momento em que "intolerantes saíram do armário". Segundo ele, os brasileiros saberão fazer com que eles sejam "varridos".

Boulos citou racistas e homofóbicos e disse que foi a intolerância que impediu show de Caetano no mega-acampamento do grupo no dia 30 de outubro, em São Bernardo do Campo, após veto da Justiça.

"O que conseguiram foi que um show para 7 mil pessoas em São Bernardo virasse um show para 30 mil no Largo da Batata", disse Boulos, que também criticou a proposta da reforma da previdência. A Polícia Militar não deu estimativa de público.

Caetano subiu ao palco ao lado de Maria Gadú, Pericles e Criolo. Ele fazia as vezes de um anfitrião, enquanto os convidados se revezavam no palco. Caetano destrinchou seu repertório de sucessos e mesmo canções aprazíveis tomaram conotações políticas.

Foram aplaudidos versos como o "grande poder transformador", de "Desde que o Samba É Samba", "gente é para brilhar, não para morrer de fome", de "Gente", faixa que planejava cantar em São Bernardo. No refrão de "Odeio", o público completava os versos com o nome do presidente Michel Temer. O cantor deixou o ato sem falar com a imprensa.

Artistas como a atriz Sônia Braga e políticos como o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) e o vereador Eduardo Suplicy (PT) estiveram presentes.

Avener Prado/Folhapress
Show de Caetano Veloso no largo da Batata, em São Paulo. Apresentação comemora 20 anos do MTST. Cantor se apresentou ao lado de Guilherme Boulo, líder dos sem-teto, e dos cantores Criolo e Péricles.
Guilherme Boulos, líder do MTST, durante o ato no Largo da Batata

Boulos, possível candidato à Presidência pelo PSOL, é um dos idealizadores do Vamos, movimento que nasce da busca de uma alternativa ao PT e é inspirado no Podemos espanhol. Caetano declara seu voto ao presidenciável Ciro Gomes (PDT).

Após integrantes do MBL (Movimento Brasil Livre) anunciarem que varreriam o Largo da Batata após o show de Caetano, o MTST se juntou para varrer a praça. "Pra tristeza de alguns que se dizem varredores nós vamos deixar o Largo da Batata limpo", disse Boulos.

PROIBIÇÃO

Caetano foi proibido de se apresentar em São Bernardo em apoio à ocupação de um terreno privado por mais de 7.000 famílias. Nas contas do MTST, é a maior ocupação nos últimos anos —a Copa do Povo, feita em Itaquera (zona leste) meses antes do mundial de futebol, tinha 3.500.

O movimento diz que o imóvel, da construtora MZM, estaria vazio há mais de 30 anos. A empresa afirma que, como "legítima proprietária do terreno desde 2008 e tendo seus direitos resguardados sobre sua propriedade, aguarda que a lei e a ordem judicial que determinou a reintegração de posse sejam cumpridas de forma pacífica".

No início deste mês, o MTST ocupou a sede da Secretaria de Estado da Habitação, no centro da capital paulista, em protesto contra a reintegração de posse determinada pela Justiça em São Bernardo. Na noite de sexta (8), o prédio foi desocupado.


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